Nacional
Inês Herédia

Tentou lutar contra a homossexualidade: «Achei que um dia ia aparecer um homem e que me ia apaixonar»

Sex, 13/03/2020 - 12:38

Inês Herédia é casada com Gabriela Sobral, com a qual tem dois filhos. Feliz e realizada, revela agora o processo até conseguir do 'sair do armário'.

Inês Herédia e Gabriela Sobral casaram-se em fevereiro de 2018, altura em que se tornou pública a homossexualidade da atriz, mas o processo de 'sair do armário' começou muito antes. A mãe de Luís e Tomás, de 14 meses, confessa que «queria viver uma história igual à de todos os amigos que não são homossexuais» e afirma que isso começou a ser construído desde que sabe que gosta de mulheres.

«Acho que fiz esse caminho tão bem, e resguardada, que quando decidimos casar, avisámos quem era importante - e fizemos uma coisa pequena - e ficámos conscientes de imediato que ia ser público e o que íamos receber de volta», começa por afirmar, revelando que achou que «ia ser muito mais difícil e que as pessoas não iam compreender», mas a realidade foi outra.

«O maior choque foi a diferença de idades»

Inês Herédia apercebeu-se que o «maior choque não foi o facto de serem duas mulheres, mas a diferença de idades»: «Isso é um bom indicador. Porque é algo que percebo, porque aconteceu com outros artistas, como a Sara Barradas. Mas, em relação à homossexualidade, haverá sempre preconceito. Acho que tenho sorte, talvez porque sou genuína, sem filtros, e isso faz com que as pessoas se aproximem de mim e me percebam. Porque o que veem é o que sou...Eu acho que percebem que vivo uma história de verdade. Comovi as pessoas nesse sentido», desabafa.

«Ela sabe que há caminhos que me vão fazer sofrer»

Inês Herédia e Gabriela Sobral têm 24 anos de diferença, sendo que para a jovem atriz a relação não funcionaria se ambas não aproveitassem o melhor que existe nas vivências de cada uma. «A Gabriela aproveita a minha juventude e eu a sabedoria dela. Há entre nós muito respeito, e a Gabi nisso é incrível. Ela sabe, como já cá anda há mais tempo, e viveu mais, que há caminhos que me vão fazer sofrer, que vou cair, mas deixa-me ser eu a vivê-los. E isso é a maior prova de amor que ela me dá. Ela não me impõe nada. Pode-me avisar, mas não me impõe nada, pois sabe que eu tenho de viver aquela história. E apazigua a minha ansiedade. É nisso que crescem os pilares da nossa relação.

«O maior preconceito estava na minha cabeça»

Sobre o momento em que percebeu que era homossexual, Inês Herédia confessa ter tido alguma dificuldade em aceitar-se porque não queria «esta vida» para ela. «Sou católica, cresci num ambiente beto, muito conservador...mas o maior preconceito estava na minha cabeça. Não queria esta vida para mim. E acho que esta será a resposta de 90 por cento dos homossexuais irão dar, porque ninguém quer ser diferente. Foi complicado e vivi isso para dentro. O mais ridículo é que não sabia que ia ter uns pais superabertos a tudo», diz.

«Continuei durante muito tempo a achar que um dia ia aparecer um homem»

Inês Herédia só falou sobre a homossexualidade quando a sua primeira relação de um ano e meio terminou. «Foi às escondidas. E como qualquer relação enclausurada, aquilo acabou. Estava tão mal que emagreci imenso. Até que falei com uma amiga e com o meu diretor espiritual e a partir daí comecei a pôr para fora o que sentia», contou. 

Mas este não foi o início da sua plena aceitação. A artista confessa que mesmo depois de começar a falar sobre a sua homossexualidade, continuou «durante muito tempo a achar que um dia ia aparecer um homem» e que se ia «apaixonar perdidamente». «Por isso, tinha de estar quieta no meu sítio. Até que decidi ser feliz», admite.

O momento em que contou aos pais

Quando finalmente contou aos pais que é homossexual, a conversa correu de forma inesperada. Inês Herédia pensava que ia desiludir os progenitores que, apesar de serem conservadores, aceitaram-na sem qualquer problema. 

«Achei sempre que os ia desiludir. Mas foi uma surpresa quando contei aos meus pais. O meu pai, que é superconservador, virou-se para mim e disse: "Sei o que é um problema: o cancro, a morte...Isso não é um problema!" E o meu pai dizer isso, o senhor da Bíblia, deu-me uma lição. A minha mãe só tinha uma questão: porque é que eu não lhe tinha contado mais cedo, porque me podia ter ajudado», conta.

Os conselhos que os seguidores lhe pedem

A homossexualidade é para muitos um tema sensível e difícil de digerir. A atriz revela ainda, em declarações à TV Guia, que são muitos os que lhe pedem conselhos e que, embora tente responder a todas as questões, «sente que não tem o direito» de se meter numa família que não conhece.

«Quando são adultos, tento responder a todas as questões. Quando são crianças, tento responder, mas através das minhas entrevistas. Sinto que não tenho o direito de me meter numa família que não conheço. Mas é um tema difícil para mim...Estou muito validada pela exposição, sou atriz, estou num mundo liberal, mas nem toda a gente vive assim», termina.

Texto: Inês Marques Fernandes; Fotos: Impala e redes sociais

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