Nacional
Jorge Pelicano sobre Tony Carreira

«De repente estamos a sós com ele, na solidão do camarim, enquanto 15 mil pessoas gritam pelo nome dele»

Ter, 23/07/2019 - 19:01

O documentário que Tony Carreira protagoniza chega aos cinemas dia 25 de julho e a Nova Gente falou com o realizador, Jorge Pelicano

«Após  30  anos  de  canções,  Tony  Carreira  anuncia  uma  pausa  que  ninguém  imaginava.  Os  fãs recusam-se a acreditar que o seu cantor de sonhos os vai deixar. Ao longo da digressão de 2018 até ao derradeiro concerto na Altice Arena, Tony defronta-se com o peso da sua decisão. Mas o que  leva,  na  verdade,  o  artista  português  com  mais  sucesso  de  todos  os  tempos  a  tomar  a decisão de se afastar?»

Esta é a sinopse do filme que promete dar que falar. Tony Carreira é protagonista de um documentário que revelará, finalmente, se o adeus do cantor é, ou não, definitivo. A Nova Gente falou com o realizador, Jorge Pelicano, que conta, na minha primeira, como foi passar um ano inteiro com o artista que é venerado por milhares de fãs. 

Como é que surge a ideia para o documentário Tony?

Foi uma proposta ao Tony da produtora Até ao fim do mundo, onde atualmente trabalho como realizador. O repto foi lançado no final de 2017 na véspera de Tony comemorar os 30 anos de carreira. O Tony já conhecia o trabalho da produtora e aceitou.

Quando foi o primeiro encontro com o Tony Carreira? Como correu?

O primeiro em encontro foi em Janeiro de 2018 no Teatro Circo Braga onde ele deu dois concertos acústicos e intimistas. Sabia do sucesso dele junto do público mas foi a primeira vez que assisti a um concerto ao vivo. Fiquei surpreendido pela qualidade do espetáculo no seu todo, em particular, pelos músicos que o acompanhavam. Algumas músicas entram facilmente no ouvido. Depois quando estivemos pessoalmente, achei uma pessoa simples sem quaisquer tiques de vedetismo.

Foi um ano inteiro de filmagens. Consegue escolher o momento mais marcante?

O último concerto no Altice Arena em novembro de 2018 foi marcante, não tanto pela dificuldade mas sim pela a ansiedade e tensão que se gerou. Ninguém sabia como o Tony iria reagir aos últimos acordes da última canção antes da pausa anunciada. E de repente estamos a sós com ele, na solidão do camarim, enquanto 15 mil pessoas gritam pelo nome dele. São momentos como este, de acesso total ao protagonista, que partilhamos no filme.

Já conhecia o Tony pessoalmente ou foi o documentário que os uniu?

Não o conhecia pessoalmente apesar de sermos do distrito de Coimbra. Cresci na Figueira da Foz e ele na Pampilhosa da Serra. O universo da música ligeira portuguesa, as festas e romarias de verão, sempre fizeram parte da minha vida e quando comecei a filmar, todos aqueles ambientes de festas fizeram-me recuar no tempo. Mas foi o documentário que nos aproximou.

Qual foi o facto da vida do Tony que mais o surpreendeu?

No início da carreira, Tony teve a humildade e a consciência de assumir as suas próprias limitações e fragilidades. Por isso trabalhou ainda mais, soube-se rodear de bons profissionais - músicos, técnicos de áudio, luz - e arriscou mais que os outros. O sucesso acabou por chegar e, 30 anos depois, mantém a mesma postura.

«O Tony ficou doente e não estava nas melhores condições físicas»

Como é viver de perto a euforia dos fãs?

Muitos dos fãs têm vidas duras e difíceis. Quando os olhava de frente sentia o poder transformador da música, a alegria no rosto daquelas pessoas. Como se a música preenche-se um pequeno vazio, um desgosto de amor, a perda de alguém. As pessoas identificam-se com as letras das músicas do Tony, dizem que já viveram aquilo. Depois existem os fãs que vão a todos os concertos, os que chegam um dia antes e dormem ao relento para guardar lugar na primeira fila, os que marcam as férias em função das datas dos concertos, as longas filas de espera pelos autógrafos. Em comum, a felicidade de estar perto do Tony. Mas quero acrescentar que é um filme não é apenas para os fãs do Tony, foi feito para todo um público que esteja interessado em conhecer de perto um dos cantores mais acarinhados em Portugal.

Qual foi o momento mais difícil durante as filmagens? No trailer aparece o Tony com uma máscara de oxigénio…

Na véspera do ultimo concerto no Altice, o Tony ficou doente e não estava nas melhores condições físicas. Estava tudo na expectativa se ele conseguia recuperar afim de dar um concerto tão esperado pelos fãs. Ao nível da rodagem do filme, o mais difícil foi acompanhar a as longas filas de autógrafos que se prolongavam madrugada fora.

O que é que os portugueses vão descobrir neste documentário?

O público começou a ouvir falar do “fenómeno” após os espetáculos esgotados no Olympia de Paris e depois no Coliseu dos Recreios e Pavilhão Atlântico em Lisboa. Nessa época o Tony já tinha mais de 10 de carreira e são esse períodos menos conhecidos e mediatizados que se assenta a narrativa do documentário. Interessa mostrar como ele conseguiu ultrapassar obstáculos até conseguir ter sucesso. Fizemos uma pesquisa intensiva para conseguir reunir um conjunto de imagens de arquivo do Tony na adolescência e depois a dar os primeiras concertos nas comunidades emigrantes em França África do Sul e nos bares e restaurantes do Algarve no final da década de 90. No fundo, tivemos sempre a preocupação de dar conteúdos novos.

O trailer acaba com a hipótese de um adeus. É mesmo um adeus?

A resposta a essa pergunta está no filme. Aqui está um mote para convidar as pessoas, não apenas os fãs, mas o público em geral a ir ao cinema ver o “Tony”.

Jorge Pelicano, o homem por detrás do filme «Tony»

Jorge Pelicano, realizador e cineasta português, nasceu na Figueira da Foz em 1977. Após a sua formação em Comunicação e Relações Públicas, terminou uma pós-graduação em Comunicação e Jornalismo, na Universidade de Coimbra, iniciando a sua carreira como repórter de imagem.

Ao viajar por Portugal e pelo mundo, contando histórias com forte impacto social e humano, a paixão pela sétima arte começou a ganhar forma. Em 2005, Pelicano estreou o documentário «Ainda há Pastores?», seguido de «Pare, Escute, Olhe» (2009), «Pára-me de Repente o Pensamento» (2015) e «Até que o Porno nos Separe» (2018).

Os  seus  documentários  foram  exibidos  em  mais  de  20  países  e  ganharam  vários  prémios nacionais e internacionais. Desde 2013, Jorge Pelicano tem se dedicado exclusivamente à realização de documentários na produtoraAté ao Fim do Mundo. «Tony» (2019) é o seu mais recente filme.

Texto: Mariana de Almeida; Fotos: Divulgação

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