Acaba por ser bastante frustrante quando o presente nos dá razão e, pelos piores motivos, do que há décadas andamos a alertar. Que a ecologia não está separada da economia, dos Direitos Humanos, de uma sociedade mais equitativa e justa. Muito pelo contrário.
A invasão da Ucrânia por parte da Federação Russa, mais precisamente por Putin e os seus acólitos oligarcas, demonstra isso mesmo, que os alertas que os Verdes Europeus têm feito ao longo dos anos, no que concerne o perigo da União Europeia estar dependente energeticamente de países terceiros, nomeadamente de regimes ditatoriais, não só seria prejudicial para as fundações democráticas do principado do Direito nacional, europeu e internacional, como uma bomba relógio no que concerne o combate às alterações climáticas. Esta subjugação dos interesses dos europeus (e de todas as sociedades democráticas) ao poder geopolítico de quem exporta matérias primas tão importantes como gás, petróleo, minerais, trigo, entre outros bens, faz com que a descarbonização na União Europeia (UE) seja agora mais difícil.
Com isto não afirmo que seja impossível ou mesmo indesejável libertar-nos do julgo desta dependência. Muito pelo contrário. Devemos ser honestos e afirmar que para tal, e de modo célere, precisamos de tomar medidas nacionais e europeias para transitar rapidamente para energias 100% limpas e renováveis, tal como melhorar a eficiência energética, diminuir o consumo em várias áreas e criar um verdadeiro mercado único energético na UE, com melhores interconecções entre países (energia e transportes colectivos).
Este plano, multidisciplinar e multissectorial, esta visão de curto, médio e longo prazo, tem sido uma das batalhas de décadas dos Verdes Europeus e hoje, infelizmente, verifica-se que estávamos certos. Cabe-nos agora ter a coragem política, sobretudo a nível nacional e europeu, para efectivar esta mudança de 180º na nossa política energética, habitacional, fiscal, económica, agrícola, comercial, de mobilidade e social. E, como se diz na gíria, “Ontem já era tarde!”
Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado
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