Nacional
O desaparecimento de Maddie

As 48 perguntas da PJ às quais Kate McCann nunca quis responder

Sáb, 16/03/2019 - 21:20

Kate e Gerry abandonam Portugal depois de serem constituídos arguidos no caso do desaparecimento da filha Madeleine McCann, em 2007.

Depois de Eddie ter estado no apartamento onde os McCann passaram férias, e de ter reagido em dois locais, sinais de que tinha estado ali um cadáver, é a vez de a cadela Keela entrar. Keela está treinada para identificar vestígios de sangue. Esta cadela mostrou interesse nos mesmos locais que o cão Eddie. Ao terceiro dia de trabalhos na Praia da Luz, no Algarve, os cães são também levados à casa onde se hospedavam os McCann com os filhos gémeos. Eddie, o cão que detectava cadáveres, alertou para o peluche deixado para trás pela menina.

Eddie, o cão que detectava cadáveres, alertou para o peluche deixado para trás pela menina

Jim Gamble, ex-diretor executivo do Centro de Proteção Infantil e Proteção On-line (CEOP), uma unidade policial afiliada à Agência de Crime Organizado Grave (SOCA) no Reino Unido, diz, taxativamente, que suspeitou dos pais desde o início da história. «Estatisticamente falando, é mais provável terem sido os pais ou alguém próximo da criança», afirma.

Desaparecida há 90 dias

Nesta altura, e com novas provas que podiam indicar um envolvimento dos McCann no desaparecimento da filha, as Autoridades portugueses pedem a Crime, o treinador de cães, que investigue os carros usados pelos McCann e pelos amigos nessas férias. Cerca de 20 viaturas foram investigados. Dos dez que farejou, Eddie ladra ao pé da porta do condutor de um Renault cinza, utilizado pelos McCann. Keela, a cadela do sangue, também sinaliza vestígios suspeitos. E alerta ainda para qualquer coisa no lado direito do porta bagagens.

Os cães forenses foram ainda usados em pertences dos McCann. O cão reagiu a roupas de Kate, sendo estas apontadas como tendo odor a cadáver. Justine McGuinness, relações públicas dos McCann, acaba por pedir ajuda a um colega, uma vez que os pais de Maddie estavam debaixo de fogo. Esta nova figura, David Hughes, leva os McCann a um programa católico de domingo.

Desaparecida há mais de 100 dias
Nesta fase, as acusações ao casal começam a escalar. Há artigos que implicam que o casal sedou a filha e os britânicos vêm-se obrigados a reagir. Em entrevista a Sandra Felgueiras, à data, negaram ter dado aos filhos qualquer tipo de medicação. No entanto, Anthony Summers, autor do livro À Procura de Maddie, recorda que nas horas seguintes ao desaparecimento, apesar de todo o alvoroço, barulho e pessoas a entrarem e a sairem do quarto de onde desaparecera a menina, os dois irmãos continuaram a dormir profundamente.

«Saíram dali para outro apartamento ainda a dormir», recorda Gonçalo Amaral. Ao The Sun, o pai de Kate dava uma entrevista onde admitia que a filha pudesse ter dado Calpol a Madeleine. Calpol é um medicamento para crianças contra as dores e para ajudar a dormir.

A 4 de setembro, as Autoridades portugueses recebiam os resultados iniciais das provas científicas que tinham enviado para o Reino Unido, para análise. Davam como garantido que havia sangue de Maddie na mala do carro dos McCann. Kate é então chamada à PJ de Portimão e à sua espera tinha não só uma horda de jornalistas como muitos populares. O interrogatório duraria cerca de 11 horas. Na manhã seguinte, teve de voltar. Foram-lhe colocadas mais de 40 questões que indiciavam que ela estava relacionada com o acidente fatal da filha e que tinha ocultado a sua morte. Recusou-se a responder a todas. Foi constituída arguida.

As questões a que Kate McCann recusou responder

1. No dia 3 de Maio de 2007, pelas 22h00, quando entrou no apartamento, o que viu, o que fez, onde procurou, o que manuseou?

2. Procurou dentro do armário do quarto do casal? (disse que não respondia)

3. (Exibidas duas fotografias do armário do seu quarto) Pode descrever o seu conteúdo?

4. Por que razão o cortinado por detrás do sofá defronte da janela lateral (cuja fotografia lhe foi exibida) está mexido? Alguém passou por detrás desse sofá?

