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Crónica de Francisco Guerreiro

O regresso do sonho americano?

Qui, 12/11/2020 - 15:57

A vice­‑presidente é a figura central da história. E porquê? Porque ela representa um passo histórico para esta democracia. Finalmente, existe uma mulher negra, descendente de imigrantes (indianos), com real poder e projecção dentro da instituição norte-americana.

A América escolheu, Joe Biden foi eleito presidente dos Estados Unidos (EUA) e Kamala Harris, vice­‑presidente. Agora é tempo de unificar um país destroçado pelo egoísmo narcisista de Donald Trump e de fortalecer os laços transatlânticos com a Europa e com as restantes democracias liberais.

No meio de uma pandemia que ceifou a vida de mais de 240 mil norte-americanos, de uma crise climática e de uma crise económica e financeira global, que empurra milhões para a pobreza, o povo decidiu mudar de rumo e compareceu em força nas urnas. Que lição!

Será de fundamental importância os EUA voltarem a ratificar o Acordo de Paris e fazerem da próxima Cimeira do Clima um encontro de vínculos legais, com metas concretas e caminhos bem definidos. Sem a liderança dos EUA e da Europa, não conseguiremos travar o escalar das temperaturas médias globais.

Trump continua sem reconhecer a derrota e ameaça com uma longa batalha nos tribunais, mas, não havendo nada que indique irregularidades no processo eleitoral, será certo que os EUA terão um novo presidente e vice­‑presidente, tal como um novo papel geopolítico no Mundo.

Para mim, a vice­‑presidente é a figura central da história. E porquê? Porque ela representa um passo histórico para esta democracia. Finalmente, existe uma mulher negra, descendente de imigrantes (indianos), com real poder e projecção dentro da instituição norte-americana. Ela, que já disse ser “a primeira mulher a ocupar o lugar, mas [que] não será a última”, abrirá a porta a mais mulheres e a uma maior sensibilidade a outras causas tendencialmente colocadas de lado pelo género masculino. Se há altura em que precisamos de líderes progressistas, este é o momento.

Depois da eleição, há várias questões que merecem ser analisadas:

  1. Os republicanos terão de escolher quem liderará o seu colectivo político. Manter o irascível e narcisista Donald Trump ou promover uma liderança centrada num progressismo (moderado), longe dos dogmas religiosos e mais próximos da comunidade científica?
  2. Apesar de os democratas terem ganhado a presidência, a sua prestação para o Congresso e para o Senado, até agora, não surpreendeu. É preciso analisar como se fará o aumento de representantes.
  3. Parece­‑me evidente a urgência de o Partido Democrata trabalhar com a comunidade do mundo rural e mostrar que sem eles, nomeadamente do sector agrícola, não será possível transitar para um modelo descarbonizado de economia.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

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