Nacional
Diogo Morgado

"Foi muito difícil gravar". Ator faz revelações sobre bastidores de "Para Sempre" (Entrevista)

Sáb, 11/12/2021 - 21:45

Diogo Morgado deu uma entrevista à NOVA GENTE e conta que este projeto da TVI foi um dos mais tensos em que trabalhou. O ator fala ainda do regresso a Hollywood e de outros projetos que tem em mãos.

Diogo Morgado, que dá vida a Pedro Valente em "Para Sempre", a nova novela da TVI, revela, numa entrevista exclusiva à NOVA GENTE, que este foi um dos projetos mais tensos da sua carreira. O ator garante que esta história ainda reserva muitas surpresas e fala ainda do seu trabalho em Hollywood.

Quem é o Pedro Valente, da novela "Para Sempre2?
O Pedro é acima de tudo um sobrevivente. Deixado sem razão, ele cresceu nas ruas, em casas de correção e famílias de acolhimento. Com a raiva e a indignação de ter sido abandonado, ele só não caiu em desgraça porque sempre teve a orientação moral do padre Elias [António Capelo]. Fizeram-no acreditar que tinha sido abandonado por a família não ter condições para o sustentar e, quando, já em adulto, descobre a verdade, não consegue simplesmente avançar com a sua vida sem saber o porquê de a mãe o ter abandonado. Hoje, é um homem com posses, mas, apesar de ter saído das ruas, as ruas não saíram dele.

A novela estreou recentemente, mas já está completamente gravada. O que podemos esperar desta história?
Esta história atravessa muitas fases e reserva surpresas, tanto nos eventos como na origem das personagens. Posso dizer, por exemplo, que ainda não sabemos de onde vem a fortuna do Pedro Valente. E, quando se souber, vai surpreender muita gente...

Como ator, prefere que a novela vá para o ar completamente gravada ou prefere que haja a possibilidade de fazer algumas mudanças ou ajustes enquanto está a ser transmitida?
Honestamente, a maioria dos atores prefere uma novela aberta, pois pode ir ajustando à medida que vai tendo o feedback do público. Eu, honestamente, não me importo de gravar sem o feedback imediato do público. Muito do nosso trabalho passa por escolhas e é nosso dever sustentá-las o suficiente para que não dependam da opinião imediata de quem vê. Julgo que, tal como o cinema ou teatro, a novela pode ser uma obra fechada, feita para ser vista, independentemente da reação imediata do público.

Diogo Morgado conta como geriu as gravações no pico da pandemia

A novela foi gravada em plena pandemia, quando os números diários ainda eram assustadores e os hospitais estavam um verdadeiro caos. Foi difícil para a equipa gerir as gravações?
Foi muito difícil gravar sob essas condições. Mas julgo que a maior de todas era mesmo a gestão emocional das equipas no dia-a-dia, de um trabalho que depende muito da proximidade física e emocional de todos os envolvidos, tanto técnicos como artísticos.

“Há muito de tudo o que vivemos com esta pandemia nesta história, muitas perdas, reinventar, readaptar, repensar e aprender a sentir, quando tudo à volta é tensão.” Escreveu isto nas redes sociais no final das gravações. Como foi gerir essa tensão e de que forma é que esse estado de espírito influenciou o vosso trabalho?
Eu, obviamente, só posso falar por mim. A verdade é que esta pandemia afetou-nos a todos de maneira igual, mas cada um reagiu de forma diferente. Para mim, fazer este formato de longa duração depende diretamente de uma série de elementos que ficaram seriamente comprometidos nesta pandemia. Assim sendo, muito do que fizemos foi resultado de coisas e processos que tivemos de repensar e reinventar. Nesse sentido, sinto que a essência da criatividade acabou por ser uma grande arma a nosso favor.

