nacional
Marta Cruz

'Seria melhor o meu pai ter morrido'

Sex, 11/11/2011 - 16:18

A filha de Carlos Cruz resolveu passar para o papel todas as emoções que viveu durante os últimos oito anos, provocadas pelo envolvimento do pai no processo Casa Pia.

Esta é a primeira vez que Marta Cruz abre o coração sobre o envolvimento do pai no processo Casa Pia. Carlos Cruz já foi considerado culpado e espera agora pela decisão do recurso que interpôs em tribunal. O caso remonta a 2003, quando o conhecido apresentador de televisão foi acusado de abuso sexual por alunos da instituição. A partir de então, a família viveu um pesadelo e Marta resolveu descrever em livro todas as emoções sentidas nos últimos anos.

“O meu objetivo maior é mostrar a todos quem é o Carlos Cruz, como vivia e como esta mentira acaba com qualquer pessoa, independentemente dela fazer ou não parte do processo”, explica Marta. Para a jovem, o processo Casa Pia foi arrasador, mas não desiste de provar a inocência do pai que, segundo a própria, continua cheio de força para lutar até ao fim. “A essência, os valores e os princípios dele mantêm­-se”, garante. O livro As Outras Vítimas conta ainda com depoimentos de Raquel Rocheta, Marluce, Martim e Roberta (os filhos mais velhos de Cruz) e dos advogados Serra Lopes e Ricardo Sá Fernandes.

“Eu sou a Marta. Fui eu que escrevi o meu depoimento. Não foi fácil. Publico aqui alguns momentos meus que nunca foram partilhados, nem sequer com os meus pais. Relembrar não foi simples, mas foi uma forma de ajudar a cicatrizar a ferida. Passados oito anos e alguns meses de processo, é a primeira vez que exteriorizo estes sentimentos, estes pensamentos e estas emoções. Espero que sejam compreendidos.”

“Antes de ser preso, o meu pai chamou­-me a casa para conversarmos. (...) Mais estranho ainda foi saber que ele também queria falar com o meu irmão... Tenho uma imagem nítida na minha mente: a de ver o meu pai sentado no sofá da sala, pedir­-me para me sentar e ouvi­-lo com atenção. Assim fiz: sentei­-me e calei­-me. Pressenti que dali vinha bomba e lembro­-me bem de começar a suar das mãos e de sentir o coração começar a bater com mais força. Disse­-nos que algo de grave estava a acontecer e que o seu nome estava envolvido num escândalo. Não percebi à primeira e pedi que me explicasse melhor. Ele contou que alguém tinha dito que, alguns anos antes, ele tinha abusado sexualmente de algumas crianças e que isso era totalmente mentira. Disse que ia defender­-se e que ficássemos calmos porque tudo iria ser resolvido. Não abri a boca, subi a correr para o meu quarto (o quarto que eu tinha em casa dele) e comecei a chorar sem parar. (...) Nada fazia sentido para mim.”

Leia todos os pormenores na edição desta semana, já nas bancas.

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