Maria Borges, de 25 anos, nasceu em Angola e nunca pensou que um dia se ia tornar numa das manequins mais requisitadas pelas maiores marcas de Alta Costura. O sucesso da jovem é inegável e a Nova Gente quis, por isso, ficar a conhecer um pouco mais da vida e do percurso daquela que fez história por ser a primeira negra com cabelo afro curto num desfile da marca de lingerie Victoria's Secret.
Como surgiu a paixão pelo mundo da moda?
No início, nunca pensei que a moda pudesse vir a ser uma paixão. Desde pequena que queria ser médica e salvar vidas. Mas, felizmente, surgiu uma grande oportunidade no mundo da moda e, desde então, levo muito a sério o meu trabalho.
Todos sabemos que esta é uma área bastante competitiva, como foi o seu percurso até entrar realmente neste mundo?
O percurso foi difícil, sem dúvida, mas aos poucos fui descobrindo o segredo para o sucesso: ser autêntica. Assim que cheguei a Nova Iorque, pela primeira vez, fiz 17 shows e, mais tarde, com a exclusividade da Givenchy abriram-se muitas portas para mim.
Em 2012, foi a sua grande estreia na NY Fashion Week. Acreditamos que seja um mundo completamente diferente daquilo a que estava habituada. Qual foi a sua reação? Foi o realizar de um sonho? O que é que sentiu?
Cheguei sozinha a Nova Iorque durante uma enorme tempestade na cidade. Foi, sem dúvida, um episódio assustador mas percebi que ia conseguir superar-me e dar o meu melhor. A partir daí, consegui provar à minha agência de Nova Iorque que esta oportunidade não ia ser em vão. A equipa apostou em mim e, de seguida, fui viver para lá. Arrisquei muito, mas o orgulho que senti por estar a representar o meu país e a Comunidade de Países de Língua Portuguesa foi mais forte do que tudo.
«Ter tido esta oportunidade foi mesmo único»
Essa foi realmente a sua rampa de lançamento a nível internacional. Entretanto, tornou-se na única angolana a participar na Semana de Alta Costura de Paris e em todas as semanas oficiais do circuito internacional de moda. É um orgulho para si ter alcançado este feito?
Conheço mais modelos angolanas que tentaram vingar no mundo da moda e, em relação à Semana de Alta Costura, penso ter sido a segunda e não primeira a participar. No entanto, sou a modelo angolana que esteve mais vezes presente nas Semanas da Moda e que teve oportunidade de desfilar para grandes casas como: Chanel, Dior, Versace, Giorgio Armani, Tom Ford, entre outras.
Qual é a sensação de desfilar para grandes marcas como a Dior, Tom Ford, Givenchy, etc.?
É, sem dúvida, uma sensação de dever cumprido. Hoje olho para trás e penso que, após seis anos de carreira, ter tido esta oportunidade foi mesmo único. Além disto, perceber que cada vez mais modelos angolanas têm tido esta oportunidade deixa-me profundamente feliz e orgulhosa.
«Deixei a minha marca na Victoria's Secret»
Como é que recebeu o convite da Victoria's Secret para desfilar? Foi um momento de grande emoção? Já tinha esse desejo? Gostava de repetir a experiência?
O desfile para a Victoria’s Secret foi um trabalho importante para o meu currículo e para a minha introdução ao lado comercial no mundo da moda, porque até então só fazia trabalhos para marcas de Alta Costura. A VS foi importante, não só porque tinha as asas, o grande destaque da noite, mas também porque me consagrou como modelo full time para desfiles. Para além disso, fiz história ao ser a primeira negra com cabelo afro curto, em 2015 no desfile, e deixei a minha marca na VS.
Fez história por ter sido a primeira modelo a desfilar com o cabelo afro natural. Sentiu que esse foi um momento importante para a moda?
Sim! Sinto que consegui abrir caminho para que mais modelos pudessem desfilar com cabelo afro curto.
Vivemos num tempo em que há "lugar" para modelos de todas as medidas e tamanhos, sente que chegou finalmente o momento de viragem?
Sinto que sempre existiram essas oportunidades no mercado para modelos ‘diferentes’ mas em muito menor escala. Hoje em dia, há uma maior aceitação e respeito pela diversidade - não só na moda - e é mais fácil ver caras e corpos diferentes. Espero é que não seja só uma temporada…
Este percurso exigiu vários esforços e cedências da sua parte. Quais foram os maiores desafios que enfrentou até agora?
Sem dúvida de que o meu maior desafio são as saudades que tenho da minha família. No início custou-me muito não os ter por perto, mas agora faço sempre de tudo para os poder levar comigo onde quer que vá.
«Ainda há muito para conquistar»
Neste momento está a viver em Nova Iorque. Como foi a mudança? De certo que sente falta da família e dos amigos que deixou em Angola. Como é que faz esta gestão? Consegue, na sua agenda preenchida, ter tempo para estar com aqueles de quem mais gosta?
A minha família completa-me e os meus amigos fortalecem-me. Por isso, esforço-me muito por tê-los sempre por perto e não me importo de viajar 14 horas seguidas para lhes dar um abraço apertado e matar as saudades.
Aos 25 anos, a Maria já conquistou o mundo da moda. Mas de certo que ainda tem sonhos por realizar…quais são esses sonhos? O que é que ainda falta fazer?
Sobre o mundo da moda posso dizer que todos os dias é um recomeço, ainda há muito para conquistar, mais contratos, campanhas, capa de revista, etc. Da parte pessoal, os negócios que 'plantei' estão a dar frutos e estou a geri-los na medida do possível.
Há quase seis anos, abri a minha própria agência em Angola, a The Star Management, com o propósito de cuidar da minha carreira, junto com a da minha irmã. A agência tem vindo a crescer todos os dias e tem vindo a dar oportunidade a novos talentos em Angola e de alguma forma a lançá-los para o mercado internacional. Tenho estado também a desenvolver alguns investimentos a nível mundial com o objectivo de trabalhar para melhorar o setor da Saúde e da Educação.
Texto: Inês Marques Fernandes; Fotos: Reuters e reprodução Instagram
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