Nacional
Jorge Corrula e a infância dramática

Ator perdeu a mãe aos 5 anos e levava «muita porrada» da avó

Sáb, 22/02/2020 - 11:25

Jorge Corrula falou da infância marcada pela perda da mãe, a violência pratica pela avó e o abandono do pai. «O meu pai foi forçado a delegar na mãe dele a educação do filho. Na altura, não me foi sequer explicado.»

Jorge Corrula viveu uma infância difícil ao perder a mãe quando tinha apenas cinco anos. Poucas ou nenhumas foram as vezes em que o ator falou publicamente sobre o assunto, tendo aberto uma exceção na longa entrevista que concedeu, esta sexta-feira, dia 22 de fevereiro, a Júlia Pinheiro para o programa em nome próprio que a apresentadora conduz nas tardes da SIC.

O Caio da série Golpe de Sorte, que regressa em breve à estação de Paço de Arcos para a quarta temporada, começou por relativizar a forma como lidou com o desaparecimento da mãe, dada a sua tenra idade quando a tragédia aconteceu. O mesmo não aconteceu à irmã.

«Ela tem mais seis anos do que eu, portanto, foi muito mais duro para ela no sentido em que, como adolescente, tinha consciência e passou por tudo. Eu não. Aos cinco anos, não tinha noção do que estava a acontecer. Acho que só mais tarde é que percebi essa falta, senti essa falta e percebi quais foram as consequências para a minha vida», afirmou Jorge Corrula.

Explicou, depois, as circunstâncias complexas envoltas na morte da mãe, vítima de «uma septicemia». «Foi um daquele casos em que – não quero dizer negligente – vai ao hospital, é mandada para casa e, quando vai a segunda vez ao hospital, já é tarde.»

O ator, de 41 anos, não tem, por isso, quaisquer memórias da mãe. «Nenhumas. Não quero dizer que tenho cheiros, mas quase como um eco. Pelo menos, quero acreditar que me lembro da voz dela, mas não é verdade. Não me lembro da voz. Vejo fotografias, mas não a reconheço», lamentou.

«Levei muita porrada»

Com a morte da progenitora, Jorge Corrula foi viver com a avô paterna, no Alentejo, enquanto a irmã foi mantida aos cuidados do pai. Uma nova realidade que, ao contrário do que Júlia Pinheiro equacionou, não significou a existência de mais colo para o ator. «Não, foi absolutamente o contrário», riu-se.

E, então, explicou: «A minha avó sempre trabalhou no campo, era uma pessoa muito simples. Afeto, não, não dava. Nem sabia propriamente educar naquela educação que damos hoje em dia, nos tempos modernos, de promover as questões positivas. O carinho que ela me dava muitas vezes era através da frustração de não saber como educar. E batia-me [risos]. Parece que estou a brincar, mas não. Desculpem [risos].»

«Levei muita porrada», revelou ainda, sem demonstrar grande perturbação com esse facto. Nem com o de o pai o ter entregue à mãe dele. «Obviamente, o meu pai foi forçado a delegar na mãe dele a educação do filho. Na altura, não me foi sequer explicado.»

«Paga-se com alguma distância que eu tenho do meu pai»

Ficou zangado? O ator, hoje com 41 anos, não nega, mas garante que é um assunto ultrapassado. «Hoje já não vivo zangado com isso, mas foi uma coisa que eu só resolvi há dez anos, há não muito tempo.»

Certo é que, quando tinha 12 anos, Jorge Corrula viu o pai levá-lo de volta para Lisboa, onde passou a viver com ele e a irmã. O marido da atriz Paula Lobo Antunes tem ciente o facto de o progenitor ter sido «um homem que, de repente, perde o pilar num ápice» e «se vê completamente desamparado com dois menores e tem de delegar na mãe dele» a educação de um deles.

«Ainda por cima acho que não estava no país, estava a viajar em trabalho. […] Felizmente, a minha avó tinha condições para me poder criar. Consigo perceber agora o contexto em que ele teve de abdicar da minha educação, de me ter presente. Mas pronto. Isso depois paga-se mais tarde, paga-se com alguma distância que eu tenho do meu pai. Mas nós estamos aos poucos a recuperar», rematou.

Texto: Dúlio Silva; Fotos: Impala e reprodução Instagram

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