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E Agora América?

A nova América de Trump

Sex, 20/01/2017 - 10:15

O impensável aconteceu. O que, durante dois anos, foi motivo de riso, é agora real: Donald Trump é o novo presidente dos EUA. As sondagens enganaram­‑se e os media também não conseguiram prever o desfecho. O Mundo
ficou boquiaberto: alguém sem experiência política alcançou “a cadeira” mais poderosa de todas. Para já, os nervos dos outros governantes misturam­‑se com a ansiedade que o próprio, sem dar sinais, terá perante o que lhe espera. E agora, América?

No discurso da vitória, Trump esteve calmo e até houve quem acreditasse que o líder seria diferente do candidato. Contudo, na primeira entrevista, confirmou que vai cumprir muitas das medidas prometidas. O Mundo inteiro treme de incerteza...

As questões de saúde

O sistema de saúde criado por Barack Obama, o Obamacare, tem os dias contados. Na campanha, o agora presidente assinalou que pretende reger­‑se pelos princípios básicos do mercado livre, em que “o melhor programa social sempre será o emprego”. Nesse sentido, o presidente acredita que a criação de mais postos de trabalho e a melhoria económica permitirão que grande parte dos americanos possam pagar as suas próprias despesas de saúde sem depender do Estado. Trump propõe que a compra de seguros de saúde não seja obrigatória e que eles devem, inclusive, ser oferecidos em todos os estados, sem restrições. Além disso, Trump sugere a criação de health savings accounts (HSA), uma espécie de poupança para gastos com saúde que pode beneficiar qualquer membro da família do titular. O republicano também defende a transparência nos valores cobrados por médicos, hospitais e instituições, e a livre competição entre eles. As regras do mercado livre serão aplicadas também aos fabricantes de medicamentos.

A educação

Donald Trump defende que o Governo federal não deve interferir na educação e que esta deverá ficar a cargo de cada estado. Apesar de não ter apresentado nenhum plano alternativo, o novo presidente crê que o Governo não deverá lucrar com empréstimos estudantis. Donald Trump diz apenas que pretende “fazer algo muito inteligente em relação ao financiamento”. Mas não só: o magnata pretende que as escolas deixem de ser “zonas livres de armas”, considerando importante que as pessoas possam usar armas dentro e à volta dos estabelecimentos de ensino. Para Donald Trump, as escolas onde não existem armas são “iscos” para ataques de indivíduos com problemas mentais. Para o bilionário, falta competição na educação. Uma questão que acaba por ser relevante, tanto no que diz respeito às oportunidades da carreira docente, como para os modelos de escolas oferecidos aos jovens cidadãos.

O muro com o México é para avançar

Foi uma das medidas mais polémicas da campanha de Donald Trump. A forma como o republicano pretende tratar os imigrantes, principalmente os ilegais, fomentou grande controvérsia na sociedade norte­‑americana e acaba por ser um dos pontos mais conhecidos do programa. Trump prometeu construir um muro na fronteira dos EUA com o México, obrigando­‑o ainda a pagar pela obra, sob pena de ameaças de sanções, cobranças de dívidas e cortes de acordos comerciais. O presidente afirma que “uma nação sem fronteiras não é uma nação” e promete, por isso, expulsar todas as pessoas que estão ilegais nos EUA e que são cerca de 11 milhões. Porém, acrescenta que quem confirmar e comprovar ser “boa pessoa” será aceite de regresso aos Estados Unidos, de forma legal.

Política externa e economia

Durante toda a campanha, Trump fez questão de realçar que, na sua política governativa, os EUA estarão sempre em primeiro lugar, mesmo que, para isso, precise de sacrificar os interesses dos aliados. O magnata discorda da forma como os outros países se encontram demasiado dependentes do seu e diz que os rivais deixaram de temer a grande potência que os EUA foram outrora. Neste sentido, o presidente pretende ampliar o poder militar norte­‑americano para que os Estados Unidos da América voltem a ser um país temido e poderoso. O que também chocou muitos foi o facto de Trump, durante a campanha, ter afirmado que defende a adoção de táticas de tortura, acrescentando que poderia aprovar técnicas ainda mais duras do que o waterboarding – um tipo de afogamento, atualmente proibido. O multimilionário acredita que os EUA precisam de ser “imprevisíveis” e contempla, nessa imprevisibilidade, o recurso a armas nucleares. A presença de armamento nuclear poderá ser acionado em situações como a que sucedeu em Bruxelas, quando ocorreram os ataques terroristas, no início de 2016. Para tal, o novo presidente pretende que o país se vire mais para a própria defesa do que para os aliados. Para ele, o Japão e a Europa necessitam de investir mais na segurança e deixar de depender da ajuda norte­‑americana. Trump tem também por objetivo modernizar o arsenal nuclear, procurando uma convivência pacífica com países como a China e a Rússia. Contudo, nesta questão, o presidente garante que pretende traçar um limite, respondendo duramente quando alguém o ultrapassar. O magnata quer, obviamente, impedir o avanço do islamismo radical, trabalhando de perto com aliados no mundo muçulmano, mas impondo o respeito e a gratidão dos países que forem ajudados pelos EUA. No que diz respeito à política económica, a grande promessa de Donald Trump vai para o aumento de emprego. Segundo o presidente, os EUA vão deixar de perder indústrias e trabalho para países como a China e o México, e ameaça penalizar as empresas que desejarem abandonar o país. Trump assume a vontade de aumentar os impostos para quem o fizer ou, então, para quem não der prefencialmente trabalho a cidadãos norte­‑americanos. No que diz respeito aos impostos, Trump promete aumentar as taxas para quem tem mais dinheiro e diminuí‑las para os pobres. Uma medida em relação à qual o magnata, durante a campanha, acabou por voltar atrás. Para já, pretende simplificar e reduzir os impostos para todos os americanos, fazendo com que as empresas também paguem menos.

Textos: LÍDIA BELOURICO ([email protected]); Fotos: Reuters, Shutterstock e D.R.

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