Sorriso fácil, gargalhada constante, rei das palhaçadas. Esta é a tua imagem de marca na televisão. Mas há um outro lado, solidário e preocupado, que a maior parte das pessoas que te veem desconhece. O que é que te preocupa mais?
O futuro das minhas filhas. A partir do momento em que fui pai, há 11 anos, com a Luísa, tudo mudou na minha vida. Eu sei que isto parece um lugar-comum, mas quem é pai sabe bem que é verdade. Posso dizer-te que me preocupa o estado a que o País chegou, as dificuldades das pessoas, as duas guerras a que assistimos, impotentes, à nossa frente. Mas tudo isso está ligado a elas, ao futuro delas, ao bem-estar delas.
O que é que muda, afinal?
Muda o foco da nossa vida. O centro da nossa vida passa a ser o bem-estar das minhas filhas. Desde que elas estejam bem, eu e a mãe estaremos bem. Todos os outros problemas à volta, aqueles que, muitas vezes, nós hiperbolizamos, tornam-se mais pequenos quando somos pais.
Tens 46 anos, eu 49, portanto somos da mesma geração. Proponho-te olhar para trás, para o nosso tempo de juventude. Era mais fácil crescer naquele tempo em que brincávamos na rua, ou agora que temos tudo à nossa disposição?
[pausa] Posso correr o risco de ser injusto, mas acho que no nosso tempo havia mais empatia. Procurávamos mais a reconciliação. Havia mais respeito do que nesta geração. Não critico esta geração, até acho que eles têm uma maior proatividade do que nós tínhamos.
Achas?
Acho, acho que eles esperam muito menos que as coisas aconteçam. Não achas?
Não estou seguro disso, confesso. Mas as generalizações são sempre difíceis e perigosas. No que toca à educação das tuas filhas, como tentas mudar essa perceção que tens?
Procurando incutir-lhes a educação que os nossos pais nos deram a nós: o respeito e a empatia pelo próximo.
Elas têm noção disso já?
Têm, porque eu e a Joana tentamos lá em casa passar essa mensagem. Para sermos respeitados, temos de nos dar ao respeito. E saber respeitar os outros. Até dando como exemplo o próprio dia-a-dia delas. Quando elas estão a discutir, procuramos mostrar-lhes que, se uma se colocar no lugar da outra, provavelmente vai perceber as razões da zanga. E isso é meio caminho andado para a resolver. Mas atenção, nós temos muito a preocupação de não acelerar o processo de crescimento. Elas são duas crianças e têm de agir como tal. Não quero nada que elas tenham pressa em crescer.
Tu não tiveste?
[risos] Achas? Olha para mim [risos]. O João Mota, que foi o meu mestre no teatro, estava sempre a dizer para não termos pressa de crescer. Mas isso, que era dito para o lado profissional, acho que se deve aplicar também na nossa vida.
Como é que elas olham para o teu lado criança?
Às vezes de uma forma muito crítica [gargalhada]. Às vezes dizem-me: “Oh pai, estás a ser estranho!” [risos]. Mas depois gostam das brincadeiras. E eu já tenho as minhas dúvidas, nessa nova fronteira da sua intimidade, do seu crescimento e de ganharem alguma autonomia, até onde é que eu posso ir com a minha brincadeira. Há um espaço que tenho de saber respeitar.
Elas já reivindicam esse espaço?
Já, já.
E como é que reages a isso?
[pausa] Às vezes, custa-me. A Luísa tem 11 anos e já tem uma autonomia grande. Elas crescem muito depressa. Eu gosto de me aperceber dessa autonomia, mas não escondo que me angustia um bocadinho [risos].
Leia a entrevista completa na edição da NOVA GENTE que já está nas bancas.
Texto: Nuno Azinheira; Fotos: Tito Calado
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