Nacional
Maria Rueff

Recorda enfarte que teve há dois anos e revela o maior medo que teve

Sáb, 13/03/2021 - 18:10

Maria Rueff deu uma entrevista à TVI e revelou detalhes sobre o enfarte do miocárdio que sofreu no final de 2019. Atriz conta que sentiu "um pneu em cima do peito" e "uma espécie de garrote no braço esquerdo".

Maria Rueff foi a convidada de Manuel Luís Goucha no programa "Conta-me", da TVI, e falou sobre o enfarte do miocárdio que sofreu em novembro de 2019. A atriz, de 48 anos, recordou os sintomas, o medo que teve de deixar de trabalhar e o papel fundamental que a filha teve na sua recuperação. 

A conversa entre os dois nomes grandes da televisão aconteceu no Museu da Marioneta, instalado no Convento das Bernardas, em Lisboa. Em jeito de provocação, Manuel Luís Goucha questionou Maria Rueff se já tinha deixado de fumar. A atriz disse-se em "processo" para tal. "Perdi um irmão com o mesmo problema e ele era o único de todos nós que não era fumador", constatou.

A artista recordou, então, o dia em que tudo aconteceu. "Sabia todos os sintomas, porque o meu irmão passou por isso. Eu não fui visitada um segundo pela ideia [da morte], nem percebi que era do coração", assumiu, enumerando que, entre os sintomas, sentiu "um pneu em cima do peito" e "uma espécie de garrote no braço esquerdo", além da sensação de estar a "ficar paralisada" na zona da cara. "Isso, sim, preocupou-me muito, porque eu só pensava como é que a seguir ia trabalhar", disse.

Maria Rueff pensou que estivesse a sofrer "uma espécie de trombose" e que "iria ficar desfigurada". "Tive muita sorte no processo todo. O INEM chegou logo, cheguei imediatamente ao [Hospital de] São José, não havia trânsito...", relatou.

A filha, Laura, que a atriz classificou de "mulherão", tinha apenas 15 anos e "tratou de tudo". "Foi ela que me deu imensa força. Aliás, eu disse aos médicos: 'Olhem, deixem entrar a minha filha, porque eu tenho de ligar ao Herman [José] e tenho de ligar para a rádio'", recordou. Aliás, o trabalho foi, na altura, um pensamento constante: "Já no meio das maquinetas, quase a ser intervencionada, só dizia: 'Eu tenho de gravar!'."

Maria Rueff: "Só me aflige a ideia de ainda faltar à Laura"

Passados apenas "15 dias" do enfarte, Maria Rueff já "estava a fazer humor". Consciente de que a recuperação "ainda está a ser feita", admitiu que este problema de saúde "mexe muito" com ela. "Não pensei logo [na morte]. A seguir, tive uma espécie de ressaca e comecei a perceber tudo o que podia ter acontecido", referiu, revelando como lida hoje com a ideia de finitude: "Só me aflige a ideia de ainda faltar à Laura, de lhe falhar. Sinto que, como mãe, ela ainda precisará da minha presença. De qualquer forma, eu já tinha vindo a fazer uma espécie de processo de arrumar pastas - ou quando fica qualquer coisa por dizer, ou fazer alguns pedidos de desculpas... Desde os 40, talvez, tenho tido uma preocupação em suavizar as arestas."

E porque o tem vindo a fazer? "Porque gostava muito de partir sem deixar nenhum rasto...", respondeu a Manuel Luís Goucha. Tal não aconteceu, por exemplo, com a já referida morte do irmão João, corria o ano de 2010. "Foi repentina. Não me despedi, não lhe disse, se calhar, as vezes suficientes o quanto o amava... Isso, com a minha mãe, pude fazer", disse.

Aliás, a mãe, Julieta, também foi assunto no programa "Conta-me". "A minha mãe sobreviver-me-á e à nossa família. A memória dela é tão estruturante, tão forte...", afirmou Maria Rueff, que assumiu que tem como "sonho poder, um dia, chegar aos calcanhares" da progenitora.

"Vou comparar a minha mãe ao Herman. Quando tens o privilégio de lidar com pessoas muito fortes, que são monumentos... Eu sou filha de um monumento e tenho um par artístico que é um monumento. Depois, é muito difícil lidar com o poucochinho, porque as referências são enormes", disse a Manuel Luís Goucha.

A atriz não esconde que tal lhe provoca "um grande peso", mas também "um profundo privilégio". "Este acidente de saúde fez-me repensar muitas coisas. Digamos que talvez iniciei um processo - também um luto - dessa tal exigência e, de alguma forma, agora, estou a permitir-me mostrar alguma fragilidade, que acho que nunca pude mostrar muito", admitiu.

"Já tive de fazer rábulas tendo enterrado uma mãe e um irmão poucos dias antes"

Ligada desde sempre à comédia, Maria Rueff falou ainda do "muito violento" que é fazer rir os outros quando a vontade escasseia. "Já tive de fazer rábulas, por exemplo, em direto, nos Globos de Ouro, tendo enterrado uma mãe e um irmão poucos dias antes. Não sou só eu. O Herman a mesma coisa", exemplificou, recorrendo à máxima "The show must go on" - "O espetáculo tem de continuar", em português.

"É muito duro mas, ao mesmo tempo, é a tal coisa do serviço. Digo sempre que isto é um sacerdócio. Isto também é um privilégio, tem as suas faturas - aliás, acho que o meu corpo já começa a apresentar algumas faturas desses tais 'esticares' de corda. E há um dia em que o músculo rompe, claro que sim. Mas é essa a função. Isto só faz sentido se se abraçar assim, a 100%, com tudo o que há de bom e mau", vincou.

Texto: Dúlio Silva; Fotos: Arquivo Impala e reprodução redes sociais

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