Nacional
Falámos com a mulher que dava hambúrgueres a Cristiano Ronaldo

«Espero que tenha impacto na vida do meu filho»

Qui, 19/09/2019 - 21:05

Paula Leça, uma das mulheres que alimentou Cristiano Ronaldo na infância, afirma: «Mudar a minha vida não vai, mas espero que tenho algum impacto na vida do meu filho como um exemplo. A vida é do retorno. Damos e recebemos»

Paula Leça tem hoje 37 anos e nunca pensou que os hambúrgueres que dava há 20 fossem hoje falados pelo mundo inteiro. Cristiano Ronaldo, de 34 anos, fez questão de lhe agradecer numa entrevista visto por milhares de espectadores e a antiga funcionária do McDonald's aplaude a humildade do craque português.

A Nova Gente esteve à conversa com aquela que é uma das mulheres mais procuradas e requisitadas do momento. Na altura tinha 16 anos e fazia um part-time de cinco horas, todos os dias da semana, num quiosque do McDonald's em Alvalade que já nem existe. Agora, o mundo inteiro quer falar com ela. 

«Todos querem saber a história e as pessoas mais chegadas vão achando piada. Acaba por ser um bocadinho incrédulo. Quem sabia desta história eram apenas os mais chegados. Agora foi o Cristiano Ronaldo que partilhou, por isso, acaba por ter o impacto que está a ter», começa por nos contar. 

«Tenho uma memória muito vaga. Eles apareciam ali três ou quatro. Ele ficava sempre um bocadinho mais para trás, penso que fosse mais tímido. Davam o ar da sua graça e nós já sabíamos que o que queriam eram os hambúrgueres. Eles falavam sempre com uma ou outra gerente e diziam: 'Se sobrar um hambúrguer…'. Às vezes sobravam hambúrgueres ou batatas. Mas nunca os vimos comer ali. Eles levavam ou iam comendo pelo caminho até ao dormitório», recorda. 

Identificar que o menino de 12 anos a que dava hambúrgueres é hoje o melhor jogador do mundo não foi difícil para Paula. «Foi muito simples. Na altura ele era um prodígio do Sporting e a minha família era toda do Sporting. Os meus irmãos que eram os mais ferranhos estavam sempre atentos a tudo e, na altura, ele apareceu. Eu também ia vendo e foi acompanhando. Até porque as feições dele não mudaram muito. Foi fácil, foi uma coisa muito natural», explica. 

E como é que um grupo de crianças ia ao McDonald's às 23h00? Paula desconfia que saiam da academia às escondidas. «Não sei se os estou a meter em cheque ou não, mas dava-me a sensação que eles se escapuliam (risos). Não sei se tinham autorização para sair, mas eles apareciam por ali a ver se sobrava alguma coisa e nós dávamos. Também não fazia sentido estarmos a deitar no lixo.»

«Eles não tinham lata para pedir nada. Só perguntavam se tínhamos hambúrgueres»

Paula Leça não se lembra de pedidos especiais nem hambúrgueres específicos. O grupo de amigos só pedia o que houvesse. «Eles não tinham lata para pedir nada. Só perguntavam se tínhamos hambúrgueres. Era o que houvesse.»

E quem eram esses amigos? A antiga funcionária do restaurante não se lembra de nomes, mas por descrições desconfia que dois deles fossem José Semedo e Miguel Paixão, ainda hoje amigos do craque português. 

«Depois de ter falado com algumas pessoas e das descrições que fiz, na altura, havia um alto que já me disseram ser um dos melhores amigos do Cristiano Ronaldo. Já me falaram que podiam ser o José Semedo e o Miguel Paixão. Eles eram os que iam com mais frequência», revela. 

O convite oficial para jantar com Cristiano ainda não chegou, ou talvez Paula ainda não o tenha conseguido atender. «Eu nem sei quem é que já me tentou contactar. Não consegui retribuir as chamadas todas nem abrir as mensagens todas», diz, entre risos. 

«E vai a Turim?», perguntámos. «Isso é que eu queria! Isso era espetacular (risos). Não tem apenas a ver com o jantar. Acima de tudo tem a ver com o facto de ele se lembrar. Na altura isto é capaz de ter tido um impacto grande na vida dele, agora tem na minha. Não sou mais do que ninguém por lhe ter dado os hambúrgueres. Tanto lhe teria dado a ele como a qualquer outra pessoa», afirma. 

«É uma história diferente e, felizmente, é comigo»

«Agora olhando para trás, nunca pensei que tivesse o impacto que teve. Mas para ele falar disto agora é porque realmente o marcou. A humildade dele em transmitir isto publicamente é de louvar. Não pelo jantar, mas pela oportunidade de poder estar com ele. É uma história diferente e, felizmente, é comigo», acrescenta. 

Sem ter noção do paradeiro das antigas colegas, Paula Leça gostava de as reencontrar. «Espero que se consigam encontrar as outras colegas. Na altura não havia Facebook nem telemóvel eu tinha. Eu não sei o que é feito delas. Estou a aguardar para ver como corre. Era muito mais giro fazer isto em grupo. Na altura éramos sempre três no restaurante e nem sequer havia a hipótese de voltar a encontrar ninguém.»

Já o filho mais velho da antiga funcionária do restaurante, que não acreditava na história da mãe, está ansioso por conhecer o melhor do mundo. 

«Já me disse hoje que nem sequer precisava de comer, que só queria estar com ele. Acredito que o problema não seja pagar o jantar, mas se houvesse o convite claro que ele iria comigo. Ele agora tem a idade que tinha o Ronaldo nesta altura, tem 12.  É fã, claro.»

«A vida é do retorno. Damos e recebemos»

Paula Leça nunca pensou em enviar mensagem a Cristiano Ronaldo, mas agora que esse desejo partiu do jogador adorava voltar a encontrá-lo. Não considera que a sua vida vá mudar, mas promete guardar a história como um exemplo. 

«Eu penso que seja uma coisa passageira. Mudar a minha vida não vai, mas espero que tenha algum impacto na vida do meu filho como um exemplo. A vida é do retorno. Damos e recebemos. Isto nem sequer era um sonho, mas acaba por ser uma aventura na minha vida. Só quero que o meu filho tenha a noção que, não fazendo o bem à espera de receber alguma coisa em troca, a vida retribui-nos. Espero que seja essa a lição», finda. 

Texto: Mariana de Almeida; Fotos: Impala e reprodução Facebook e Instagram

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