Nacional
Ruy De Carvalho

Fala sobre a morte e conta que fala com a mulher todos os dias

Sáb, 05/06/2021 - 19:00

Ruy de Carvalho foi o convidado de Manuel Luís Goucha no programa "Conta-me" deste sábado. O ator confessou ainda que se sente magoado com a TVI, mas que não fecha as portas ao canal.

Ruy de Carvalho foi o convidado do programa "Conta-me" deste sábado, 5 de junho, e Manuel Luís Goucha começou a conversa recordando uma frase recente do ator que o marcou: "Eles estão todos a ir embora". O apresentador quis que o veterano ator, de 94 anos, comentasse esta afirmação. 

 

"Fico muito sozinho. Os novos colegas são também muito bons, dão-me muito carinho, tratam-me com muita estima e amizade, mas tenho muita saudade daqueles que partiram, sobretudo quando são mais novos. Sinto uma dor muito profunda", respondeu Ruy de Carvalho, falando, de seguida, de Maria João Abreu, que morreu no dia 13 de maio: "Era uma belíssima colega, uma grande atriz e uma pessoa extraordinária. Era um encanto trabalhar e conversar com ela!" 

"Como lidas com esta ideia de que a vida acaba?", questionou o apresentador. O ator garantiu que não tem "problema nenhum em morrer". "Eu sei que morro, não fico cá para compota. Todos partimos, temos de saber partir e, sobretudo, não incomodar os outros enquanto estamos vivos. A morte é um segundo, por isso não vale a pena pensar nela. Adoro a vida, é para ser vivida, é para viver intensamente", afirmou.

No entanto, Ruy de Carvalho sente-se muito triste com o mundo dos dias de hoje. "O mundo está um caos, as minhas preces e orações não têm sido ouvidas. Acredito em Deus, sou um homem de fé. Sou um mau católico e um bom cristão... não vou tantas vezes à igreja, mas respeito muito", disse, levando Manuel Luís Goucha a perguntar ao convidado se conversa com Deus."Converso e muito através da minha mulher, que está lá ao lado dele", respondeu.

Ruy de Carvalho diz que fala com a mulhe todos os dias

Ruth, a mulher de Ruy de Carvalho, morreu há 14 anos, mas o ator garante que fala com ela todos os dias. Pelo meio, contou uma história caricata. "Uma senhora que cá veio [à TVI], daquelas que fala com 'o outro lado', convidou-me para ir ao programa. Quando sai de casa, falei para a fotografia da Ruth e disse: 'Olha, vê lá se não me apareces' [risos]. Quando lá cheguei, ela disse: 'Está aqui uma pessoa que quer falar consigo. A Ruth'. Eu fiquei para morrer. Ela não tinha falado com ninguém e foi buscar o nome da minha mulher", recordou. 

Ainda sobre o assunto, o ator disse que considera que a mulher não partiu: "Eu é que me vou encontrar com ela um dia. Está permanentemente dentro de mim. É um consolo saber que podemos encontrar colegas la em cima, que há lá uma companhia maravilhosa de teatro". O anfitrião da estação de Queluz de Baixo aproveitou para dizer que espera que "haja também uma cadeia de televisão", para quando chegar. "E vou ser entrevistado por ti, daqui a 30 ou 40 anos", brincou Ruy de Carvalho. 

"A 'nobreza' do teatro está a desaparecer? Irá desaparecer contigo e com a Eunice [Muñoz]?", perguntou Manuel Luís Goucha. O artista considera que "não" e que "há uma continuidade", que "vai ser boa". "Acredito na juventude", assegura. 

Apesar da mágoa, não fecha as portas à TVI

Por fim, o convidado do "Conta-me" revelou que se sente muito magoado com a TVI, onde trabalhou 14 anos, e explicou o motivo. "Não me dizerem nada... Senti uma tristeza muito grande de não me dizerem nada. Ao fim de 14 anos é doloroso, não é? Nunca cheguei tarde, soube sempre os textos... não havia qualquer razão para me mandarem embora sem me dizerem um 'obrigado'", desabafou.

Manuel Luís Goucha afirmou compreender a dor do ator, mas considerou que esta situação pode ser fruto da fase de mudanças que se vive no canal e que é algo que pode ser reversível. "Claro! E eu tenho uma estima muito grande pela equipa da TVI", garantiu o ator, revelando que a sua grande mágoa profissional é não poder voltar a trabalhar no Teatro Nacional: "Não podem lá trabalhar reformados ou velhos. Mandaram-nos embora. Sou reformado desde os 65, vê lá aos anos que já lá não trabalho".

Texto: Ivan Silva; Fotos: D.R.

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