Internacional
Famílias

Os novos modelos

Qua, 18/05/2011 - 14:22

Falámos com duas mulheres que têm filhos de relações diferentes e entrevistámos o psiquiatra e terapeuta familiar Daniel Sampaio que afirma: “A maior diferença das novas famílias é a diversidade.”

"O meu primeiro casamento, não se conversava. Com o meu actual companheiro, fiz um pacto: cá em casa, nenhum de nós os seis se vai deitar chateado com outro membro da família, sem um beijo de boa-noite.” O que quer dizer Patrícia Silva, que já foi casada e agora vive em união de facto com João (nome fictício), o filho dela, a filha dos dois, e, em visitas periódicas, os dois pequenos dele? “Quando alguma coisa acontece, temos de conversar, na hora. E ultrapassar. Porque, caso contrário, alguém vai ficar com aquilo entalado no peito. Passa um dia, um mês, um ano, e alguém vai atirar aquilo à cara do outro. Vai fazer sentido para essa pessoa, mas já não faz para a outra.” Uma convicção confirmada à NOVA GENTE pelo médico-psiquiatra Daniel Sampaio, um dos introdutores da terapia familiar em Portugal. “O debate e o diálogo são fundamentais numa família e num casal, [embora] com a noção de que não se pode falar de tudo.” A característica que o psiquiatra mais destaca nas famílias deste século é “a diversidade”. Ana Costa, tal como Patrícia, é uma das mães que não se inserem no único modelo de família que a sociedade reconhecia no tempo dos nossos pais. Tem duas filhas de pais diferentes, vive com o progenitor da mais nova e a primeira passou, recentemente, a viver com o pai. Como consegue ela conciliar numa só todas estas realidades familiares? “Quando a Joana [13 anos, filha mais velha] está comigo, fazemos muitas coisas em conjunto. Ela e a irmã [de seis anos, gerada na sua actual relação] gostam muito uma da outra. Claro que há discussões, mas também há muito amor e carinho entre ambas. Passamos tempo de qualidade em conjunto.” Além de serem mais diversificadas, as famílias funcionam de forma diferente àquela a que fomos habituados. Perguntámos a Daniel Sampaio se, hoje, existe alguém que mande claramente dentro de cada unidade familiar. Para o especialista, “os pais devem decidir, ouvindo os filhos. No casal, por sua vez, deve haver igualdade”.

Num tempo em que tudo muda, a família não foge à regra. Daniel Sampaio acredita que “a família está em mudança e o casamento estável é menos frequente. Surgem novas organizações familiares e padrões de conjugalidade, mas a família como espaço emocional é cada vez mais importante, sobretudo em épocas de crise”.

Recomendações para os pais de crianças e jovens:

Fale com os seus filhos sobre as regras que têm de cumprir; • Explique-as; • Certifique-se que eles as percebem e que compreendem a sua importância; • Tenha a certeza de que eles entendem claramente as punições pelo seu incumprimento e que elas acontecem sempre que as normas são desrespeitadas; • Assegure-se de que, quando diz não, é não – não é talvez ou sim.
O pai e a mãe não podem mostrar discordância perante os filhos: têm que ter uma posição unânime. Caso contrário, eles não sabem a quem obedecer e podem aproveitar-se dessa incoerência.
Faça refeições com os filhos uma vez por dia, várias vezes por semana, sem a televisão ligada. Aproveite-as para conversar sobre tudo o que aconteceu na vida deles desde a última reunião familiar.
Conheça os amigos dos seus filhos. Promova refeições em conjunto com eles ou encontros para fazer trabalhos de grupo, na sua casa.
Faça programas com os seus filhos: ir ao cinema, ver um pouco de TV ou um DVD, actividades desportivas ou outras que sejam do agrado deles. É uma forma mais descontraída e agradável de iniciar uma conversa sobre qualquer tema (nomeadamente os mais difíceis).
Saiba ouvi-los: fale com eles em vez de falar para eles.
Dê mais importância ao que tem em comum com eles do que às diferenças.

Em conjunto, seja onde for
Em todas as famílias actuais há pouca disponibilidade para os filhos. Existem múltiplas tarefas individuais no quotidiano, os trabalhos de casa, a necessidade de ajudar as crianças a tomarem banho, a adormecerem... Ao fim-de-semana, Ana Costa, uma das mães de família que entrevistámos, tenta passar tempo de qualidade com as filhas, em casa ou fora de portas. As crianças gostam de ir ao jardim, à piscina e aproveitar o melhor possível as horas que passam com a família reunida.

Casamentos mais vulneráveis
Como estará hoje a fidelidade, tradicionalmente, uma das bases de sobrevivência da família? Para Daniel Sampaio, “a sociedade actual é muito erotizada e possibilita muitos encontros onde a dimensão erótica é valorizada. Há maior aceitação da possível infidelidade da mulher, coisa impossível de aceitar na primeira metade do século passado. No entanto, as experiências de infidelidade mantidas conduzem quase sempre à disfunção conjugal”.

A opinião de Daniel Sampaio
Acha que se tem perdido a noção da importância do jogo e das brincadeiras como componentes essenciais na educação e formação das crianças?
Sim. Os pais preocupam-se muito com os filhos, mas nem sempre brincam com eles. Brincar diverte e é uma óptima maneira de ensinar.

A tendência para manter uma relação com os cônjuges a habitarem em casas diferentes, é estatisticamente relevante? O que significa?
Existem poucos casos, mas tende a aumentar. Tem que ver com a preservação do espaço individual e com o receio da ruptura e da dependência.

Siga a Nova Gente no Instagram