Nacional
Marco Paulo

E a luta contra o cancro: «São tratamentos muito agressivos»

Dom, 19/04/2020 - 08:00

Nova luta contra o cancro está a correr bem e só precisou de fazer quatro das seis sessões de quimioterapia prescritas.

Tem mais três meses de cuidados de saúde pela frente, mas, à NOVA GENTE, o cantor mostra-se confiante de que vencerá novamente a doença, agora na mama.

Não precisa de fazer radioterapia e já só pensa em voltar ao palco e em gravar um novo disco. 

Como tem passado?

Olhe, estou nesta situação, com uma doença que, felizmente, tem cura, mas que não é fácil... Claro que não, mas o Marco Paulo começou esta conversa a rir e sabemos que tem a sua força e a sua fé. Tenho força, sim, há 20 anos que a tenho... E agora quero ultrapassar isto, que é uma batalha que estou a travar com um problema que nunca me passou pela cabeça ter. Porque o cancro da mama é raro nos homens... Muito, não é normal isto acontecer. Mas tenho lido muita coisa e, em Portugal, é que as pessoas não estão informadas. Pensamos que é uma doença só das senhoras, quando um homem também a pode ter a qualquer momento, porque também temos mamilos, como as mulheres. E cerca de 1% dos casos aparece em homens. A verdade é que aparece num local que a maior parte dos homens não está preocupada em vigiar... falo por mim. Vigiava a próstata, mas não me ocorria vigiar a mama.

Acha que os homens devem ter as mesmas preocupações que as mulheres, com a apalpação da mama, por exemplo?

Eu acho que devem ter. Porque eu apalpei, senti... mas não liguei. Ou seja, senti que não tinha nada do lado esquerdo, mas do lado direito tinha um caroço. Comecei por mostrar às minhas amigas, em conversa... Porque sempre liguei esse assunto a vocês, mulheres. Não me passava pela cabeça vir a ter cancro da mama! Depois, passei a  ter corrimento, um corrimento escuro que saía do mamilo, o que, na verdade, me preocupou mais, mas como sou muito assustado com isto do cancro desde que tive um  há 20 anos – e como a minha irmã faleceu com cancro da mama há cinco anos –, durante algum tempo preferi acreditar que devia ter batido em algum lado... e não liguei.

Ou seja, ainda não foi nessa altura que foi ao médico...

Não. Ainda dei concertos, mas continuava a falar do assunto às minhas amigas que me acompanham sempre, e que também estranhavam, até que, a partir de um momento, começou a doer-me. Foi só quando fui à CUF, para tirar um sinal que me apareceu no nariz, que, numa das consultas finais, acompanhado pelo meu compadre e por uma das amigas com quem eu tinha falado do assunto, essa minha amiga falou, quando viu que eu não ia falar...

Na verdade, eu estava com medo que o resultado viesse a ser o que veio, porque a minha irmã morreu de cancro da mama. Foi essa amiga que acabou por pedir à médica: «Sra. Dra., não se importa de examinar o peito direito do Marco?» A médica examinou-me... E disse logo: «Marco, temos aqui um ‘embrulho’, uma luta muito grande que o Marco tem de travar». E já não me deixou sair da CUF sem fazer os exames.

Quando foi isso?

Foi em dezembro. Depois dos exames todos, ficou confirmado que eu tinha uma nova luta para travar.

Como estão a correr os tratamentos?

Tenho estado a fazer as sessões de quimioterapia. Era para fazer seis sessões, fiz quatro, terminaram ontem [quarta-feira, 25 de março]. Estava a fazer de 15 em 15 dias. São tratamentos muito agressivos. Caiu-me logo o cabelo, mas isso é o menos... Os sintomas podiam ter-me deitado muito abaixo, mas felizmente não senti nada e emagreci só uns gramas, até porque me aconselharam a continuar a comer bem.

Não perdeu o apetite com a quimioterapia?

Não tenho tido muito apetite, mas faço por me alimentar. Estou muito parado em casa, por causa deste período que estamos a atravessar, e só tenho saído para fazer os tratamentos. Se não fosse a pandemia, eu podia passear por aqui, dar voltinhas na casa, mas também não posso apanhar frio, vento ou calor para não me constipar... Se, por causa disso, não fizesse uma sessão de químio, atrasava isto tudo e esta é uma luta que eu não posso atrasar.

Porque é que só fez quatro das seis sessões de quimioterapia?

Isso não sei. Era para fazer radioterapia também, mas já não faço, por enquanto. Mas é bom sinal, porque os exames não mostram metástases. Ou seja, reduziram-me tudo isso, terminei a quimioterapia mais agressiva e agora vou fazer apenas durante três meses, uma vez por semanauma químio de precaução. Que já não é tão pesada como a quimioterapia de ataque ao cancro da mama. Portanto, são boas notícias! Notícias muito boas. Até porque as duas horas que lá estava em tratamento eram muito dolorosas.

Se tivesse ido logo ao médico quando sentiu o caroço, o tratamento seria mais simples?

Poderia ter sido e poderia não ser. Porque, perante estes problemas, eles [os médicos] atacam logo. Perante os exames, a equipa médica reuniu-se e marcou logo a cirurgia. Deram-me a escolher entre os dias 21 e 28 de janeiro. Eu escolhi 21, porque dois meses depois tinha o concerto no Porto. Por isso, fui operado no meu dia de anos.

