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«Tinha medo que isto não resultasse»

Rui Luís Brás emociona-se ao falar da adoção do filho

Sáb, 16/03/2019 - 16:20

Rui Luís Brás fala pela primeira vez sobre o papel mais importante da sua vida: o de ser pai. O ator adotou um menino em 2016.

Rui Luís Brás foi o mais recente convidado de Daniel Oliveira no programa Alta Definição, SIC. A poucos dias do Dia do Pai, que se comemora no próximo dia 19, terça-feira, o ator, de 51 anos, falou sobre a forte ligação que tem com o filho que adotou há três anos. 

O artista, que já interpretou inúmeros papéis na ficção, assume que o mais importante da sua vida é precisamente o de pai. Rui admite ter tido uma infância complicada. «Os meus pais foram para a Alemanha. Eu vivi com os meus avós. Era uma miúdo com uma fraca autoestima», começa por contar. 

Fazendo um gigante avanço no tempo, Daniel pergunta: «Chegar aos 50 anos, significa o quê?» «Senti-me vitorioso. Ainda estou cá, continuo a fazer o que gosto», responde, com um olhar orgulhoso. 

O princípio de AVC

Em 2007, a vida do ator mudou completamente, uma vez que teve um principio de AVC. «Não me preocupava com as horas de sono que dormia, com o tabaco que fumava. Foi complicado!» 

«Estávamos a gravar de noite. Fui para casa às 2 da manhã. Não conseguia dormir, fiquei no sofá a ver televisão. Às 4 da manhã comecei a sentir como se me estivessem a bater com um jornal ou uma folha enrolada na cabeça, e uma sensação de água morna a escorrer-me. A minha mão começou a mexer sozinha. Tive tempo de ir à casa de banho de hóspedes. Pensava que era uma quebra de tensão, tinha os lábios completamente roxos. Deixei de ver e fui a cambalear buscar um pacotinho de açúcar. Foi quando cai para o chão», relata.

«Lembro-me de pensar que tinha morrido e que não era justo para os meus pais»

«Lembro-me de pensar que tinha morrido e que não era justo para os meus pais. Acordei as 9 da manhã, gelado, no chão da cozinha. Como vivo no meio do nada, vivo literalmente no meio do campo, a aldeia mais próxima fica um bocado distante, não conseguia chamar o INEM, não tinha forças para isso. Fui-me deitar. Totó por completo», continua.

Só passado algumas semanas é que o ator se apercebeu do que tivera naquela noite, uma vez que trocava as palavras nos textos. «Em vez de 'casaco azul', dizia 'o gás está aceso'. Desatei a chorar. Foi quando associei tudo e percebi o que aconteceu. Fui fazer várias TAC e eletrocardiogramas», recorda. 

Perante tal situação, Daniel quetiona: «A noção de finitude abala?»

«Abala. Essencialmente depois de ter sido pai, antes não pensava nisso. Ele precisa de mim, eu tenho que durar», responde, seguro de si.

Rui Luís Brás adotou um menino em 2016

Rui Luís Brás revela que nasceu «decidido a ser pai». «Fui sempre adiando, para ter as condições certas. Para quê mais um no planeta só porque carrega o mesmo ADN do que eu? Temos biliões de seres humanos a mais, porque não salvar alguém? Levei a minha vida inteira a pensar: 'Quando é que tenho coragem de dar o passo?' Pai é o que cria.»

O artista teve «muito medo deste passo» [o de adotar]. «O facto de ir para a frente, acho que foi o relógio biológico a falar. Fui à associação sem compromisso», conta. 

«Deixei as pessoas saírem, fiquei para último. Não saí dali sem a papelada ficar toda tratada. Na segunda-feira seguinte estava tudo resolvido. Depois foram 6 meses de pesquisa sobre a nossa vida. Registo criminal, o que nos levou a adotar. Foi a melhor decisão da minha vida», continua.

O rosto televisivo adotou uma criança em 2016. Na altura, o menino tinha 12 anos. Rui não tem dúvidas: «O meu filho é um bebé grande. Necessitou de horar e horas de colo. Vi-o em sofrimento muitas vezes. Tinha medo que isto não resultasse. As primeiras noites foram muito complicadas. Os pesadelos. O pânico de que isto não fosse definitivo...»

«Será que vou amá-lo realmente?» Esta era a questão que pairava na cabeça do ator durante os primeiros dias. Ao fim de «3 ou 4 semanas, tudo passou». «El depois era realmente meu», assume.

«Ele chega e diz: 'Olá papá!'»

4 de janeiro de 2016. Este dia ficará para sempre gravado na memória do ator. «E se ele fugir? Ou eu? Estava tão nervoso», confessa.

«Ele chega e diz: 'Olá papá!'»

Passado uns tempos o menino disse ao rosto televisivo: «Tu estavas no meu destino, papá!»

Rui Luís Brás assegura que se a sua «vida teve alguma finalidade, foi esta». «Quero dar-lhe tudo o que ele não teve. Sou o melhor amigo dele, mas antes sou o pai. Ele está feliz. Tem mazelas que nunca vou curar, mas ele já é uma pessoa otimista», afiança.

«Preenchemos o vazio um do outro!»

Rui e o filho são «unha com carne». «Preenchemos o vazio um do outro», revela. Sobre os pais biológicos da criança, o ator revela que não interfere. «Por muito mal que lhe tenham feito, se ele quiser conhecer, é legítimo. Eu também faria o mesmo se fosse comigo. O problema não está nele, mas é isso que ele carrega», conta. 

O artista fez parte do elenco do filme Carga, ao lado de Sara Sampaio. «Ele queria muito conhecê-la. Foi a primeira vez que acordou antes de mim», diz, com um sorriso no rosto. 

Quando questionado, Brás revela que a frase mais bonita que o filho lhe disse foi: «Tu és o amor da minha vida, papá!»

«Não nos podemos chatear com os outros por pequenas coisas»

No fim da conversa, o artista teve tempo ainda de deixar outro desabafo. O tema estava relacionado com o perdão. «Não nos podemos chatear com os outros por pequenas coisas. Chateei-me com um amigo que morreu entretanto. Nunca mais falámos. Durante muito tempo senti-me mal. Aprendi a relevar coisas de menor importância!»

«Vejo-me a envelhecer ao lado de alguém. Agora as coisas são mais fáceis de perspetivar porque tenho o meu filhote. Para mim a vida é partilha. O Dia do Pai passou a ter um significado diferente. Ainda hoje não acredito, parece uma mentira. É demasiado bom», remata.

Texto: Redação WIN/Conteúdos Digitais; Fotos: Impala e Reprodução Instagram 

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