5. Quanto tempo demorou a busca que fez no apartamento a seguir à detecção do desaparecimento da sua filha Madeleine?

6. Por que disse desde logo que Madeleine fora raptada?

7. Partindo da premissa de que a Maddie havia sido raptada, por que deixou os gémeos sozinhos em casa para ir ao Tapas para dar o alarme? Até porque o suposto raptor podia ainda estar no apartamento.

8. Por que não perguntou aos gémeos, naquele momento, o que havia acontecido à irmã ou por que não lhes perguntou mais tarde?

9. Quando deu o alarme no Tapas o que disse concretamente e quais as palavras?

10. O que aconteceu depois de dar o alarme no Tapas?

11- Por que foi avisar os seus amigos em vez de gritar da varanda?

12. Quem contactou as autoridades?

13. Quem participou nas buscas?

14. Alguém fora do grupo, nos minutos seguintes, ficou a saber do desaparecimento de Maddie?

15. Alguma vizinha lhe ofereceu ajuda após o desaparecimento?

16. O que significa a expressão ‘we let her down’?

17. A Jane referiu-lhe ter visto um homem com uma criança naquela noite?

18. Como foram contactadas as autoridades e que força policial foi avisada?

19. Durante as buscas, e já com a presença policial, em que locais foi procurada Maddie, como e de que forma?

20. Por que é que os gémeos não acordaram durante essa busca ou quando foram para o piso superior? 21- Para quem telefonou após os factos?

22. Ligou para a SKY News?

23. Sabia do perigo de ligar para a Comunicação Social, porque isso podia influenciar o raptor?

24. Pediram a presença de um padre?

25. Qual o modo de divulgação do rosto de Madeleine, se fotografia, se outros?

26. É verdade que durante a busca ficou sentada na cama de Maddie sem se mexer?

27. Qual o seu comportamento naquela noite?

28. Conseguiu dormir?

29. Antes da viagem a Portugal fez algum comentário sobre um mau pressentimento ou um presságio?

30. Qual o comportamento de Madeleine?

31. Maddie sofria de alguma doença ou tomava medicação?

32. Qual o relacionamento de Madeleine com os irmãos?

33. Qual o relacionamento de Maddie com os irmãos, amigos e os colegas de escola?

34. Quanto à sua vida profissional, em quantos e em quais hospitais trabalhou?

35. Qual a sua especialidade médica?

36. Trabalhava por turnos, em urgências ou noutros serviços?

37. Trabalhava diariamente?

38. Em determinada altura deixou de trabalhar? Porquê?

39. Os filhos gémeos têm dificuldade de adormecer, são irrequietos e isso provoca-lhe intranquilidade?

40. É verdade que em certas alturas se sentia desesperada pela atitude dos filhos e que isso a deixava muito intranquila?

41. É verdade que em Inglaterra chegou a pensar entregar a guarda de Madeleine a um familiar?

42. Em Inglaterra, dava medicação aos filhos? Que tipo de medicação?

43. No auto foram-lhe exibidos filmes de inspecção cinotécnica, com carácter forense, onde se pode observar a marcação por parte destes relativamente a indicações de odor a cadáver humano e vestígios hemáticos também humanos e somente de carácter humano, bem como todos os comentários do perito responsável. Terminada a visualização, e após sinalização de odor de cadáver no seu quarto junto ao armário e por detrás do sofá encostado à janela da sala de estar, disse que não podia explicar nada mais do que já referira?

44. Também foi assinalado, pelo cão de detecção, sangue humano por detrás do sofá. Disse que não podia explicar nada mais do que já referira.

45. Assinalado o odor de cadáver proveniente da viatura que alugaram um mês depois do desaparecimento disse que não pode explicar nada mais do que já referiu?

46. Assinalado o sangue humano na mala do veículo disse que não pode explicar nada mais do que já referira?

47. Confrontada com o resultado da recolha de ADN de Maddie, cuja análise foi efectuada por um laboratório britânico, por detrás do sofá e da bagageira do veículo, disse que não pode explicar nada mais do que já referira?

48. Teve alguma responsabilidade ou intervenção no desaparecimento da filha?

Gerry é mais tarde chamado para ser ouvido como testemunha. Acaba também como arguido

«Deixar uma criança sozinha, num local desconhecido durante horas e horas, várias noites durante uma semana, é negligência», diz Gonçalo Amaral, relembrando uma altura em que Kate e Gerry eram mundialmente criticados por terem deixado os filhos sem vigilância. Gonçalo Amaral afirma que o casal teve medo de efectivamente ser condenado em Portugal, e portanto saiu do país, com os temos Sean e Amelie.

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