Mas ainda andou quanto tempo com o tal corrimento?

Muito tempo. Passou-me completamente ao lado, porque não me passava pela cabeça que isto me fosse acontecer a mim. E julgo que só agora, depois de eu ter ido à televisão falar disto, é que muitos homens terão começado a tomar atenção a isto. Porque muitos já passaram por este problema e não falam do assunto. Já vieram ter comigo e dizer: «Ainda bem que o Marco Paulo falou sobre isso, porque eu tive e passei as passas do Algarve!».

Para os homens, o cancro da mama é tabu?

É um tabu. Mas, tal como a minha médica me disse, o cancro da mama tanto pode surgir em mulheres como homens, porque ambos temos mama. Agora que falei do assunto – e faço questão de falar sempre –, espero que as coisas mudem.

O facto de a pandemia da COVID-19 ter obrigado ao adiamento do concerto que tinha marcado para o Pavilhão Rosa Mota, no Porto, a 21 de março, não foi, no seu caso, um mal que veio por bem? Visto estar em tratamentos...

Foi melhor, mas eu estava preparadíssimo para entrar em palco! Nem que eu tivesse de adiar um dos tratamentos! Eu tinha um desejo enorme de entrar em palco e ver aquela sala da Super Bock Arena Rosa Mota cheia, aos gritos, a fazer barulho. Porque o concerto estava esgotado... E as minhas fãs, que são as mais ferrenhas do Mundo, estavam desejosas. Ninguém tem fãs mais generosas do que as minhas. E eu estava ansioso por me reencontrar com elas. Isso é mesmo o artista Marco Paulo a falar, não o homem João Simão, que passa por um momento mais frágil... Eu estava tão entusiasmado por dar esse concerto que nem me lembrava que estava doente e que tinha feito uma operação à mama. Mas ia ser muito violento para si, certamente.

Os médicos não o aconselharam a adiar o concerto por razões de saúde?

Não! Eu estava a sentir-me bem, podia não ter noção do que estava a passar, porque o desejo de atuar era tão grande... Mas eu ia entrar assim como estava, tinha ensaiado e estava com a voz ótima, nem soava a doente. Ia cantar as minhas canções para pessoas que vinham de todo o lado. Depois, só adiaram por causa da questão de saúde pública, mas, se Deus quiser, e Nossa Senhora, a 23 de maio lá estaremos.

Precisa do seu público para lhe dar força?

O público tem-me dado muita força! Não batem ao portão porque não querem incomodar-me, mas deixam-me flores e cartões. Quase todos os dias temos aqui flores... Elas sabem que alguém as vai buscar e que mas entrega. Depois, as flores e os cartões são distribuídos pelas imagens da minha mãe e de Nossa Senhora de Fátima, que tenho à entrada da casa. Sabe que eu tenho ido a Fátima? Quando sinto necessidade... Não saio do carro para não me constipar, mas peço que me levem flores à Capela das Aparições e que me rezem uma oração e agradeçam. Eu rezo no carro.

Como tem vivido esta situação de pandemia no País?

Estou muito preocupado. Hoje, a minha preocupação divide-se entre mim e este problema que está a atravessar o Mundo. Tento cumprir com as regras que nos são impostas.

Que cuidados tem?

É não sair de casa! Já não recebo as minhas amigas, como era habitual. Vinha a Cinha Jardim e outras pessoas que sei que são verdadeiramente minhas amigas...

Agora encontra-se com elas pela Internet?

Não, que eu não uso a Internet. Só o faço com o meu afilhado, com quem falo três vezes ao dia, de manhã, à tarde e à noite. Mas peço ao meu compadre que me coloque em contacto com ele. Ele está muito preocupado. Quando estive no hospital, ele foi a minha companhia. Está a estudar música, viola baixo, no Conservatório de Amesterdão, na Holanda. Quando fui operado, ele não foi às aulas, esteve cá, para acompanhar o padrinho...

Como são as rotinas na sua casa, hoje em dia? Ninguém sai de casa?

Nada! E eu só saio para o tratamento. Vou de carro com o meu compadre e depois, mal chego lá, há alguém que me encaminha. Agora, as entradas no hospital mudaram, porque passou a receber doentes com a COVID-19... Mal entro, meto logo a máscara. Não vou disfarçado. Levo um gorro – que, por sinal, me fica muito bem (risos) –, mas só porque estou careca. E mantém a sua boa disposição! Sim. No outro dia, perguntavam-me o que é que eu vou fazer quando os meus tratamentos e a pandemia da COVID-19 passarem... Respondi que vou agarrar nas minhas fãs e levá-las para uma ilha deserta.

Na Polinésia?

Não. Pode ser aquela ilha ali perto de Peniche...

A Berlenga?

Sim (risos)...

Acredita que vamos ultrapassar a pandemia?

Eu estou confiante. Por um lado, que a minha batalha vai ser ultrapassada; por outro, que todos vamos lutar e conseguir. Quero retomar a minha vida normal.

Texto: Anabela Pereira Fernandes; Fotos: Reprodução de Redes Sociais

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