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Paula Marcelo

Atriz está sem emprego: "Tenho mandado currículos para vários sítios. Não é fácil"

Qui, 01/04/2021 - 13:50

Paula Marcelo vive uma fase de grande felicidade ao lado de Jorge Lopes, com quem se casou ha mais de um ano. Já o lado profissional ficou virado do avesso com a chegada da COVID-19.

Paula Marcelo casou-se há um ano e meio com Jorge Lopes e não esconde a felicidade da sua vida pessoal. Já o lado profissional ficou virado do avesso com a chegada da COVID-19. Sem projetos, lamenta a falta de apoios do Estado e de oportunidades na televisão.

Leia a entrevista completa a Paula Marcelo:

Está casada há cerca de um ano e meio. Qual o balanço destes primeiros tempos de casamento?
Tem sido muito bom, mas, entretanto, entrou a pandemia e ficámos com a vida virada do avesso. Todos nós, não é? Mas claro que o balanço é muito positivo.

Este confinamento tem sido um desafio para muitos casais. Na sua opinião, tem mais coisas boas ou más?
Não sei, sinceramente. Felizmente, não tivemos problemas nenhuns. Pelo contrário, procurámos estar sempre ocupados. Pintámos, remodelámos… Ao principio, assustou-me, confesso, e por isso é que tivemos sempre a preocupação de nos ocuparmos. Puxámos pela imaginação e foi muito giro. Eu ensinei-lhe umas coisas, ele ensinou-me outras…

Casamento à parte, como é que tem lidado com esta pandemia? Está a ser difícil?
Sim, muito difícil. Não é fácil para ninguém. O maior receio é que toque a um dos nossos e, depois, ver o estado em que isto está… É essencialmente o medo.

Como é que está a sua situação em termos de trabalho? Fazia muito teatro e os teatros estão fechados...
Pois. Nós estreámos uma peça no dia 7 de janeiro e iríamos ficar até 14 de fevereiro. Mas, entretanto, parou. Parámos e não voltámos. Nem há perspetivas de regresso.

Contando com o primeiro confinamento, pode dizer-se, então, que a Paula está sem trabalhar há praticamente um ano.
Sim. Trabalhava uma semana de vez em quando, quando abriam um bocadinho as portas… Trabalhávamos às sextas e aos sábados, depois só às sextas, até que findou. E trabalhar um dia por semana, e à bilheteira, ainda por cima, não é nada. Mesmo com os teatros a funcionar, muitas pessoas tinham receio de ir ver espetáculos.

Sentia as salas mais vazias?
Não notávamos isso. Tivemos todos os cuidados, cumpríamos todas as regras, e estava a subir em termos de público. As pessoas cumpriam.

O seu marido também está ligado ao espetáculo?
Não.

Para já, não tem perspetivas para voltar a trabalhar?
Nada.

Sendo atriz há tantos anos, porque é que não faz televisão? Uma novela, por exemplo…
Não sei. É uma coisa que eu me questiono.

Mas gostava?
Eu sou atriz. Gosto muito de teatro, mas, como é óbvio, a televisão dá-nos outra visibilidade e um ordenado que o teatro não dá. Por isso, claro que gostava. Fiz um casting há uns dois anos, mas não fiquei. Disseram que gostaram muito, mas que ficava para a próxima.

Porque acha que não é escolhida?
Não sei. Houve uma altura em que pensei que a minha imagem estava um bocadinho desgastada por causa dos "Malucos do Riso". As pessoas diziam que eu estava muito colada a esse projeto. Mas os "Malucos do Riso" já acabaram há tantos anos… Por isso, não sei a que é que eu estou colada. Olhe, estou colada ao desemprego [risos].

Como é que isso a faz sentir?
Não tenho nenhum estado de espírito em relação a isso. Se eu não faço uma coisa, faço outra. Agora não, porque não posso, claro. Está tudo fechado e não tenho nada a que me agarrar. Mas, normalmente, não sou de baixar os braços. Já fiz um bocadinho de tudo e não tenho medo de fazer absolutamente nada. E tenho mandado currículos para vários sítios.

Mas está à procura de trabalho, mesmo que não seja como atriz?
Sim, sim. Mas não é fácil, também há o outro lado. "Ah e tal, como é atriz, não precisa", ou então: "É atriz, não sabe fazer isto." Mas nós adaptamo-nos a tudo.

Já concorreu a que tipo de trabalhos?
Ainda há pouco tempo para uma escola, em Lisboa. Também mandei um currículo para o Leroy Merlin, e estou sempre a ver nos sites das câmaras municipais ou das juntas de freguesia perto da zona onde moro.

Teve alguma resposta?
Não. Entretanto, entrámos em confinamento e pronto… Ninguém está a contratar ninguém.

Qual é a sua perspetiva de futuro? Acredita que no verão as coisas possam melhorar?
Não. Neste momento, a nossa única perspetiva de futuro é sobrevivermos a isto. É tentarmo-nos resguardar o mais possível do vírus, tentarmos resguardar os nossos e tentarmos sobreviver. Depois, logo se verá. Em termos de trabalho, não há perspetivas nenhumas. Em termos de saúde, é um totoloto. Vou ao supermercado o menos possível, escolho os que têm menos gente, quando há muita gente à porta, não vou… e, pronto, é assim. 

O seu marido também está em casa?
Não. Está a trabalhar.

Como é que se entretém sozinha?
Faço as coisas da casa, entretenho-me com os meus bichos… É o que tenho feito.

Estando sem trabalho, recebeu algum apoio do Estado?
No primeiro confinamento, o meu pedido à Segurança Social foi indeferido, embora tivesse tido uma quebra de rendimento muito grande. Não sei qual é o critério deles em termos de perdas. Agora, fiz um novo pedido e ainda estou à espera da resposta.

Qualquer ator que esteja sem trabalho pode pedir esse apoio?
Tinham dito que bastava provarmos que a peça em que estávamos a trabalhar tinha sido cancelada devido à COVID. Como se alguém tivesse de provar alguma coisa, porque eles próprios [o Governo] fecharam o teatro. No primeiro confinamento, estava a fazer a peça Os Impagáveis, e parámos logo. Desde aí, tenho atividade aberta, mas não faço nada e ainda pago 20 euros mensais à Segurança Social, só por ter atividade aberta. Esses nunca foram perdoados. Ora, se sabem que este sector não pode trabalhar, isso até devia ter sido suspenso automaticamente.

Esse pedido que fez no primeiro confinamento foi indeferido porquê?
Não me deram nenhuma razão. Foi simplesmente indeferido. E agora vou tratar disso onde e com quem? Vou discutir o quê?

Esses apoios serão de que valor?
Olhe, eu tive conhecimento de colegas que receberam apoio de 60 euros por mês. Como é que se vive com 60 euros por mês?

Estava a tentar receber a pensão de viuvez do Camilo de Oliveira, que nunca recebeu porque não eram casados. Chegou a conseguir?
Não, desisti. E como depois casei, também ia acabar por perdê-la na mesma. 

Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: Rui Tavares e reprodução Instagram

(Entrevista originalmente publicada na revista nº 2320, de 11 a 17 de março, da Nova Gente)

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