Nacional
Maria De Belém

Estreia-se na escrita

Qui, 18/10/2012 - 10:46

Já foi ministra. Sempre esteve envolvida na resolução de questões sociais. Agora lançou um livro sobre mulheres que mudaram o Mundo.

À conversa com a NOVA GENTE, Maria de Belém contou o que pemsa da atual conjuntura política e social, falou da sua vida familiar, e sobretudo da experiência que foi escrever um livro sobre um grupo de mulheres que mudaram o Mundo.

Este livro, Mulheres Livres, é um longo projeto.
É verdade, a editora já me tinha lançado este desafio há algum tempo, mas como a minha disponibilidade é muito limitada, na medida em que esta vida nos obriga a andar de um sítio para o outro e, para se escrever é necessário tempo para pesquisar, ler, sentar à secretária e acima de tudo serenidade para escrever... tudo se foi prolongando. Mas confesso que me deu um imenso prazer concretizar este desafio.

Está satisfeita com o resultado?
Sim... ficamos sempre satisfeitos com o nosso trabalho, mas depois de concluído achamos sempre que poderia ter ficado melhor! A ideia foi dar a conhecer o lado mais escondido da vida de várias mulheres fabulosas.

Como foi feita a seleção destes 12 nomes?
Foi em articulação com a editora, queríamos fundamentalmente pessoas que já não vivessem (a única exceção neste livro é Simone Veil) e que a sua atuação tivesse sido marcante nos mais diversos quadrantes da sociedade e em diversos continentes. Ao todo são histórias de 12 mulheres fascinantes que ultrapassaram preconceitos.

Tem um carinho especial por alguma destas mulheres?
Tenho pela engenheira Maria de Lourdes Pintasilgo, pois trabalhei com ela. A minha vivência durante esse tempo permitiu-me escrever e mostrar um lado desconhecido, dando até uma opinião muito diferente daquela que as pessoas têm dela. Apenas posso dizer que era uma pessoa extraordinária e com uma inteligência vibrante, luminosa, logo conviver com ela foi muito enriquecedor. É de salientar que era uma mulher apreciadíssima internacionalmente, o que aliás acontece com muitos portugueses que são desmerecidos no seu próprio país e que são entusiasticamente acolhidos lá fora!

Isso deixa-a triste?
Muitíssimo. Nós somos especialistas em deitar fora aquilo que porventura poderia resolver grande parte dos nossos problemas estruturais.

Tem transmitido os ideais de força, democracia e verticalidade à sua filha?
Sempre. Agora ela não está a viver em Portugal, mas quando cá está acompanha-me sempre que pode. Basta pedir-lhe e a minha filha acede de boa vontade. É muito carinhosa.

Como analisa o papel da mulher na sociedade atual?
A questão da igualdade dos direitos dos homens e mulheres é algo resolvido legalmente, mas que não o está socialmente. O que significa que em todos os domínios da nossa vida a inferioridade, o preconceito e o desvalor com que as mulheres são tratadas são inaceitáveis do ponto de vista ético, legal e da justiça. É importante que as pessoas percebam que os preconceitos são construídos com base em ideias falsas. Logo o melhor é abandoná-los, a não ser que sejamos praticantes da falsidade.

Já sentiu alguma forma de preconceito?
Já. Na vida política senti muitos preconceitos. Não apenas na forma como somos escrutinados no exercício da nossa função, mas também pela Comunicação Social, pelos colegas de atividade e no âmbito das reuniões políticas. Quando uma mulher começa a falar, muitas vezes os homens deliberadamente iniciam um discurso. Isto leva-nos a crer que muitos deles consideram que aquilo que a mulher tem para dizer não tem interesse algum.

Já apareceu publicamente com o seu marido diversas vezes. Ele apoia-a?
Bastante. Para mim esse apoio é fundamental. O nosso equilíbrio afetivo é muito importante para a vida e para a realização. Mas temos de ter em atenção que ele não cai do céu.

Com uma vida tão ocupada, como consegue conciliar tudo?
Com muito boa vontade e dedicação. É verdade que tenho uma vida muito carregada, imensas horas no Parlamento, em viagens de trabalho, em sessões públicas, mas como tenho um marido inteligente, respeitador e que acima de tudo gosta de mim e que acha que aquilo que faço é de uma importância extrema, ajustamo-nos e a meu ver é assim que deve ser. Num casal temos de nos adaptar, umas vezes somos nós, outras são os maridos, deve haver cedências de ambas as partes. Este respeito por uma vivência em comum pressupõe uma permanente compreensão e infelizmente hoje em dia nem todas as pessoas têm esta forma de estar. O que é muito destrutivo nas relações familiares e afetivas. Para mim os afetos são parte estruturante da nossa vida, são importantes não só para nós próprios, como sobretudo para a maneira como nos relacionamos com os outros. Logo é importante acarinharmo-nos.

Vê-se a fazer algo que não seja ligado à política?
Claro que sim. As mulheres têm uma capacidade de adaptação enorme. Apesar de estar envolvida com a política, é de realçar toda a minha dedicação a instituições que estão ligadas à solidariedade. Ao fim e ao cabo o que é o exercício de um poder público? É servir o bem comum e este manifesta-se em múltiplas áreas.

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