Nacional
Eusébio

O corpo já não está na campa há dois dias

Sex, 03/07/2015 - 10:30

O Pantera Negra vai ser transportado hoje às 15h para o Panteão Nacional, mas o seu corpo foi retirado da campa na quarta-feira e colocado numa sala especial do cemitério do Lumiar, sem que ninguém soubesse.

Naquela que é considerada a mais alta homenagem a um cidadão português, Eusébio da Silva Ferreira vai repousar no Panteão Nacional ao lado de ilustres figuras como Amália Rodrigues, Sophia de Mello Breyner Andresen ou Óscar Carmona.

A cerimónia vai ocorrer hoje,3 de Julho, entre as 15h e as 19h e irá contar com a presença da família e altas figuras do Estado Português e começa com a saída do cortejo do Cemitério do Lumiar.

Mas segundo o que a NOVA GENTE e o site Até Sempre puderam apurar, o corpo do Pantera Negra não vai ser retirado e exumado da campa, mas sim de outro local no interior do cemitério.

A exumação de Eusébio terá sido realizada no passado dia 1 por volta das seis da manhã, envolto no maior secretismo. Segundo várias fontes, o cemitério foi fechado ao público e elementos da empresa Servilusa – agência contratada pelo Sport Lisboa e Benfica para a realização do funeral – juntamente com os coveiros locais, retiraram o corpo do antigo futebolista da campa, transportando-o para uma sala especial dentro das instalações do cemitério, à qual só pode ser acedida pela família do craque e por pessoal autorizado.

“Não sendo um cadáver, à luz da lei da Câmara Municipal de Lisboa, com mais de cinco anos, o processo de mineralização ainda não se deu. Assim sendo, por uma questão de saúde pública, foi necessário ter todos os cuidados antes da ida para o Panteão Nacional. O que significa que o corpo de Eusébio foi colocado numa “urna de zinco soldada com respiradores e posteriormente inserido dentro da urna que vai para o Panteão”, refere o site Até Sempre.

O processo decorreu sem alaridos e às 9h do dia seguinte, o cemitério estava de novo aberto ao público. Tanto a NOVA GENTE como o Até Sempre entraram em contacto com a Servilusa para confirmar o sucedido. “Não nos pronunciamos sobre a transladação do corpo de Eusébio da Silva Ferreira. Todo o processo é da responsabilidade da Assembleia da República”, disse Vanessa Samora, fonte da empresa funerária.

A campa foi novamente arranjada Pelo que foi possível apurar, após a exumação do corpo, os coveiros presentes voltaram à campa e “trataram” do local, de modo a que nada indicasse que tinha sido mexida. Foram várias as pessoas – adeptos do Benfica e fãs do Pantera Negra – que se deslocaram ontem até ao local para prestar uma última homenagem a Eusébio, não notando nenhuma anomalia sem saber que afinal o corpo do seu ídolo já não se encontrava ali.

A NOVA GENTE tentou também entrar em contacto com o Cemitério do Lumiar mas sem sucesso. Já o site Até Sempre falou com o responsável do local Benvindo Veiga que referiu não poder “prestar declarações”.

Desde ontem que a rua que dá acesso ao Cemitério do Lumiar está encerrada ao público por motivos de pavimentação, com policiamento na redondeza. A urna já foi queimada Noticia ainda o site Até Sempre que o caixão em que o corpo de Eusébio foi enterrado no dia 5 de Janeiro de 2014 foi imediatamente queimado após a exumação devido ao elevado estado de degradação, deixando a suspeita de que afinal não seria feito de “Pau Santo” - uma das madeiras mais resistentes e caras do mercado – mas sim de outro material.

O mesmo site refere também que o tipo de madeira que supostamente terá sido usado no caixão custa “entre 13 a 25 mil euros”, como diz um elemento do Grupo Baldaia, um dos maiores fabricantes de urnas em Portugal. Recordamos que os custos funerários foram suportados pelo Benfica, na ordem dos 90 mil euros, enquanto a transladação será suportada pelo Estado Português.

Os vários problemas legais As circunstâncias à volta da mudança do corpo de Eusébio Ferreira para o Panteão Nacional são excecionais à lei, por várias questões. Segundo o decreto lei nº411/98, artigo 22º, “A trasladação de cadáver é efectuada em caixão de zinco, devendo a folha empregada no seu fabrico ter a espessura mínima de 0,4 mm”, obrigando assim a que o corpo seja mudado do caixão de madeira em que foi sepultado para outro específico.

O mesmo decreto lei diz ainda que é proibida “a abertura de sepultura ou local de consumpção aeróbia antes de decorridos três anos, salvo em cumprimento de mandado da autoridade judiciária”. Ou seja, fora exceções especiais, um corpo só pode ser transladado ao fim de três anos, sendo que em Lisboa esse período aumenta para os cinco anos.

“Salvo em cumprimento de mandado judicial, a abertura de sepultura para o efeito da exumação de corpo que nela tenha sido inumado em caixão de madeira, ou em caixão de chumbo ou zinco abertos nos termos da 11 parte final do artigo 120.°, só poderá realizar-se passados cinco anos sobre a data do enterramento”, pode ler-se no regulamento dos cemitérios municipais de Lisboa, disponível no site da Câmara Municipal de Lisboa.

O assunto foi abordado várias vezes ao longo do último ano pelo grupo de trabalho do Parlamento designado para o efeito, sendo que a lei do Panteão permite que uma transladação seja feita um ano depois da sua morte.

Foi noticiado que que seria obrigatório existir uma autorização da Procuradoria Geral da República para efeitos legais, algo que não chegou a acontecer como referiu ontem o deputado Duarte Pacheco.“Houve uma conversa informal entre a presidente da Assembleia da República e a Procuradoria. Da conversa resultou o entendimento de que não era necessário pedir esse parecer, não sendo necessário então alterar a lei. É tudo o que há a dizer", disse Duarte Pacheco à comunicação social.

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