Internacional
Portuguesa em Milão

«Vejo com grande tristeza as imagens do que está a acontecer em Portugal. Fiquem em casa!»

Qui, 12/03/2020 - 17:30

Paula Taveira é uma das inúmeras pessoas emigradas em Itália, que vê com tristeza a situação em Portugal devido ao coronavírus. Em declarações à NOVA GENTE, a portuguesa deixa um alerta.

Paula Taveira tem 46 anos e vive em Milão, uma das cidades italianas mais afetadas pelo Covid-19, mais conhecido por coronavírus. Está há quase três semanas com o marido e as filhas sem sair de casa. O marido trabalha numa multinacional de telecomunicações e teve a opção de teletrabalho e as filhas, de 12 e seis anos, estudam num colégio inglês e têm tido aulas online.

«Têm o registration às 08:30 e depois têm as pausas normais, como se tivessem em aulas, até às 16:00», começa por contar à NOVA GENTE. A cidade onde vive está no centro do maior foco de infetados com Covid-19, em Itália, e Paula viu-se na obrigação de tomar uma medida mais drástica para não ser infetada. Ainda assim, a portuguessa assume que o país não está totalmente parado.

«O país continua a funcionar naquilo que é básico. Continua a haver supermercados, farmácias. As faltas que existiram foram momentâneas e porque as pessoas, por pânico, correram todas aos supermercados. Mas, de resto, o básico da economia continua a funcionar. Não está bem tudo vazio. Vivo ao lado de um parque para cães e continua a haver muita gente que vem com os cães ao parque, o que fazem é manter a distância de segurança. Continua a haver alguma movimentação. Muito pouca. As pessoas continuam a ir ao supermercado, normalmente, a única coisa é que mantêm a distãncia de segurança dentro dos supermercados e não há muita gente no interior das lojas. Eles contam as pessoas que estão no interior e a outras ficam no exterior a fazer uma fila. Os restaurantes não estão a funcionar, mas os que conseguem, fazem entrega ao domicílio», relata.

Preocupada com Portugal

Após quase três semanas confinada ao espaço da sua casa, Paula Taveira admite que a tranquilidade se vai misturando com a preocupação, até porque o vírus é novo e continua em estudo. A tranquilidade oferecida pelo governo italiano tem sido fundamental numa altura destas.

«Nos últimos 12 anos passei por quatro países e quando cheguei a Itália, há um ano e meio, achei que o governo não seria dos melhores (tendo em conta tudo o que se está a passar na economia na Europa). Neste momento, digo que é um orgulho para os italianos terem o governo que têm e que tomou, e está a tomar, as decisões que tem tomado até ao momento. As pessoas tendem em desvalorizar… Uma das mensagens que o Conte dizia na conferência de imprensa (dirigida ao adolescentes e jovens, pois já se provou que é um dos meios de disseminação de tudo isto): "Já que não pensam em vocês, pensem nos vossos pais e nos vossos avós." Outra das mensagens que está escrita em vários sítios na cidade: "Aos vossos avós foi-vos pedido para irem à guerra a vocês só vos está a ser pedido para ficarem no sofá." O mundo não vai acabar, mas fiquem em casa.»

Esta portuguesa sugere que os portugueses olhem para Itália como um exemplo, pois acabará por acontecer em terras lusitanas o mesmo que se está a passar lá.

«Qualquer medida que seja tomada hoje só vai ter efeitos em 15 dias. O que sabemos é que o contágio é feito pela despreocupação das pessoas. E vejo com grande tristeza as imagens do que está a acontecer em Espanha e em Portugal. É o reflexo daquilo que já aconteceu aqui.  Em Itália, não tínhamos um exemplo, a não ser a China. Mas com o que se está a passar aqui em Itália, é com pena que vejo que os países não estejam a aprender com os erros que se fizeram aqui. Por isso, a minha mensagem para os portugueses é que convençam as pessoas a ficar em casa. Se as escolas não fecharem, os miúdos podem ficar em casa na mesma. Ninguém perde o ano por ficar em casa 15 dias. Se o governo não tem essa coragem, então que as pessoas a nível individual que a tenham. O problema é que se continua a fazer campanha política em cima de algo que é muito grave», concluiu.


Texto: Lídia Belourico

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