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Crónica de Francisco Guerreiro

Repensar a aquicultura - Capítulo II

Qua, 08/02/2023 - 07:45

Continuando a falar sobre este tema importa quantificar o impacto do sector das pescas no Mundo, mas sobretudo falar do nosso incomportável consumo de peixe e de outras espécies marinhas.

Continuando a falar sobre este tema importa quantificar o impacto do sector das pescas no Mundo, mas sobretudo falar do nosso incomportável consumo de peixe e de outras espécies marinhas.

Para contextualizar, e quebrar o mito perpetuado pela indústria pesqueira, Portugal é o país que mais consume peixe per capita na União Europeia (UE) e o terceiro no Mundo. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) cada Português consome por ano 57.19kg de pescado/marisco e este valor é mais do dobro do consumo médio dos 27 Estados da UE (24.35kg). Primeiro está a Islândia com um consumo de 91.19kg, mas é uma ilha nórdica sem grande terra arável, e em segundo as Maldivas, com um consumo de 84.58 kg, porém também este sofre do mesmo problema agrícola sendo inclusive o país geograficamente mais disperso do planeta.

“Ah, mas estes consumos são os necessários para termos os nutrientes suficientes e mantermos uma saúde plena”, podem clamar. Nem por isso, pois os valores de consumo de proteínas animais, vindas de fontes aquáticas ou terrestres, são largamente excessivas na UE (e em Portugal) tal como podemos apenas utilizar proteínas vegetais, também aquáticas e terrestres, para prosperar. Isto é especialmente relevante quando concebemos que importamos na UE cerca de 60% destes bens alimentares que derivam de algum tipo de meio marinho. Ou seja, esta indústria, como está, é totalmente insustentável.

E, em valores absolutos, falamos de mais de mil milhões de animais (sem contar com marisco e afins) que são capturados na UE todos os anos, o que simboliza cerca de 4 milhões de toneladas (é um volume bem difícil de contemplar). “Talvez por isto o sector da aquicultura seja tão necessário”, podem mais uma vez comentar. Ou seja, a aquicultura é uma solução para responder a esta insustentabilidade na balança comercial e ao aumento exponencial do consumo de produtos marinhos. Mas será mesmo? Falemos melhor disto no próximo artigo de opinião.

Texto: Francisco Guerreiro

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