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Crónica Francisco Guerreiro

Espaço, clima e desigualdades sociais

Qua, 28/07/2021 - 19:30

Neste mês assistimos ao início da comercialização do turismo espacial. Tanto Richard Branson, da Virgin Galactic, como Jeff Bezos, da Blue Origin, fizeram os primeiros voos comerciais espaciais, abrindo assim a corrida a mais um segmento turístico.

Neste mês assistimos ao início da comercialização do turismo espacial. Tanto Richard Branson, da Virgin Galactic, como Jeff Bezos, da Blue Origin, fizeram os primeiros voos comerciais espaciais, abrindo assim a corrida a mais um segmento turístico. Porém, este não só demonstra a cegueira ideológica em torno de um capitalismo predatório como garante que os esforços necessários para travar os impactos das alterações climáticas são cada vez mais difíceis de alcançar.

Todos sabemos que muitos dos avanços tecnológicos surgiram de classes elitistas, corporativistas, ou sectores privilegiados, como os militares, e que daí emanaram para o resto da civilização. Mas será que no pré-colapso ecológico que vivemos, onde a disparidade social e económica entre estratos da população é cada vez mais vincada, o turismo espacial é realmente relevante para uma sociedade descarbonizada? Creio que não.

Para contextualizar precisamos de ter em mente que o 1% dos mais ricos são responsáveis pelo dobro das emissões de dióxido de carbono (CO2) que os 50% mais pobres (estamos a falar de mais de 3 mil milhões de pessoas). Mais, se analisarmos os 10% mais ricos verificamos que estes reflectem cerca de 52% das emissões totais de CO2, o que faz com que a responsabilidade da crise climática seja, em grande parte, desta secção da sociedade.

Mais, se analisarmos as políticas públicas, este sistema social, cultural e económico fomenta a superconcentração de riqueza. A isenção de taxação, o fomento de políticas globais de competição fiscal, de desregulamentação, a falta de coragem para travar os paraísos fiscais, entre outros mecanismos, faz com que cada vez mais poucos tenham muito e muitos tenham pouco.

E, neste sentido, por mais idílico que possa parecer esta corrida ao turismo espacial, que apenas está acessível aos super-ricos, é totalmente irracional pensarmos que, em plena crise climática, social e económica, ela beneficiará todos nós.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

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