Saúde e Beleza
Trauma

Quando uma mãe fica quatro anos sem dormir

Dom, 15/03/2020 - 14:40

O relato de uma mãe sobre o trauma de ter passado vários anos consecutivos sem conseguir dormir devido ao choro do filho.

Este é daqueles temas que simplesmente colocaria na gaveta, guardaria a sete chaves e tentaria esquecer, não fosse o tema que mais me marcou nesta aventura da maternidade.

No Dia Mundial do Sono, que se celebra a 16 de março, poderíamos bem fazer uma vénia a todas as mães, poderíamos até dedicar-lhe o dia e poderíamos até decretar feriado mundial para que elas pudessem repor as horas de sono perdidas… e nem mesmo assim conseguiríamos ser justos.

Roubaste-me quatro anos de sono… do profundo ao mais leve… simplesmente roubaste-me… e isto não tem forma bonita de se dizer. Fui ao limite, ao fundo…enlouqueci sem perceber. Fiquei muitas vezes fora de mim. «Ameacei-te» de várias formas e «excomunguei-te» a cada noite que passava. Já sei, podem abrir a minha sepultura e enterrar-me por proferir estas palavras, mas são a mais pura realidade e não, ninguém que se arrepende mais do que eu por ter tido tamanhos pensamentos e desejos.

Fui ao Inferno e desci muitas vezes perdida e sem rumo. Experimentem vocês passar quatro meses sem dormir uma noite… experimentem vocês passar a dormir 15 minutos e a acordar mais um par de horas, experimentem vocês estarem «podres» de cansaço e começar a ouvir chorar insistentemente quando só apetece colocar a almofada nos ouvidos e fazer-se de mercador…

As mães deste mundo sabem do que falo! Umas mais que outras é certo, mas a verdade é que isto do sono das crianças tem muito que se lhe diga.

Hoje olho para trás e aceito que não estava preparada para aquilo! Ninguém está preparado para ser privado de uma coisa que nos é essencial, mas eu não estava particularmente e isso refletiu-se em todas as noites que tive de me revirar para te conseguir acalmar. Choravas tu e chorava eu e disso nunca me irei esquecer. Cheguei ao cúmulo de te deitar e te deixar chorar sozinho, fechei a porta e sentei-me do lado de fora num pranto. Passaram cinco minutos e fui-te buscar, coloquei-te ao colo e jurei a mim mesma que depois daquela situação dormirias como achasses que era melhor, nem que para isso tivesses de dormir toda a noite agarrado a mim ou no meu colo, ou no peito do papá como tantas vezes fizeste.

Hoje olho para trás e percebo que abri demais os ouvidos e fechei demais o meu coração de mãe. Hoje percebo que me orientei pelos outros e não pela minha voz interior. Hoje percebo que exagerei nas minhas reações quando a única coisa que tu precisavas era da minha calma e da minha tranquilidade.

ERREI… e recrimino-me por isso…

Se ainda és filho único muito se deve a isto. Fiquei traumatizada. Lamento mas fiquei. E de cada noite que teimas em não adormecer estes fantasmas assolam-me e entro em pânico. Confesso que é uma situação mal resolvida e que, por tal, muito ainda está por fazer.

E muito mais haveria a dizer…

Mas sabes o que me deste em troca? A possibilidade de apreciar momentos contigo… a possibilidade de viver momentos de êxtase e fantasia… a oportunidade de te ver crescer… e a oportunidade de me certificar que qualquer sacrifício será bom em prol desta tua tranquilidade e do teu sorriso de menino de luz.

Todos os dias são bons para celebrar… o amor é para ser celebrado sempre sem receios ou medos…

Obrigada por me ajudares a crescer, contigo sou sem dúvida melhor pessoa e melhor mãe.

Texto: Liliana Silva, do blogue «Eu, o Microfone e a Mamã»

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