Mesmo nos países onde se verificam os índices mais positivos de desigualdade no espaço de trabalho continua a existir uma predominância masculina: na França, 56% dos postos de trabalho em conselhos de diretores pertencem a homens, enquanto que na Noruega o número se fixa nos 60%.
São dados estatísticos incontornáveis que apontam para uma evidência preocupante: as mulheres ainda têm muita dificuldade em chegar a posições de poder. No entanto, um estudo de 2019 comprovou que as equipas profissionais que integram um número justo de mulheres registam níveis de produtividade 21% superiores à média. A desigualdade de género no mercado de trabalho só pode por isso ser explicada por fatores sociais, como a tradição, o preconceito, ou a falta de soluções para lidar com questões como a gravidez.
Perante este cenário, a Kellogg School of Management, da Universidade de Illinois, decidiu criar uma aula especial dedicada a mulheres e ao seu papel enquanto líderes do futuro. A aula integra 99 participantes e foi destacada numa notícia publicada pela Reuters, uma das mais prestigiadas agências noticiarias do mundo. A grande novidade é a inspiração por detrás do curso: nos Estados Unidos, as mulheres estão a aprender mais acerca de liderança com a ajuda... do poker.
O poker como solução para a desigualdade no mercado de trabalho
Tal como acontece com a maior parte dos setores profissionais, o jogo do poker também é dominado por homens. O número de mulheres que joga poker tem vindo a aumentar de forma considerável nos últimos anos, mas basta assistir a um torneio de poker para perceber que os homens continuam a representar a avassaladora maioria. Em Portugal, cada vez mais pessoas têm vindo a aprender como jogar poker de modo a passar o tempo livre. Mas a maior parte dos jogadores de poker ainda vê o jogo como um mero divertimento, não como uma maneira de aprender a tomar melhores decisões ou a correr riscos de forma mais inteligente. É neste ponto que entra a professora, investigadora, e especialista em processos de negociação Victoria Medvec.
Medvec é uma das tutoras do curso de liderança da Kellogg School of Management e ela não tem dúvidas de que aprender a jogar poker pode refletir-se de forma extremamente positiva na posição das mulheres no mercado de trabalho. É por isso que o curso de liderança para mulheres da Universidade de Illinois tem no poker a sua grande inspiração. As 99 mulheres que decidiram participar no curso gratuito estão efetivamente a aprender a jogar às cartas, sendo que certas figuras femininas de destaque do poker, como a jogadora profissional Melanie Weisner, já se juntaram ao leque de professoras convidadas.
Mas pode o poker realmente ensinar as mulheres a tornarem-se melhores líderes?
De acordo com Medvec, não existem dúvidas de que o clássico jogo de cartas possui um papel pedagógico extremamente importante. Afinal, o poker é um dos poucos jogos que engloba três fatores comuns a todas as posições de liderança no espaço de trabalho: a capacidade de tomar boas decisões, a coragem para arriscar e a capacidade de controlo emocional.
Porquê o poker?
Muskan Sethi tornou-se famosa no mundo do poker depois de se ter tornado na primeira jogadora profissional da Índia. O percurso de Sethi foi longo e difícil: Sethi teve não só de lidar com o machismo da comunidade de poker, como com o ceticismo da sua própria família, que não acreditava que fosse possível fazer uma carreira no poker. No entanto, Sethi não tem dúvidas acerca do papel que o poker pode representar no mercado de trabalho. Numa entrevista ao site YourStory, Sethi afirmou que os bons jogadores de poker têm melhores hipóteses de arranjar um bom emprego em Wall Street. Mas porquê?
Ganhar no poker e ocupar uma posição de liderança parecem duas coisas completamente diferentes. Mas os laços que unem as duas atividades são maiores do que parecem. O poker é um jogo em que, fundamentalmente, os jogadores são forçados a tomar decisões rápidas com base numa série de diferentes fatores: os bons jogadores de poker têm que fazer uma avaliação detalhada de tudo o que está a acontecer na mesa de jogo. Saber identificar o estado emocional de cada adversário, por exemplo, é um pouco como conhecer a disponibilidade de uma equipa de trabalho - sem dúvida uma das qualidades fundamentais que associámos a um grande líder.
Não ter medo de tomar riscos também é muito importante para chegar a posições de poder no mercado de trabalho, e algumas pessoas acreditam que as mulheres ainda não têm tanta experiência para lidar com o risco como os homens. Neste sentido, o poker pode oferecer-nos lições valiosas no que à interpretação do risco diz respeito: a ideia de que não há recompensa sem risco faz parte da natureza do jogo do poker e desempenha um papel semelhante no ambiente de trabalho.
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