Nacional
Isabel Figueira emocionada e com voz trémula

Ao falar de violência doméstica, atriz fica de lágrimas nos olhos

Ter, 18/06/2019 - 17:40

Ao abordar o tema, Isabel Figueira não segura as lágrimas e explica porquê.

Isabel Figueira, de 38 anos, está de regresso ao pequeno-ecrã. A atriz, que interpreta um papel desafiante em Amar Depois de Amar, a nova série da TVI que estreou esta segunda-feira, dia 17 de junho, fez as primeiras considerações sobre a personagem na apresentação da trama. A VIP estava lá e captou as palavras da atriz, que não podia estar mais contente com a «sua» Luísa Barrigoto. «Tem 40 anos, portanto é um bocadinho mais velha do que eu, pouco, é de Montemor, é alentejana, e sofreu, no passado, 15 anos de violência doméstica, logo desde o primeiro dia do casamento», começa por desvendar.

O mais recente produto de ficção da estação de Queluz conta uma história que «acontece no passado e no presente», exatamente onde a personagem de Isabel Figueira, «que vai sendo retratada ao longo da série», se encaixa.
 
«Ela, entretanto, consegue fugir, com o filho, quando ele começa a bater no filho, porque tem problemas graves de álcool. Consegue fazer queixa dele na polícia e fica num abrigo até ele ser condenado e, portanto, quem ajuda na condenação é a Dina Felix da Costa, que é a Marina, a irmã dele», diz, ainda, sobre o papel que vai defender. «É posto uma pulseira eletrónica, e eu através do dispositivo, sempre que ele está perto, apito, ou então consigo carregar em sinal de emergência, para o prender imediatamente. Portanto, é uma personagem que vive, infelizmente, um medo constante… Vive numa tristeza de tentar levar a vida para a frente e vai ter momentos ao longo da história. Ela aparece em conta-gotas e depois há uma altura em que aparece mais...», descortina, sem, no entanto, contar mais do que deve.

«Nos momentos mais difíceis da minha vida sempre arregacei as mangas e lutei»

A interpretação de uma personagem de peso, faz com que Isabel Figueira sinta uma responsabilidade acrescida, como a própria confidencia. Porém, nem tudo é fácil. «Às vezes, tens de fazer coisas que não concordas muito. E sendo uma personagem tão diferente de mim, que sou uma mulher com força, lutadora, vida para a frente, gosto muito de mim...», conta, a divagar, sem deixar de salientar que não se vê a viver um casamento assim. «Nem o primeiro estalo, nem nada. Para mim, foi muito difícil a personagem, porque fiz uma pesquisa exaustiva, portanto, falei com muitas mulheres, para perceber qual era a linha que as liga, porque ser vítima de dois anos, três anos, dez anos ou quinze anos... Fisicamente ou psicologicamente, porque a violência doméstica é das mais variadas formas.» 

A atriz acaba mesmo por partilhar o quão fundamental era perceber que traços as vítimas de violência doméstica têm em comum. «Há uma linha que é delas e eu tinha de agarrar essa linha, porque eu não percebo essa linha ou não percebia. Hoje em dia, percebo. E foi muito difícil e foi triste, fui para casa – e falo nisto ainda muito emocionada, desculpem – a pensar como é as pessoas conseguem viver vidas assim?», questiona, já com a voz a tremer. 

«Eu, como Isabel, que sou uma mulher feliz, que nos momentos mais difíceis da minha vida sempre arregacei as mangas e lutei, como é que se perde este amor próprio?… E eu tive de perder este amor próprio na personagem.»

A história dramática que conhece

Uma situação desta natureza é verdadeiramente delicada. Para um melhor desempenho, Isabel Figueira inspirou-se num caso próximo seu. «Infelizmente descobri que tinha uma amiga que tinha vivido... Quando falei em grupo que ia fazer esta personagem, ela disse-me: ‘Olha, eu, a minha irmã e a minha mãe sofremos’ e contou-me a história dela, difícil…», confidencia. «Digo isto emocionada, porque nós vivemos todos os dias, isto já existe há anos, não é só de agora… Aquilo que eu posso dizer é que isto está na esquina, está muito perto de nós, muitas vezes, não temos essa atenção, e isto tornou-me – nós aprendemos um bocadinho mais com as nossas personagens – muito mais atenta e muito mais perspicaz, noutras coisas, porque, violência doméstica – e volto a frisar –, não é física, o chamar estúpida, o ‘és uma cabra’, isto é violência doméstica… um empurrãozinho… é das mais variadas formas», defende, indignada.

«Saber como começa e como acaba, isso foi a parte mais dura do trabalho… O trabalho de atriz é maravilhoso, o trabalho de pesquisa é maravilhoso, mas, por vezes, pode magoar-nos muito e pode mesmo ferir-nos e foi muito fundo nesta personagem... Quando acabar, é fazer um detox e viajar e tudo. Em relação a isto, só tenho a dizer que isto acontece cada vez mais, as mulheres estão a morrer todos os dias e é preciso tomar atenção, e vivermos todos mais em harmonia, a vida é tão curta», diz emocionada.

A trama ainda vai muito no início, mas a verdade é que a atriz já se sente algum cansaço. «Não me sinto pesada no dia-a-dia, mas tenho que a trabalhar um bocadinho e sinto-me, sim, cansada. É um papel cansativo.»

Experiente, Isabel Figueira tem já a estratégia estudada para enfrentar os dias mais difíceis. Afinal, como é que despe a personagem, quando chega a casa? «Agarra-se aos filhos, dá-se muito amor e passamos a vida a ser mimada pelas amigas. Se eu já dava abraços e beijinhos, estou ainda mais mimosa do que estava», finaliza, já a rir.

Texto: Tânia Cabral com Joana Dantas Rebelo; Fotos: Nuno Moreira 

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