Nestes dias, o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, acolheu mais um discurso sobre o Estado da União Europeia (UE) por parte da presidente da Comissão Europeia. Este discurso, conhecido por SOTEU (em inglês, State Of The European Union) e pouco coberto pelos meios de comunicação social, é um momento onde a Comissão faz uma avaliação do seu trabalho e projecta para os próximos meses as prioridades da UE.

Porém, e apesar de vários eurodeputados terem a oportunidade de falar depois da presidente, este momento parlamentar não é um debate. São no fundo declarações pré-preparadas para agradar A ou B. E, neste registo, os eurodeputados dificilmente conseguem confrontar a Comissão e obter uma resposta imediata sobre determinada matéria. 

Aliás, este confronto directo teria sido fundamental para debater a postura de secundarização da Comissão relativamente à recuperação económica e à transição para uma sociedade descarbonizada. Tema que, em vésperas da Cimeira Climática de Glasgow, na Escócia, é de fundamental relevância. Mais teria sido um formato bastante interessante para inquirir a Comissão sobre a prioridade de militarizar a UE quando propõe a baixa do IVA em material militar. Não há melhores prioridades no campo da defesa? Como fomentar a cultura, diminuir as desigualdades sociais, exportar conhecimento e ciência, ajuda humanitária e exercer mais e melhor diplomacia? 

Denoto também que nem uma vez foi mencionada a palavra animal ou animais. É como se a UE fosse só composta de humanos e a biosfera feita unicamente para servir a Humanidade. Demonstra o longo caminho que a política europeia tem de percorrer.

Assim, fico com a convicção que o formato do SOTEU não serve para debater ideias, muito menos para esclarecer os europeus. E por tal é fundamental alterarmos o modo que este é realizado para termos um debate mais genuíno, integral, honesto e com menos monólogos teatrais.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

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