Nacional
O relato angustiante da jornalista da TVI

A pivô da estação de Queluz de Baixo ficou dias sem saber dos familiares

Qui, 21/03/2019 - 20:20

Duas irmãs de Conceição Queiroz vivem na Beira, cidade moçambicana devastada pelo ciclone Idai. A pivô da TVI esteve dias sem ter notícias dos familiares.

O ciclone Idai, com fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora, atingiu a Beira, em Moçambique, no passado dia 14 de março, deixando os cerca de 500 mil residentes daquela que é a quarta maior cidade do país sem energia e linhas de comunicação. Já esta quinta-feira, o número de mortos subiu para 217 e são cerca de 15 mil as pessoas que aguardam resgate. O presidente moçambicano, Filipe Nyusi, diz que as vítimas mortais podem ser mais de mil.

A jornalista da TVI Conceição Queiroz assistiu ao desastre natural à distância, mas «de coração apertado». O «núcleo duro» da sua família vive nesse país e a pivô, que aí nasceu, esteve sem conseguir contactá-lo. «Tenho duas irmãs minhas lá. Tenho tios, sobrinhos… Todos lá, entre a Beira e o Maputo», conta ao site da Maria. Foram «dias de angústia» até ter notícias, por telefone, das irmãs Anabela, de 47 anos, e Dina, de 48, acrescenta.

«Estive três dias sem saber nada da Anabela e quatro sem notícias da Dina – só ontem [quarta-feira, 20 de março] consegui saber que está bem»

As tentativas de contacto começaram assim que surgiram as primeiras informações sobre a passagem do ciclone. «A família na Beira era o que mais me preocupava», prossegue Conceição, que tem ainda uma terceira irmã em Maputo, uma quarta em Londres, Inglaterra, e uma quinta em Portugal.

«Uma das minhas irmãs da Beira, a Anabela, tinha uma vivenda junto ao mar, em frente à praia. Conseguiu abandonar a cidade antes do pior. Veio o ciclone e destruiu a casa. Ainda bem que ela se antecipou», desabafa, referindo que a familiar permanece, «neste momento, fora da Beira, numa outra cidade». «Está com as filhas e com o meu tio com quase 100 anos, o irmão mais velho do meu pai… Com quase 100 anos e não tem na memória outro ciclone que tenha feito estragos como este!».

Conceição refere ainda que Anabela «tem um sentido de humor único», o que lhe permite ultrapassar estes momentos mais facilmente. «Ela é do meu signo. Gémeos como eu. Personifica essa leveza e ao mesmo tempo o espírito de sobrevivência necessário. Ela vai reconstruir a casa dela. Tenho a certeza. É uma mulher prática», refere ainda a jornalista.

«Tive imenso apoio na TVI»

Durante os dias em que não soube nada da família, Conceição Queiroz, de 45 anos, conseguiu manter o «sangue frio». Ajudaram-na o «imenso apoio» de quem esteve a seu lado. «O meu diretor [Sérgio Figueiredo], os colegas da TVI… O carinho do público nas redes sociais. Foi incrível. Estava toda a gente sensibilizada e preocupada e é bom sentir isso», conta a pivô ao nosso site.

«Estive a apresentar os noticiários nesses dias de aflição. Cada vez que fazia ligação em direto para Moçambique era de coração apertado. Nos intervalos andava agarrada ao telefone a falar para o mundo!»

Desde o realizador na regie até os repórteres de imagem e assistentes de estúdio, Conceição garante que o apoio foi incondicional. «Estavam todos comigo, a sentirem a minha preocupação. Quando disse ao meu diretor que tinha, finalmente, notícias, ele ficou tão feliz como eu», recorda.

Ainda assim, a jornalista da estação de Queluz de Baixo chegou a pensar no pior. «Por pouco pensei, sim… Passou-me o pior pela cabeça, mas conheço bem cada um dos meus irmãos e sabia que estavam vivos. No fundo sabia. Sentia isso», confessa.

«O mau tempo não acabou. A luta também não»

Sobre os próximos dias, adianta que está «tudo em aberto», incluindo a possibilidade de se deslocar a Moçambique para ajudar no que puder. «Eu amo esse país. Nasci e cresci lá!», justifica.

E, apesar de mais «aliviada» por saber que está tudo bem com os familiares, Conceição Queiroz deixa o alerta: «O mau tempo não acabou. A luta também não».

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Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: reprodução redes sociais e arquivo Impala

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