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Crónica de Francisco Guerreiro

O ambiente como motor de relançamento da (nova) economia

Qui, 19/11/2020 - 10:00

Não nos esqueçamos que o início desta pandemia, tal como a sua propagação, se deve ao modo irracional como produzimos, distribuímos e consumimos globalmente.

Infelizmente, 2020 tem sido um ano muito pesado para todos nós, não só como indivíduos, mas também como famílias, empresas e Estado. As profundas dificuldades que temos sentido, e que nos últimos anos pareciam minimizar-se, agravaram-se com o impacto da COVID-19 não só nos orçamentos familiares, como nas tesourarias do tecido empresarial e das finanças públicas. Mas não nos esqueçamos que o início desta pandemia, tal como a sua propagação, se deve ao modo irracional como produzimos, distribuímos e consumimos globalmente.

O actual modelo de superprodução que desconsidera os limites ecológicos, secundariza o bem-estar dos animais de pecuária e pressiona os animais selvagens, tal como externaliza grande parte dos impactos ecológicos e sociais do nosso modelo de distribuição e consumo, criou as condições perfeitas para o aparecimento e a disseminação desta pandemia. 

E, enquanto muitos países se esforçam para garantir o mínimo impacto desta segunda vaga, não só nos sistemas de saúde, como na sustentabilidade da Segurança Social e na economia real, é fundamental não esquecer que o impacto das alterações climáticas e da destruição acelerada da biodiversidade continuam a um ritmo galopante.

Assim, Portugal deve adoptar medidas audazes no sector energético, habitacional, agrícola, de transportes, seja na componente individual, familiar ou empresarial, para transitar para uma economia 100% descarbonizada, que reduza ao máximo o uso de combustíveis fósseis. Há que fomentar o emprego verde, a independência energética e alimentar, tal como garantir a prevenção de novas pandemias, alterando o nosso modo de consumo e de gestão de recursos, consumindo menos bens e mais produtos locais/regionais. Porém, pelo decorrer das negociações do Orçamento do Estado para 2021, parece que este será mais um exercício que vem remediar o buraco provocado pela pandemia e não um plano de transformação para um novo modelo económico e social onde as pessoas e o ambiente floresçam em pleno.

Texto: Francisco Guerreiro, Eurodeputado

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