Na mesma publicação, escreveu sobre a sua personagem: “Sei que lhe dei muito da minha frustração e revolta”. Essa frustração e revolta eram fruto deste ambiente de medo que se gerou com a pandemia?
Sim e não. Fruto desse medo, mas fruto da frustração e revolta que todos vivemos, este caminho sem respostas e sem luz ao fundo do túnel em que todos fomos atingidos. Sinto que acabei por usar tudo isso na minha personagem, embora, obviamente, servindo a história.

Esta partilha foi feita a acompanhar uma fotografia em que surge abraçado à Inês Castel-Branco, dizendo que esteve sempre ao seu lado e que tomaram conta um do outro. O facto de esta novela ter sido gravada com todas as dificuldades já referidas aproxima mais os intervenientes do projeto? Criam-se laços mais fortes?

Sim, sem dúvida. Fica aquele sentimento de um grupo de pessoas que passou por um evento difícil fora do normal e que, pelo facto de estarmos todos nas mesmas condições, percebíamos perfeitamente o que o outro estava a passar. Obviamente que isso cria laços únicos e muitos especiais para a vida que marcam “para sempre”.

Diogo Morgado: "Gosto de personagens densas"

Com tudo de mau que se viveu durante as gravações, pode dizer-se que foi um dos projetos mais difíceis da sua carreira?
Não diria que foi o mais difícil, mas foi, sem dúvida, um dos mais tensos. Mas apenas porque também terá sido dos períodos mais tensos das nossas vidas no geral. Ninguém estava preparado para isto.

Este Pedro Valente é uma personagem muito densa emocionalmente, tal como também era o Simão da novela "A Teia". São estes papéis que lhe dão mais gozo fazer?
Não vou esconder que gosto de personagens densas, com muitas camadas, com passados específicos que fazem delas o que são hoje. Eu gosto deste tipo de papéis nestes formatos de longa duração, porque permitem fazer arcos criativos mais interessantes. Temos tempo para dar a conhecer a personagem de uma forma e depois ir desconstruindo aos poucos e fazer com que o público assista àquilo que os eventos vão fazendo de mudança nas personagens. Julgo que, com personagens mais lineares em novelas, o trabalho pode tornar-se cansativo, tanto para quem faz como para quem vê.

Tanto o Pedro como o Simão – e estes são apenas dois exemplos – eram homens com vidas muito diferentes da sua, com muitos dramas familiares por resolver. Como ator, como é que se vivem essas emoções que nunca se experienciaram?
Como qualquer outra experiência que muito provavelmente nunca terei, como se tiver de interpretar um assassino ou um pedófilo. Um ator não tem de usar a sua vida no trabalho. Usa o estudo, a sua visão e sensibilidade para criar uma alternativa possível para uma personagem com aquelas condições. Até há quem diga que não se trabalha na realidade, trabalha-se na perceção da realidade. Muitas das vezes, a realidade parece muito mais inacreditável.

Há atores que têm dificuldade em “desligar” da personagem ao fim do dia, principalmente quando estas têm exigências emocionais muito fortes. Como é o seu caso?
Não tenho problema nenhum em desligar, por assim dizer. É claro que, se tivermos algumas cenas emotivas durante um dia de rodagem, não escondo que posso ficar um pouco mais sensível o resto do dia. Mas isso é algo normal, é evocarmos uma energia que demora o seu tempo a passar, como qualquer outra coisa.

Os elogios a Pedro Teixeira e Maria Botelho Moniz

Está prestes a estrear o filme que realizou, Irregular, com Pedro Teixeira no papel principal. Que 'ingredientes' tem esta longa-metragem para cativar os portugueses?
Este filme é um thriller de ação no verdadeiro sentido do termo. É uma história que, no fundo, é um puzzle em que a personagem do Pedro Teixeira foi vítima e desenvolve-se uma corrida frenética para que ele recupere o que é mais precioso para ele, a família. Julgo que, para quem gosta de histórias cheias de reviravoltas, em que aquilo que pensamos é posto à prova a cada dado novo, este filme será uma verdadeira caixa de surpresas. O argumento foi escrito para levar o espetador a estar junto com o protagonista na ânsia de respostas.

