Dr. Vitor Costa
Assistente graduado de cirurgia geral, consulta de proctologia no Hospital da Luz Guimarães
“É importante combater o estigma associado às hemorroidas”
A doença hemorroidária, embora bastante comum, é frequentemente tratada inadequadamente, quer pela dificuldade em identificá-la, quer pelo medo e preconceito, que fazem protelar a procura de ajuda adequada.
Afeta igualmente homens e mulheres, sendo mais frequente entre os 45 e 65 anos, em pessoas obstipadas ou durante a gravidez.
As hemorroidas apresentam-se como vasos sanguíneos dilatados e salientes no canal anal: em redor do ânus – hemorroidas externas – ou dentro dele – hemorroidas internas -, podendo ambos coexistir.
As queixas mais frequentes são:
- Hemorragia (perda de sangue vivo pelo ânus, após a defecação – o sangue que pinga na sanita), sintoma que surge igualmente em patologias mais graves (cancro);
- Dor, especialmente na crise hemorroidária ou quando esta evolui para trombose hemorroidária (formação de um coágulo dentro da hemorroida que, sob tensão, origina dor muito intensa e obriga muitas vezes à sua drenagem para o alívio);
- Prurido anal – habitualmente associado a hemorroidas externas e deve-se à escorrência anal que elas provocam.
As hemorroidas internas são classificadas em quatro graus, conforme o nível de prolapso (ou exteriorização) através do ânus, do grau I, menos grave, até ao grau IV, em que estão totalmente prolapsadas, sem possibilidade de redução.
A existência de hemorroidas é normal, contudo estima-se que até 50% dos doentes podem ter queixas, e só nestes doentes se deverá intervir.
Inicialmente, recorre-se ao tratamento médico, sobretudo eficaz nas hemorroidas graus I e II. No caso da sua falência, propõe-se tratamento cirúrgico, este reservado a doentes com hemorroidas grandes e com prolapso significativo (graus III-IV).
O tratamento médico pode consistir em:
- Dieta, aumentando a quantidade de fibras (frutos, vegetais, cereais) e líquidos na dieta, e mudança de estilo de vida, promovendo exercício e perda de peso;
- Alteração de hábitos defecatórios, nomeadamente corrigindo a obstipação, seja pela alimentação ou, e alguns casos, com recurso a laxantes;
- Para alívio de sintomas menos intensos podem-se usar banhos de assento ou compressas frias;
- Recurso a medicamentos, de uso tópico e/ou orais.
No tratamento cirúrgico, existem:
- Técnicas clássicas, de remoção das hemorroidas (hemorroidectomia);
- Cirurgia a laser, nova técnica inovadora com esclerose das hemorroidas, levando a uma redução significativa das mesmas, eliminando as queixas. É uma intervenção minimamente invasiva, realizada em ambulatório, que permite uma recuperação muito mais rápida e uma redução bastante significativa da dor. É importante combater o estigma associado às hemorroidas. Muitos doentes sofrem em silêncio durante anos. Por receio e vergonha, escondem um problema que afeta seriamente a sua qualidade de vida e pode levar a problemas mais sérios, como a anemia. Portanto, não hesite, se tiver queixas, procure o seu médico especialista.
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