Nacional
Mãe em quarentena desabafa

A tortura do isolamento e o aniversário sozinha longe dos filhos

Ter, 17/03/2020 - 22:10

"Joana" é familiar de um dos primeiros casos positivos em Portugal, o que a obrigou a ficar de quarentena, longe dos filhos.

A pandemia Covid-19 mudou a vida dos portugueses e o caos instalou-se no nosso País assim que o primeiro caso positivo surgiu, a 2 de março. A partir daí, o número de infetados ainda não parou de subir exponencialmente.

A NOVA GENTE falou com uma familiar de um dos primeiros casos de Portugal. Depois de ter estado em contacto indireto com o doente, internado no hospital Curry Cabral, "Joana" foi obrigada a ficar de quarentena 14 dias, o recomendado pela Direção-Geral de Saúde

«Foi muito difícil... Duas semanas de isolamento foi uma tortura. Estar sem os meus filhos foi a maior dificuldade. Pediram-me silêncio e compreensão, não pude contar a ninguém para não causar o pânico e o alarmismo. E, por isso, calei-me. Ainda era tudo novidade por cá nessa altura», começa por dizer-nos aquela que vive em Alverca e é mãe de duas crianças pequenas.

Durante a quarentena, "Joana" escreveu um emotivo testemunho, visivelmente revoltada com mães que se queixam de ficar com os filhos em casa.

«Não consigo perceber como é que alguém diz que não consegue ficar tantos dias em casa, que vai dar em louco, que com os miúdos não vai aguentar... Digo-vos aqui que hoje é o 13.º dia da minha quarentena. Sim! Estou a terminar e vocês a começarem! E estou sozinha! Não vejo os meus filhos há 13 dias. Não vejo ninguém há 13 dias. Não saio de casa há 13 dias. Se tem sido difícil? Muito!», desabafou nas redes sociais.

O aniversário sozinha em casa

Para além da dificuldade de estar longe dos filhos, "Joana" celebrou 37 anos dia 8 de março, sozinha e isolada do Mundo. Com os parabéns cantados por vídeo-chamada, confessa que foi «das coisas mais difíceis» que passou na vida. «O pior dia foi o do meu aniversário. Sozinha, sem os meus filhos, foi duro. Por muito que hajam novas tecnologias, as vídeo-chamadas não substituem o toque e o cheirinho dos nossos filhos. Mas mantive-me ocupada a fazer coisas que precisava, antes que entrasse em depressão», confessa-nos.

Num grupo de mães do Facebook, fez questão de deixar um apelo a tantas outras mães que estão de quarentena com os filhos em casa.

«Eu não sou diferente de ninguém! Se eu aguentei, todos vão aguentar! E agradeçam por terem os vossos filhos convosco. Deixem-se de mer*** e fiquem em casa!!! Aproveitem para arrumar, escolher coisas para doar... Aproveitem para ESTAREM com os vossos filhos e maridos/esposas. Queixam-se de nunca terem tempo, de andarem sempre a correr, a fazer o jantar, a dar banhos e a lavar roupa...
Aqui têm a vossa oportunidade! Vão conhecer os vossos filhos. Unam-se enquanto família e deixem a tempestade passar lá fora.»

"Joana" terminou a quarentena esta segunda-feira, dia 16, véspera de regressar ao seu posto de traalho como bancária. «Tem de ser, mesmo não sendo profissional de saúde... Os meus filhos ficam na segurança da quinta dos avós, que nestes dias têm sido os pais deles. Não sei quando os volto a ver, receio que em menos de uma semana proíbam as deslocações até mesmo dentro do País. Mas não os posso fazer regressar, pois poderei chegar a casa com o “bicho” e não quero arriscar... Não depois de tanto esforço», terminou.

Covid-19 em números

O número de infetados pelo novo coronavírus subiu para 448, mais 117 do que os contabilizados na segunda-feira, anunciou hoje (dia 17) a Direção-Geral da Saúde.

De acordo com o boletim sobre a situação epidemiológica em Portugal, divulgado hoje às 12:00, há 4.030 casos suspeitos (mais 1.122), dos quais 323 (eram 374) aguardam resultado laboratorial. Segundo a DGS, há três casos recuperados.

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Texto: Filipa Rosa; Fotos: D.R.

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