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Crónica de Francisco Guerreiro

O nuclear e a escassez de água

Qua, 20/07/2022 - 13:35

Recentemente, como já escrevi, o Parlamento Europeu votou a favor (pese embora eu tenha votado contra) que a energia nuclear e o gás fossem considerados energias de transição verdes.

Recentemente, como já escrevi, o Parlamento Europeu votou a favor (pese embora eu tenha votado contra) que a energia nuclear e o gás fossem considerados energias de transição verdes. Assim, com esta posição, cabe agora ao Conselho, onde os chefes dos estados-membros se reúnem, decidir que posição tomam relativamente a esta proposta de taxonomia (dita) verde.

Este foi o resultado do lóbi industrial do nuclear, mas também da presidência francesa, que garantiu que pintássemos o nuclear de verde, determinando assim a possibilidade de se injectar, através de isenções e benefícios fiscais, milhares de milhões de euros nesta indústria poluente.

Mas o que vemos é que existem outros problemas que adicionam à equação da tão urgente transição energética na Europa e que não se limitam a dizer que o nuclear é fundamental ao mix energético europeu e essencial para reduzir as emissões.

Isto porque, com o nuclear, continuamos dependentes da importação de minérios para esta indústria, desconsideramos o problema dos resíduos nucleares para as gerações futuras, colocamos estas unidades industriais como potenciais alvos militares e, mais insidioso, podemos estar efectivamente a agravar a crise energética e climática europeia.

Com o aumento do impacto das alterações climáticas nos ciclos de água, e a consequente falta deste recurso em muitos rios e bacias hidrográficas, as centrais nucleares francesas tiveram de reduzir a sua produção energética, ou mesmo encerrar temporariamente.

Deste modo, a França, que é dependente de cerca de 70% desta energia no seu mix energético, tem de elevar os preços finais e ficar, ironicamente, ainda mais dependente de outras energias. Se adicionarmos a paragem de várias unidades devido à necessidade de manutenção e a guerra na Ucrânia, que pressiona cada vez mais os preços da energia, podemos verificar que o nuclear já é um factor negativo na transição energética na Europa.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

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