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Crónica de Francisco Guerreiro

Plano de Recuperação e Resi... qualquer coisa

Seg, 15/03/2021 - 18:00

A pandemia alertou-nos para a impossibilidade da manutenção do sistema económico e social baseado num modelo de produção, distribuição e consumo, de bens e serviços, assente no crescimento infinito.

A pandemia alertou-nos para a impossibilidade da manutenção do sistema económico e social baseado num modelo de produção, distribuição e consumo, de bens e serviços, assente no crescimento infinito. A própria COVID-19, tal como outras pandemias, é um sintoma deste sistema disfuncional que destrói o que nos sustém. A biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas.

E o pensamento e acção subjacentes a este Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é o que impera na classe política governante ou aspirante a governar. Uma cegueira que mantém a gestão da nossa sociedade dependente de indústrias altamente poluentes e de um consumo exacerbado, em claro contraste com a urgência de descarbonizarmos a economia e garantirmos mais e melhor justiça social.

Após consultá-lo, é óbvio que este, maioritariamente, serve para concretizar projetos já em marcha pelo Governo (e assim poupar despesa nos próximos Orçamentos do Estado, na tentativa de melhorar o défice) e pouco para garantir a independência de pessoas e famílias, muito menos de tornar realmente competitivo o nosso tecido empresarial. Esta manta de retalhos esquece-se também de áreas fundamentais, como a cultura, pois para quê estimular os portugueses a imaginar outro sistema social e económico?

Não sabemos que métricas foram usadas para calcular as prioridades nele inseridas, não temos modo de o monitorizar de forma aberta e transparente e, no fundo, não sabemos, para além da retórica política, quais os impactos dos objetivos, cientificamente mesuráveis, que devemos esperar depois do pilim da Europa se esbanjar.

Curiosamente, e não aprendendo nada com a história recente das pandemias e da nossa separação de medidas fundamentais de protecção da biodiversidade e de implementação de melhores medidas de bem-estar animal, o PRR não tem uma única menção a animais.

É assim que vamos sendo (des)governados.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

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