Foi o Diogo que escolheu o elenco? Se sim, porquê o Pedro Teixeira e o regresso da Maria Botelho Moniz, que também participou no "Solum"?
Sim. Com a exceção de um elemento, todos os outros foram convidados. São amigos e colegas que já conhecia e com quem já tinha trabalhado e que, acima de tudo, admiro muito. O Pedro, que tem aqui uma interpretação extraordinária, entregou-se a esta história desde o primeiro segundo. Era importante ter alguém que fosse um leão com coração de cordeiro e o Pedro pode ser tão emocional quanto feroz. Era importante ter um ator com esse espetro e o Pedro é incrível nisso. A Maria, eu já conheço há muitos anos. Trabalhámos várias vezes juntos e tratamo-nos desde aí por “manos”. É um talento inegável. Muitos só repararam na sua vertente enquanto apresentadora, mas, para mim, a Maria será sempre uma atriz de formação. Tenho um grande amor e admiração por ela, assim como pelo resto do elenco. O João de Carvalho, há anos que sonho fazer um filme com ele, a Laura [Barbosa] vi-a em palco no teatro com o meu irmão, olhámos um para o outro e dissemos “temos de trabalhar com ela”. São só alguns exemplos.

A Margarida Serrano, que também entra no filme, fez de sua filha na novela "A Teia". É uma menina ainda em início de carreira, mas já vê nela características de uma grande atriz?
Sempre vi. Foi por isso que a escolhi como minha filha nessa novela. Logo depois, também fez uma participação no "Solum". É uma menina com a cabeça e o coração no lugar certo. O talento é-lhe natural. Quando chegar a hora certa, se lhe der a fome de querer crescer como atriz, ninguém a vai parar e eu vou estar cá a aplaudir.

Além destes dois projetos já terminados, tem agora um novo em mãos: um documentário sobre o Rouxinol Faduncho, personagem do Marco Horácio. Como surgiu esta ideia?
Na verdade foi o próprio Marco Horácio que me convidou. A personagem tem mais de 16 anos e o Marco e a produtora queriam fazer um documentário sob a visão de alguém alheio ao projeto e ao fado e convidaram-me.

O que pode dizer sobre este documentário?
Posso dizer que será mais do que um documentário sobre uma personagem cómica. Será uma viagem às origens de um artista, do ser humano e do próprio fado. Será uma perspetiva de como a arte pode ter muitas formas, mesmo aquelas que não são assim consideradas.

Diogo Morgado fala do regresso a Hollywood

É inevitável fazer-lhe uma pergunta, que penso ser uma curiosidade de todos os portugueses. Quando vai voltar a fazer um filme em Hollywood?
Ainda este ano estreei "Santuário das Sombras", um filme da Sony produzido pelo Sam Raimi. Eu acho que isso não é daquele tipo de coisas que se escolhe ou se prevê. Acaba sempre por ser quando a oportunidade se cruza com a ocasião.

Interpretar Jesus Cristo foi um ponto de viragem na sua carreira ou sente que foi apenas mais uma experiência?
Eu não sinto como tendo sido uma viragem. Felizmente, sempre trabalhei bastante e, mesmo antes do "Son of God" ["Filho de Deus"], já tinha feito várias coisas nos EUA, assim como depois. A única coisa de diferente terá sido fazer parte de um trabalho que atingiu um alcance em todo o Mundo e não só nos EUA e Europa.

Estamos quase em 2022. O que espera deste novo ano?
Espero sinceramente que o novo ano nos devolva algum sentido de normalidade. Que as muitas famílias que estão em dificuldades, para se recomporem do rombo emocional e financeiro de maldito vírus, consigam ver a luz ao fundo do túnel. Que se invente medicação para evitar que quem fique contagiado piore. Que tudo o que aconteceu nestes dois anos tenha trazido algum sentido. Espero continuar a contar histórias como forma de vida e espero contribuir para elevar o que por cá se faz.

Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: D.R.

Siga a Nova Gente no Instagram