O relógio ainda não marcava as 22 horas quando Madonna surgiu no palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, na terça-feira, 14 de janeiro. Este foi o segundo dos oito concertos que a artista norte-americana irá dar na capital portuguesa. Após cantar algumas canções do novo álbum, Madame X, Madonna interpretou um dos seus clássicos, Human Nature, o primeiro ponto alto da noite, onde a meio da interpretação se coloca de cabeça para baixo, enquanto faz o pino, mostrando, assim, que, aos 61 anos, ainda está para durar como performer. 

Minutos depois juntam-se a ela uns bailarinos muitos especiais: os três filhos adotivos: David Banda e as gémeas Stelle e Estere, que cantam e dançam com tremendo à vontade. «A minha vida dava uma novela! (risos) Já estou há três anos em Portugal. Vim acompanhar o meu filho que joga na Academia do Benfica e fiquei. Adoro a Comporta, de beber vinho do Porto e de comer bacalhau», confessou a artista, que pouco depois deu uns goles numa cerveja que lhe levaram ao palco.

Mais tarde, a artista brinca com o público: «Portugal trouxe-me inspirações de várias formas. Quero ver-vos, ouvir-vos, sentir-vos, cheirar-vos. Por isso, não quis que houvesse telemóveis entre nós, a transpor-nos. Já estão a endoidecer por estarem sem telemóvel ou ainda não?» 

Este comentário vem no seguimento da ordem dada pela artista à promotora, de que não queria telemóveis a registarem o concerto. Desse modo, à entrada, todos os espectadores tinham de colocar o seu aparelho telefónico em modo de voo ou desligado dentro de uma bolsa verde, que de seguida era selado por um elemento da produção e novamente entregue ao esperado, que só poderia abrir no final do concerto. 

«Portugal tem muitas mulheres que são uma inspiração»

Após um momento em que toca com as Batucadeiras de Cabo Verde uma canção do último álbum, Madonna chama ao palco o guitarrista Gaspar Varela, bisneto da fadista Celeste Rodrigues. «Conheci a Celeste, uma grande fadista, tal como a sua irma era. Cantámos juntas e pouco tempo depois ela morreu. Mas deixou a sua obra. Portugal tem, de facto, grandes mulheres nas artes que são uma inspiração», refere a artista, que, logo de seguida, se aventura no fado e canta parte de uma canção da irmã de Amália, enquanto é acompanhada à guitarra portuguesa por Gaspar Varela. 

Madonna vai intercalando as canções do novo disco, com temas de sucesso da sua carreira como “Vogue”, “American Life” ou “La Isla Bonita”.

Dino Santiago subiu ao palco

Já a noite vai longa quando a cantora chama o músico Dino Santiago, que mais uma vez fez questão de frisar que já era um amigo de casa: «O Dino é um grande cantor, além de ser uma excelente pessoa.» Os dois cantaram em dueto a morna de Cabo Verde, Sodade, de Cesária Évora, outro dos pontos altos da noite. 

Já na reta final, Madonna canta o mítico tema Frozen, enquanto no ecrã principal - em jeito de videoclipe - surge a sua filha mais velha, Lourdes Maria a fazer dança contemporânea. Um momento emotivo.

Pouco depois, a artista canta Like a Prayer, outro dos seus grandes êxitos, ao lado de um coro de gospell, colocando o Coliseu todo de pé, a dançar e a bater palmas.

No final, após duas horas e meia de espetáculo, Madonna abandona a sala lisboeta por entre o público. Naturalmente não faltou o toque nas mãos dos fãs que conseguiram chegar mais perto da cantora, sempre ladeada por três seguranças. 

Aos 61 anos, Madonna prova que a idade não a derruba e só a torna mais forte, continuando a ser uma excelente performer em palco. Se ainda vai assistir a algum dos concertos da diva da pop não espere que ela cante o seu repertório de canções mais conhecido. Neste espetáculo, os seus êxitos ficaram para segundo plano, dando primazia ao seu novo disco, ao fado e à morna. 

10 curiosidades sobre o concerto

• Madonna bebeu cerveja em palco e também da garrafa de um fã alemão, quando se sentou ao lado deste na plateia;
• Durante o concerto, a artista tirou uma fotografia dela com uma polaroide e leiloou a foto para caridade, que acabou por ser vendida por 1000 euros a um estrangeiro;
• Além de fado e da morna, Madonna cantou ainda coladeira e em castelhano;
• Nos seus cenários constavam casas a imitar os bairros lisboetas e vídeos a evocar os Descobrimentos Portugueses;
• Durante todo o concerto, a cantora fez referência à liberdade, à paz, ao femininismo, à religião, ao confronto entre Palestina e Israel, as alterações climáticas e os direitos LGBT;
• Madonna gozou com Trump, dizendo que este tinha um pénis pequeno;
• Disse por diversas vezes o único palavrão português que tinha aprendido;
• No final do espetáculo entrou numa carrinha preta com algum do seu staff, que a descalçaram de imediato e arrancaram rapidamente. Só depois os espectadores puderam sair;
• O espectáculo durou 2 horas e 30 minutos;
• Os seus produtos de merchandising iam dos 15 euros (pins e posters) até aos 300 euros (casacos). 

Texto: Levi Filipe Marques; Fotos: Reprodução Instagram e D.R.