A União Europeia (UE) está num período de transição social, económica e, diria mesmo, pelos actuais acontecimentos climáticos e geopolíticos na Ucrânia, civilizacional. Portugal não é excepção. E, nesse sentido, o maior partido da oposição deve construir uma alternativa construtiva, de modo a apresentar aos portugueses uma solução dentro do quadro da social-democracia europeísta que projecte a economia para o século XXI, mas também que garanta que os novos desafios ligados ao clima, ao mercado de trabalho, à reindustrialização, à digitalização, à coesão territorial, à saúde, à habitação, aos direitos sociais e dos animais sejam efectivamente incorporados nesta visão de longo prazo.
Parece óbvio que as “soluções” do passado são políticas falhadas, e por tal, ao ler o artigo de um dos candidatos à liderança do PSD, Luís Montenegro, “A guerra da alimentação e a abolição do IAC”, surpreendeu-me não só um discurso muito conectado com a extrema-direita, quando fala em colocar em pausa o Pacto Ecológico Europeu e a Estratégia Europeia do Prado ao Prato, como a falta de conhecimento e de enquadramento do tema da soberania e segurança alimentar.
Por exemplo, não é falado que 62% dos cereais que produzimos na UE são para rações de animais, que 12% são para a indústria e biocombustíveis, e que apenas 28% se destinam ao consumo humano. Também omite que cerca de 1/3 dos nossos alimentos é desperdiçado em toda a cadeia alimentar. Importa, ainda, frisar que a agricultura industrializada na UE é um dos maiores contribuidores para a perda de biodiversidade. E qual a solução? Segundo o mesmo, continuar a consumir desmesuradamente, produzindo mais, e parar com os nossos compromissos climáticos e de preservação da biodiversidade.
Se é com este tipo de propostas que uma nova direcção do PSD se apresenta aos portugueses, então não creio que tenha a capacidade de ser inovadora e verdadeiramente liderar no combate das nossas vidas. O da transição social, económica e climática.
Texto: Francisco Guerreiro, Eurodeputado
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