Nacional
Lucas

O menino quase cego que abraça a vida como ninguém (VÍDEO)

Sex, 06/03/2020 - 21:00

Conheça o menino Lucas, que nasceu com Anomalia de Peter. Tem apenas cinco por cento de visão, mas quem o conhece esquece facilmente a sua condição.

Lucas tem quatro anos e nasceu com um grave problema de saúde: Anomalia de Peter. Estima-se que tenha apenas cinco por cento de visão, mas quem o conhece esquece facilmente a sua condição. A NOVA GENTE apresenta-lhe esta força da natureza.

Os olhos deste menino não veem o mundo como as outras crianças. Com poucos dias de vida, os pais, Elisabete Nunes e Nuno Pais, perceberam que havia algo de errado com o filho. E o pânico instalou-se.

«Eu agora já consigo falar disso normalmente. Durante muito tempo não queria falar sobre isso. Quem falava sempre sobre o assunto era o Nuno, porque eu não conseguia, começava logo a chorar. Agora já passaram uns anos… percebi que isto não é o fim do mundo», diz Elisabete na reportagem.

Lucas já foi operado várias vezes, esteve em Londres para ser observado, mudou-se com os pais e os dois irmãos de Cascais para a Ericeira. Miguel é o irmão mais velho, com 16 anos. Ricardo, o irmão do meio com 12 anos, foi diagnosticado com autismo no ano em que Lucas nasceu.

Segundo a oftalmologista Cristina Brito, que nos deu uma entrevista (para ler mais abaixo), uma criança com deficiência visual «consegue aprender a potenciar a utilização da função visual residual que tem e a aproveitar ao máximo os outros sentidos. Isto verifica-se quanto mais pequena é a criança pois maior é a capacidade de aquisições e plasticidade do seu cérebro».

Veja aqui a nossa reportagem:

O que é a Anomalia de Peter, a doença de Lucas?

Para esclarecer esta questão, o site Crescer entrevistou a médica Cristina Brito, oftalmologista no Hospital CUF Descobertas e no Hospital CUF Infante Santo. «A anomalia de Peter é uma doença rara. Trata-se de uma malformação do segmento anterior do olho que se caracteriza por uma opacidade central da córnea presente à nascença. A córnea é uma estrutura transparente que fica à frente da íris. É a primeira “lente” do olho a permitir a focagem dos raios de luz», começa por explicar aquela que conhece bem de perto o caso de Lucas.

«Esta anomalia do desenvolvimento do olho pode ocorrer isoladamente ao nível da córnea, ou pode englobar outras estruturas com a íris, o cristalino e o ângulo iridicorneano. Além da opacidade central da córnea, que impede a passagem da luz para dentro do olho, pode haver catarata (opacidade do cristalino, a segunda “lente” do olho), aumento da pressão dentro do olho (por dificuldade na drenagem de humor aquoso ao nível do ângulo) e glaucoma (lesão do nervo óptico por excesso de pressão dentro do olho). A anomalia pode ser unilateral ou bilateral. Pode ser isolada ou associar-se a outras malformações, nomeadamente craniofaciais, cardíacas, genitourinárias e do sistema nervoso central.»

Segundo nos explica, a presença de opacidade da córnea à nascença interfere fortemente com o desenvolvimento da visão. «A privação de estimulação leva a ambliopia, sempre importante nestas crianças, mesmo quando não existem mais anomalias», diz.

Poderá ser um problema hereditário?

De acordo com as declarações de Cristina Brito, a anomalia de Peter é congénita, ou seja, presente à nascença. «Pode ocorrer de modo esporádico (sem história familiar conhecida) ou haver história familiar. No entanto, parece estar a associada a uma mutação de um gene importante na diferenciação do segmento anterior do olho durante a formação do embrião. Assim, é uma doença de origem genética», refere.

«O indivíduo que tem uma mutação pode ter recebido ou pode tê-la de novo, pode também ser transmissor aos seus descendentes. A mutação pode não manifestar-se em doença, mas ser transmitida à descendência. Como tal pode ser hereditária.»

Poderá ficar totalmente cego?

Embora a opacidade corneana presente à nascença não seja evolutiva, segundo a oftalmologista, há outros factores a condicionar a qualidade visual, como a ambliopia profunda, por privação visual, com pouco potencial de recuperação. «O maior risco é de haver complicações graves relacionadas com a presença de glaucoma. O glaucoma na infância é frequentemente mais difícil de controlar. Há ainda o risco de falência e complicações relacionadas com o transplante corneano, em especial nos casos em que há glaucoma na infância, leva a que nem sempre esteja indicado», explica.

 

Texto: Filipa Rosa; Fotos: Gentilmente cedidas pelos pais de Lucas

Siga a Nova Gente no Instagram