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Crónica de Francisco Guerreiro

O fim do emprego humano nos transportes

Qui, 16/09/2021 - 15:09

O emprego, tal como o concebemos, terminou! E por mais que a maioria das forças políticas se esforcem para manter o paradigma do pleno emprego ou do rendimento baseado no emprego, este nunca mais voltará. Sobretudo, por dois grandes factos.

O emprego, tal como o concebemos, terminou! E por mais que a maioria das forças políticas se esforcem para manter o paradigma do pleno emprego ou do rendimento baseado no emprego, este nunca mais voltará. Sobretudo, por dois grandes factos.

O primeiro assenta num modelo económico obsoleto, que continua a criar inúmeros bens e serviços que nada acrescentam à nossa vida diária e que é alimentado por uma máquina de marketing e publicidade, mas que já provou estar a destruir os ecossistemas que nos permitem manter a vida na Terra.

Depois, vem o crescimento exponencial da automatização, robotização e da inteligência artificial no nosso dia-a-dia. Este facto, não muito discutido, já está a criar mais desemprego do que oportunidades reais de emprego.

Por exemplo, na União Europeia (dados de 2019) existem 11,9 milhões de pessoas a trabalhar no sector dos transportes. Isto equivale a 6% de todos os cidadãos empregados no espaço europeu. Se concebermos que 84% são do género masculino e que 36% têm mais de 50 anos, prevemos o problema que advirá com a automatização de transportes de mercadorias, do transporte de passageiros, sejam eles individuais ou colectivos, entre outros que estão directamente envolvidos no trabalho humano neste sector.

E sem este sector, que tendencialmente terá menos custos em automatizar e que garantirá mais eficiência sem a componente humana, o que iremos fazer com estes milhões de pessoas? Reforma antecipada? Requalificação laboral? Subsídios de desemprego? Todas estas opções?

Precisamos de conceber que o pleno emprego é uma doutrina económica ultrapassada e que existem mais possibilidades para que as pessoas tenham rendimentos que lhes permitam viver condignamente na procura da sua felicidade, na prossecução de outras oportunidades laborais e que lhes proporcionem efectivamente mais liberdade. É fundamental começarmos a debater a implementação de um Rendimento Básico Incondicional para todos.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

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