Documento
Crónica de Francisco Guerreiro

Repensar a aquicultura - Capítulo I

Qua, 01/02/2023 - 07:45

Na última semana organizei no Parlamento Europeu um evento sobre a urgência de repensar o sector da aquicultura. Porquê? Porque os seus impactos negativos no ambiente, no tecido social e na economia são, largamente, desconhecidos.

Na última semana organizei no Parlamento Europeu um evento sobre a urgência de repensar o sector da aquicultura. Porquê? Porque os seus impactos negativos no ambiente, no tecido social e na economia são, largamente, desconhecidos.

Considerando que a Comissão Europeia está a rever toda a legislação de bem-estar animal para consumo humano, subentenda-se produção, captura, transporte e abate, foi imperativo ter no evento representantes da mesma para nos actualizarem sobre a melhoria dos regulamentos e directivas sobretudo relativamente a animais aquáticos (que são geralmente desconsiderados). Também tivemos a apresentação do relatório “Repensar a Aquicultura”, da Compassion in World Farming sobre o estado actual do sector da aquicultura na União Europeia e no Mundo. (SPOILER: o cenário é tenebroso, mas falarei disto no próximo artigo). De frisar que uma das apresentações, sem demérito das restantes, que mais me impressionou veio de um investigador Português. João Saraiva, líder do Grupo de Etologia e Bem-Estar dos Peixes do Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR) demonstrou cientificamente o que muitos já sabem, mas recusam incorporar nas suas indústrias e políticas. Que os animais marinhos, nomeadamente os peixes, são seres sencientes e capazes de experienciar dor. Tal facto é fundamental para, por exemplo no sector da aquicultura, se modernizar os sistemas de abate de modo a minimizar, mediante as especificidades de cada espécie, o seu sofrimento.

Pessoalmente sou contra a exploração destes “recursos”, sobretudo quando temos opções que não inferem a morte de animais sencientes, mas é imperativo pressionar a Comissão Europeia, tal como os Estados Membros (numa fase mais adiantada das negociações do pacote legislativo de revisão de bem-estar animal) a implementar medidas em todos os sectores que usam animais para consumo humano garantindo assim o mínimo sofrimento possível a estes seres. Isto incluí, naturalmente, o sector das pescas e da aquicultura.

Texto: Francisco Guerreiro 

Siga a Nova Gente no Instagram