Fátima Negrão, mãe de Pedro Negrão, um dos seis jovens que morreram no mar do Meco numa praxe da faculdade, na madrugada de 15 de dezembro de 2013, continua a dizer que «enquanto o dux Gouveia não lhe responder às dúvidas», não «vai ficar de braços cruzados».
Passados seis anos da morte do seu filho Pedro, no mar do Meco, devido a uma praxe académica, como está a sua vida?
A minha vida nunca mais vai ser a mesma. O tempo vai passando e, no meu caso, os dias são cada vez mais difíceis. O Pedro está sempre presente no meu pensamento e cada vez mais o sentimento e a saudade vão sendo maiores e mais difíceis de lidar. Tento passar o maior tempo possível acompanhada ou ocupada e distraída para me alienar um pouco da presença do Pedro nas minhas memórias, no meu pensamento, porque tudo me faz lembrar o meu filho.
Em termos emocionais, tento o mais possível estar ocupada, para ser menos doloroso esse estado. Por outro lado, estar em convívio com pessoas ou estar na rua ou outra situação onde estejam jovens parecidos com o Pedro...fica muito complicado para mim porque até as lágrimas me vêm aos olhos. É mais forte que eu, não consigo conter. De repente, o Pedro desapareceu, sei que não o vou mais voltar a ver, é tão complicado.
Consegue imaginar o Pedro além das memórias que lhe ficaram dele antes da tragédia?
A memória do Pedro, o que ficou, é ele com 24 anos. Quando estou na rua ou noutro lado qualquer e vejo algum jovem que me faz lembrar o meu filho, é ele já com 30 anos, pois o Pedro faria este ano essa idade. Mas na nossa memória visual só existe realmente o Pedro até aos 24 anos, altura em que desapareceu no mar, é a última imagem que temos dele e vai ficar comigo até ao resto dos meus dias.
Como mãe, do que mais tem saudades?
O Pedro esteve mais anos comigo, foi um convívio mais direto, porque o meu outro filho mais velho, o Tiago, foi para Inglaterra mais novo. O Pedro tinha mais semelhanças comigo, era alegre, extrovertido, bom rapaz, tinha uma ligação mais presente, qualquer coisa que precisasse sabia que podia contar com a mãe, tinha em mim a sua maior aliada. Tenho saudades do Pedro ainda estar em casa aos 24 anos, embora já tivesse a vida dele, já trabalhava e já tinha praticamente terminado a faculdade.
Eu como mãe já estava descansada, ele já estava bem encaminhado na vida, com o seu projeto, tinha namorada e já estava a pensar ter uma casa para viver com ela. E as minhas saudades são do sorriso dele, do que me dizia, de tudo, de tudo...
Já desistiu de lutar por justiça? Ainda acredita que João Gouveia, o dux, o único sobrevivente da tragédia, deve conversar com os pais e explicar-lhes o que aconteceu naquela noite na praia?
Em julho fizemos contacto com o Tribunal de Setúbal e os pais foram chamados para nos dizerem que os seis processos estavam entregues a quatro juízes, mas que iam ser reduzidos a três e seriam redistribuídos. Estamos à espera de notícias sobre diligências marcadas. Ainda não há nada sobre o início do julgamento em que o João Gouveia vai ser ouvido. As respostas dele vão servir para os seis processos.
O que é que os pais pedem nesses processos?
Queremos ouvir o João em julgamento a responder a todas as dúvidas e questões que temos sobre aquela noite. Ele já podia ter respondido, mas ainda não o fez. Há muita contradição e não chegamos a conclusão nenhuma. Não queremos que aconteça nada ao João, só queremos que nos responda, ele que me diga o que aconteceu com o meu Pedro. Enquanto eu não o ouvir, não aceito ficar de braços cruzados.
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condena Estado a pagar indminização
á passaram seis anos, mas só agora os pais das vítimas começam a obter respostas. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH) considerou que a investigação à tragédia ocorrida na praia do Meco, a 15 de dezembro de 2013, onde morreram seis alunos da Universidade Lusófona, não respeitou as regras da Convenção Europeia e foi «ineficaz».
De acordo com o Jornal de Notícias, que cita o TEDH, a investigação começou demasiado tarde, não assegurando a integridade das provas nem tão pouco tendo o cuidado de garantir a recolha imediata de vários testemunhos importantes.
Assim, o Tribunal condenou o Estado português ao pagamento de uma indemnização de 13 mil euros a José Carlos Soares Campos, pai de Tiago Santos, jovem de 21 anos que foi arrastado por uma onda no areal da praia do Meco quando estava a ser praxado. O pai de Tiago Santos recorreu ao TEDH depois dos tribunais portugueses terem decidido arquivar o caso com a alegação de que não foi cometido qualquer crime naquela noite.
Texto: Alexandra Ferreira; Fotos: Impala
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