Foi por intermédio das redes sociais que Francisco Moita Flores revelou esta quarta-feira, 17 de fevereiro, a morte do pai, através de uma publicação na sua página de Facebook. Apesar do progenitor ter sido infetado com a covid-19 e ter ultrapassado a doença, a recuperação do progenitor "deixou-o frágil" e, por isso, sucumbiu aos 97 anos como explica o próprio explica nas redes sociais.
O comentador da CMTV recordou os últimos momentos vividos ao lado do pai, depois deste ter vencido a luta contra o novo coronavírus. "Poucos dias depois desta derradeira vitória, a minha ‘irmã’ Graciana telefonou. Chegara a hora de dizer adeus ao meu grande herói. Despedimo-nos em paz. Agradeci-lhe, escorreu-lhe uma lágrima pelo rosto cansado e outra dos meus olhos, apertámos a mão e o último beijo e a última carícia. E nessa noite, quando adormeceu, o Mestre Chico Flores da Defesa de S. Brás, partiu, em sossego, depois de uma vida comprida. E cumprida! Veio aconchegar-se na minha memória. De onde nunca mais sairá", rememorou.
Na longa missiva, Francisco Moita Flores recordou o pai com "um homem rijo, sem horas para trabalhar, intrépido e insurreto", pautado por um "vida dura". O escritor salientou também os ensinamentos transmitidos pelo progenitor. "Foi pelos seus olhos que aprendi a amar os livros. E a amar o Mundo, os animais, as pessoas. Pelos seus olhos e pela ternura da minha mãe. Íamos os dois, quinzenalmente, à Biblioteca Itinerante da Gulbenkian, que estacionava em frente à Igreja de S. João Baptista", evocou.
Leia o texto de Francisco Moita Flores na íntegra:
O HOMEM QUE DEVORAVA LIVROS (Epitáfio): Foi pelos seus olhos que aprendi a amar os livros. E a amar o Mundo, os animais,...
Posted by Francisco Moita Flores on Wednesday, February 17, 2021
Francisco Moita Flores perdeu a mãe em 2003
"Os mortos fizeram sempre parte da minha vida. Mas não eram mortos, eram cadáveres”. Foi assim que Francisco Moita Flores lembrou o desaparecimento, em 2003, da mãe. Numa conversa emotiva com Manuel Luís Goucha para o programa das tardes da TVI, o antigo inspetor da Polícia Judiciária (PJ), trabalho que desenvolveu ao longo de 12 anos, reviveu o processo pelo qual passou e que o levou, pela primeira vez, ao encontro do verdadeiro sentimento de perda.
“Os nossos mortos nunca são cadáveres”, desabafou o escritor, de 67 anos, para logo a seguir relatar o dia daquele ano em que estava a “exumar um cemitério em Macedo de Cavaleiros” e recebeu a notícia de que a progenitora tinha perdido a vida. “No caminho para Lisboa, dei por mim a avaliar a minha mãe como os cadáveres com que eu trabalhava [na PJ]. A pensar naquelas coisas todas técnicas...”, confessou Moita Flores.
O “profundo choque” surgiu depois, bem como “um peso” e “um aperto que se foi agudizando” à medida em que percorria a autoestrada que liga o Norte à capital. “Quando cheguei a Lisboa, aí sim, esqueci-me dos cadáveres e encontrei-me com os meus mortos. Foi então que um homem, que lidou tantos anos com a morte, percebeu o que era morrer. Eu só percebi o que era morrer quando perdi a minha mãe”, referiu na entrevista emitida no passado dia 25 de janeiro.
Texto: Alexandre Oliveira Vaz e Ana Filipe Silveira; Fotos: D.R.
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