Nacional
Hélder Reis

Três meses de luto pela mãe: «Deixei de ser filho. O mundo avança à minha volta. Como se atreve?»

Qua, 01/04/2020 - 12:30

Hélder Reis abriu o coração três meses após a morte da mãe. Leia o texto emotivo que o apresentador da RTP leu no funeral da progenitora.

Cerca de três meses depois de ter chorado a morte da mãe, Hélder Reis abriu o coração para a comunidade que o lê no blogue a que deu o nome de Água em Azeite. Lá, o apresentador da RTP recordou a progenitora, falecida aos 84 anos, com a partilha do emotivo texto que leu no funeral desta.

Antes, um preâmbulo. «Morreu-me a minha Margarida. Deixei de ser filho. O mundo avança à minha volta. Apetece-me perguntar: como se atreve a continuar se a Margarida morreu? E continua, e continuará a girar, porque a todos os momentos morrem Margaridas e porque a minha respiração não se alimenta de intervalos e porque a vida é mesmo assim, morre-se e continua-se, morre-se e continua-se, repetidamente», começa por escrever o rosto do programa Aqui Portugal, cuja condução divide com Joana Teles e Catarina Camacho.

A dura quarentena

Hélder Reis considera que o que dele «morreu com ela dará lugar a outros nascimentos», continuando a revelar como está a ser fazer o luto da mãe isolado dos que por norma o rodeiam, já que se encontra em quarentena voluntária devido à pandemia da Covid-19.

«A minha doce amiga Marta disse-me que estar triste também é uma homenagem… Quero acreditar. Viver o luto e este isolamento é uma das experiências mais desconcertantes, introspetivas e reveladoras da minha vida, mas a vida vai-nos amansando a dor. A vida destes dias é mesmo isto, adoecem, morrem, e nós temos de continuar, nós os que ainda não padecemos, achando que ainda está longe de nos bater à porta», reflete.

O apresentador, de 44 anos, encerra o ensaio com a revelação do texto que escreveu e leu nas cerimónias fúnebres da mãe. E justifica a partilha: «Porque sou escritor, fui filho e este não é um sentimento só meu.»

Leia o discurso de Hélder Reis no funeral da mãe:

«A minha mãe teve o melhor nome que a vida lhe poderia dar, Margarida. As margaridas são flores simples e com rosto feliz. Na entrada da nossa casa, a minha mãe plantou margaridas, eram as melhores boas-vindas a quem entrava. Sou o filho mais novo da minha mãe Margarida, tive a sorte de ter uma mãe madura na vida, experiente no sentimento, tive-a perto de mim durante 44 anos, que bênção. Somos 5 filhos, tivemos a felicidade de sermos amados por uma mulher que foi professora, ainda há alunos que a chamam de professora, costureira, agricultora, dona de casa, uma cozinheira de mão cheia, apicultora, mulher e mãe. Sempre mãe. Cheia de vidas.

Amava rir, lembro as gargalhadas que dava, fechava os olhos de tanto rir. Não fosse ela nome de flor, era uma apaixonada por flores, e como ficava triste quando alguma lhe morria. Flores do campo, orquídeas, estrelícias, avencas, suculentas, rosas, catos e próteas. O meu pai bem que lhe pedia para fazer no jardim uma horta, mas nunca conseguiu tirar-lhe o lugar das flores. Tivemos um cato que viveu mais de 20 anos, era regado com amor, em doses suaves. Gostava de poesia simples, de música serena, de pessoas que falassem baixo, nunca gostou de gritaria e confusões da vida. Era uma mulher da terra apaixonada pela praia, os melhores verões eram os que íamos os 2 de bicicleta até beijar o mar. Ainda há pouco tempo me dizia: ‘as ondas são um mistério tão grande’. E perdia-se a olhar para elas. A praia agora é menos praia porque a Margarida não está lá para olhar o mar.

A minha mãe era uma mulher simples e sabemos tão bem como é difícil e sábio ser-se simples num mundo tão complicado. O meu amigo Nelson ensinou-me que uma mãe não morre. Ainda não aprendi bem esta lição, mas, sendo assim, até já, mãe Margarida, doce Guidinha, como lhe chamavam quem lhe conhecia o coração. Obrigado por tanto amor, serenidade, resistência, humildade, sabedoria e paz. Até já, mãe.»

Hemodiálise durante 15 anos

No passado dia 12 de março, Helder Reis esteve n’O Programa da Cristina. No matutino da SIC, o apresentador definiu a mãe, em conversa com Cristina Ferreira, como «resiliente». A justificação é de fácil entendimento: Margarida fez hemodiálise nos seus últimos 15 anos de vida.

«Não tinha o direito de querer que a minha mãe estivesse mais tempo comigo. Era insuficiente renal e vejo sempre as coisas por este lado: ensinou-me a beber água, cuidar do nosso corpo […]. Não se queixava. Aquilo [N.R.: hemodiálise] é lixado, sai-se dali sugado», recordou.

Hélder Reis confidenciou ainda que, após um período mais delicado, a mãe apresentava estar a ter uma «recuperação abrupta», que o deixou esperançoso. «Tive aquela esperança, mas esteve só três dias connosco. […] Deixar de ser filho é tramado, é complicado. Agora estou eu. Por outro lado, tem uma coisa ótima: sou muito mais eu», disse um dos rostos da RTP mais queridos do público.

 

Texto: Dúlio Silva; Fotos: Reprodução Instagram

 

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