Nacional
Francisco Nicholson

"Nunca parei de trabalhar"

Sex, 04/06/2010 - 12:23

O actor lembra episódios da sua profissão, fala na doença que quase lhe tirou a vida e da mulher que sempre o apoiou.


Faz 72 anos a 26 de Junho e, este ano, celebra também 50 de carreira.<?xml:namespace prefix = o />
É verdade, tive momentos muito bons, outros menos bons, mas estou de bem com a vida, neste momento.

Fez o que queria, a nível profissional?
Não e podia viver o dobro da minha vida e não iria conseguir fazer.

É nestas alturas que faz balanços?
Sim. Ando cá há tempo suficiente e nunca parei de trabalhar. Só quando estive hospitalizado e mesmo nessa altura trabalhava. Tenho uma história engraçada sobre isso. Estava internado e um dia estiveram lá uns amigos meus, que iam visitar um senhor que estava no outro lado da enfermaria. Quando saíram, telefonaram para a Manuela Maria, de quem eram amigos, e disseram-lhe: “Parece que o Chico está muito mal, fala sozinho.” O que se passava era que tinha de entregar episódios da novela e gravava tudo para um gravador pequenino. O senhor amigo dos meus amigos não me conseguia ver e só me ouvia falar. Então, já corria o boato de que eu não dizia coisa com coisa.

E nem nessa altura conseguiu parar?
Não, só parei na altura do transplante.

É alfacinha de gema?
Nascido e criado em Lisboa, tirei o curso superior de boémia lá, pratiquei, como diria o meu querido amigo Baptista Bastos, o desporto líquido com grande intensidade e trabalhei para a cirrose. Adoro Lisboa.

Então, por que se mudou para Azeitão?
Começou por ser uma casa de fim-de-semana e fomos ficando.

Lembra-se do momento em que pensou que era a representação que queria seguir?
Foi no Liceu Camões, com o António Manuel Couto Viana, meu mestre e de muitos actores da minha geração. Ele dava aulas de Teatro, convidou-me para ir para o teatro da mocidade e depois fui para a marinha, porque os meus pais não queriam que fosse actor.

Foram contra esse seu sonho?
Sim, disseram-me que depois dos 21 anos podia ser o que quisesse, mas antes disso tinha de escolher um trabalhinho qualquer. Fui para a marinha mercante porque queria ganhar dinheiro para ir estudar para Paris.

E foi? Como correu?
Fiz os 21 anos e ala, que se faz tarde. Os meus pais aceitaram, mas disseram logo que não me davam dinheiro, só o bilhete de regresso. Estive lá um ano, porque entretanto o meu pai morreu e voltei.

Depois, estreou-se numa peça infantil, passou por vários teatros e fez nascer a ficção nacional. Que crítica faz às telenovelas portuguesas?
Acho que houve um grande desenvolvimento. Há muitos autores, muita gente nova e há novelas que são francamente boas.     

Como vê a carreira da sua filha Sofia?
Vejo com muita satisfação e orgulho, porque ela está uma belíssima actriz.

E como é a vossa relação?
Às vezes, é um bocado tumultuosa, porque temos feitios parecidos, mas é de um grande amor, de uma grande ternura.

Conheceu a Magda Cardoso, a sua mulher, quando ainda eram miúdos?
Sim. Ela estudava na Escola António Arroio, que era ao lado do Liceu Camões, mas eu achava-a uma peneirenta e ela achava-me um peneirento.

Cada um seguiu a sua vida e, mais tarde, encontraram-se já divorciados e com filhos. É a sua alma gémea?
Acho que sim. Sim, é, com certeza. A Magda é uma mulher extraordinária. É muito afável, calma, quer dizer, aparentemente, depois os nervos descarrega em cima de mim.

Nos bons e nos maus momentos ela esteve sempre consigo?
Nos péssimos momentos esteve comigo.

Mesmo quando esteve gravemente hospitalizado e a precisar de um transplante hepático?
Ela foi de uma grande dedicação, de um grande amor.

E após a sua recuperação, a Magda teve um AVC?
Mas, felizmente, tudo foi ultrapassado.

Foi também para celebrar esse amor que casaram pela igreja, quase 30 anos depois de estarem juntos?
Também foi. Costumo dizer que o casamento é o resultado de um namoro e nós passámos a vida a namorar. A certa altura, pensámos que estávamos a namorar há tanto tempo, que podíamos casar outra vez. E, agora, estamos a namorar novamente.

Estão casados há quase 30 anos.
Sim, é uma vida. Vivemos juntos há 30 anos, ao fim de 15 casámos, ao fim de outros 15 voltámos a casar e quem sabe se não voltamos a fazê-lo.

E já são avós?
Sim, temos quatro netos, um meu e três da Magda. Temos uma relação excelente, eles vêm cá muitas vezes, mas claro que não me ligam nenhuma (risos). Estão todos juntos, querem é ir para a piscina, mas quase todos os fins- de-semana tenho-os cá. É sempre uma grande festa.

Como gostam de passar o tempo?
A viajar. A última viagem que fizemos foi a Vila Viçosa, que não conhecia, mas costumamos ir muito para o Brasil, para Barreta, perto de Pipa.

E a póxima viagem já está planeada?
Ainda não, estamos com a revista do Maria Vitória que vai estrear em Setembro e a seguir lá vamos nós para Barreta.

O que faz nos tempos livres?
Leio muito, escrevo. Estou a escrever um romance, mas não sei se acabo, porque volta e não volta acabo e passo para outro.

Gosta de futebol?
Gosto e a Magda também e até está a fazer a colecção de cromos do Mundial.

Ela gosta mais de futebol do que o Francisco?
Não, ela gosta mais do Benfica do que de mim porque eu não sou do Benfica, sou do Belenenses. E vibra pelo Benfica, é ferrenha e agora está desesperada por o Cardozo não ficar no Benfica. Ela adorava o Cardozo. O futebol cá em casa é vivido com uma certa intensidade.

Então vão acompanhar o Mundial. Como vê a nossa Selecção?
Vejo com muita inquietação. Enquanto na equipa anterior o Scolari conseguia criar uma enorme empatia com o povo, e havia muito entusiasmo, agora não se vê esse entusiamo. O professor Carlos Queiroz é capaz de ser um técnico extroardinário, mas vai ter de mostrar, tem jogadores para mostrar, apesar de ter deixado alguns de fora que ninguém entende porquê.

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