Filomena Teixeira deu uma entrevista a propósito do lançamento do filme "Sombra", que chega às salas de cinema a 14 de outubro e que é inspirado no desaparecimento do seu filho, Rui Pedro. A uma publicação semanal, voltou a reforçar a falta de preparação das autoridades para lidar com o caso, em 1988, e recorda os 'mimos' que o filho lhe fazia.
"A polícia não acreditava em mim. Quando lhes mostrei a fotografia em que o Rui Pedro aparece na Disneyland [atrás de Nuno Rogeiro], depois de ele ter desaparecido, eles disseram-me: 'E agora o que é que a senhora quer que eu faça'. Respondi-lhes: 'Que façam o vosso trabalho, que procurem o meu filho e saibam quem é este homem que está com o Rui Pedro'. Mas nunca ligaram à pista", disse ao Expresso, admitindo que as polícias francesa e suíça ajudaram-na "muito mais do que a portuguesa".
Em 4 de março de 2022, estarão completos 24 anos do desaparecimento de Rui Pedro, que terá hoje 35 anos. Um homem feito que Filomena Teixeira garante que reconheceria num piscar-de-olhos. "Acho que, se o vir, o reconheço. No filme [Sombra], há aquela ideia de que a vida foi continuando para toda a gente, mas a da Filomena ficou por ali", afirmou, admitindo sonhar recorrentemente com o filho: "Sonho, não só a dormir, como acordada. Quando vejo um jovem da idade que ele teria hoje, comparo-o sempre com ele. E pergunto-me: como é que ele estaria agora? Quando vejo um bebé, lembro-me dele quando era bebé. Quando vejo um menino maior, lembro-me dele quando tinha aquela idade. Eu respiro o ar que ele respira. Tenho-o sempre no coração".
"Há um sonho recorrente, de um episódio real. Numa altura em que estava muito cansada e trabalhava na escola de condução, ele disse-me: 'Senta-te aqui que eu vou fazer-te uns carinhos'. Foi à dispensa e pegou numa máscara de Carnaval e cantou uma música dos Excesso. Fazia-me tantas surpresas", recordou ainda.
Filomena Teixeira disse que se sente "amputada". "Quando levaram o meu filho, levaram uma parte de mim”, desabafou, garantindo novamente que "jamais" desistirá da luta em que a vida se transformou: a de procurar o filho, Rui Pedro, que não vê há 24 anos. À mesma publicação, disse que, na altura, a Polícia Judiciária "não estava preparada para investigar o desaparecimento de uma criança". "Havia falta de preparação e de meios. Passados muitos anos, a PJ reabriu a investigação, mas já era tarde demais. Se se tivessem interessado pelo caso mais cedo, não tenho dúvidas de que os resultados seriam outros", afirmou.
Filomena Teixeira deu o seu testemunho para o filme
O filme Sombra é inspirado no desaparecimento de Rui Pedro, a 4 de março de 1998. O realizador, Bruno Gascon, falou com Filomena Teixeira e com outras famílias cujos filhos desapareceram. Filomena é, no entanto, "a inspiração maior do filme", disse ao Expresso, sublinhando que é "um filme duro".
"Mas é, acima de tudo, uma história de amor, um amor incondicional de uma mãe pelo filho", afirmou, acrescentando que o filme é dedicado a "todos os desaparecidos e a todos os que esperam pelo seu regresso".
Fotos: Impala e D.R.
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