Nacional
Rúben Semedo

Relata o terror vivido na prisão: «Podia tentar-me matar»

Qua, 03/07/2019 - 16:23

Rúben Semedo fala com Paulo Battista sobre os cinco meses na prisão: «Ameacei-o e ele denunciou-me»

Rúben Semedo foi o entrevistado de Paulo Battista na rubrica do Você na TV, De Ponto e Bola, desta quarta-feira, dia 3 de julho. O antigo jogador do Sporting esteve cinco meses preso, em Valência, Espanha, de fevereiro a julho de 2018, por alegadamente ter sequestrado, agredido e ameaçado um homem na sua residência, com uma arma ilegal. E este foi um dos temas mais marcantes da conversa.

Na altura, o futebolista jogava no Villarreal. «O que se passou na realidade?», começou por perguntar o alfaiate, um dos concorrentes do programa A Tua Cara Não Me É Estranha. 

«Deixei-me deslumbrar um bocadinho e deixe-me levar por ambientes e coisas que eu não me devia meter enquanto jogador profissional. Achava que podia fazer o que quisesse e que não haveria nenhum problema», responde.

«Ameacei-o e ele denunciou-me»

«O primeiro episódio foi passado em ambientes noturnos, passava lá muito tempo. Numa semana saía quatro, cinco vezes. Um dos problemas que tive foi numa discoteca. Na primeira vez discuti com um rapaz, da minha idade, mais ou menos. Ameacei-o por ele não me querer deixar entrar e ele esbarrou-se contra mim lá dentro, depois de entrar. Ameacei-o e ele denunciou-me, mas como também não haviam muitas provas e como nunca tinha tido um problema, as coisas morreram ali. A segunda também foi numa discoteca», continua.

Rúben Semedo revela, no entanto, que «a terceira foi a mais grave».

O jogador explicou o que o levou à cadeia e como era a vida lá. «Eu tinha um grupo de amigos em Valência, conheci-os lá. Eu vinha muitas vezes a Portugal e eles ficavam em minha casa ou ficavam com os meus carros. Eu confiava neles. Uma vez, pediram-me dinheiro emprestado e eu emprestei sem problemas. Foi em outubro, mais ou menos. Esteve três, quatro meses a enrolar-me», começa por contar.

Os problemas começaram a surgir. «Estive com ele e disse-lhe que sabia que me estava a enganar. Descobri através de pessoas que tínhamos em comum. Disse: 'Ou me pagas ou eu chamo a polícia e denuncio-te'. Ele já tinha cadastro por burla a jogadores, tráfico de droga, várias coisas.

«Dias depois cruzo-me com ele. Ele veio a minha casa para tentar falar. Eu exaltei-me e tivemos uma discussão. Ele pegou na ameaça que eu lhe fiz, foi à polícia e inverteu a história toda. Montou a história para ser eu o 'mau da fita'. Depois disso a polícia vai a minha casa, sou detido e acontece uma série de coincidências que não me ajudava em nada», revela. 

O craque confessa que demorou vários dias para «assimilar a ideia e acreditar que isto se estava a passar».

Jogador afirma que os reclusos são tratados «abaixo de cão»

Paulo Battista perguntou a Rúben Semedo se este se recordava do dia em que foi preso. «Isso nunca vou esquecer ou apagar da memória», atira.

«Vivia com mais duas pessoas. Um tinha tendências suicidas. É assustador pensar que a pessoa que está ao teu lado, com o mínimo material que tenha, se tente suicidar. Nas primeiras duas ou três noites não conseguia dormir. Pensava que se ele se ia tentar suicidar, também me podia tentar matar», recorda.

O desportista considera que os reclusos são tratados «abaixo de cão» e que nada podem fazer em relação a isso.

Ocupava o tempo a jogar futebol, dançar e treinar o corpo

Quando a mãe o foi visitar pela primeira vez, as lágrimas escorriam pela cara do jogador. No entanto, havia um vidro e um telefone a separá-los. «É a relação mais fria que existe no mundo. Estares à frente da pessoa e não lhe poderes tocar. No primeiro dia nem conseguíamos falar, só olhávamos um para o outro!» 

«Alguma vez pensaste que poderias ficar ali várioas anos?» A esta questão, o ex-jogador do Rio Ave respondeu afirmativamente. «Aliás, tenho um diário. Comecei a escrever ao terceiro mês. Sentia que era ali que podia desabafar. Sentia-me perdido, treinava. Dava muitas voltas, pensava muito», completa.

O entrevistado de Paulo Battista conta-lhe que ocupava o seu tempo na prisão de Picassent a jogar futebol, a dançar e a treinar o corpo. 

«Troquei de advogado e passadas umas semanas saí»

«Ao fim de cinco meses troquei de advogado e passadas umas semanas saí. É uma sensação incrível. Um dos dias mais felizes da minha vida foi quando sai. Voltei a usar um relógio sem ser o Casio, que era o que eu lá usava. Voltei a tomar banho numa banheira. Ver um espelho, porque lá não há», conta.

O jogador saiu em liberdade condicional, a troco de uma fiança de 30 mil euros. 

«Tudo o que eu passei fez-me melhor pessoa, melhor jogador. Isto nunca me abalou como pai. Os meus filhos e a minha mãe são os meus pilares. Todos os dias olhava para a fotografia dos meus filhos e eu prometi que nunca mais iria estar ausente.»

No fim da entrevista, Paulo Battista tinha uma surpresa preparada para o jogador. Tratava-se de uma mensagem de Gelson Martins,.que jogou com Rúben no «Fofó», Clube Futebol Benfica, que o deixou lavado em lágrimas.

Rúben Semedo assinou, há poucos dias, pelo Olympiacos da Grécia.

Texto: Redação WIN - Conteúdos Digitais; Fotos: Impala e reprodução Instagram 

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