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Crónica de Francisco Guerreiro

Morrer sem trabalho ou por excesso dele?

Qua, 02/12/2020 - 13:01

Karoshi, que pode ser traduzido do japonês como “a morte por excesso de trabalho”, é um conceito que vigora cada vez mais nos nossos dias. Cada vez mais pessoas têm esgotamentos e depressões decorrentes do trabalho excessivo.

Um dos paradoxos dos nossos dias é trabalhar sem tempo para viver ou tentar sobreviver sem trabalho. O relatório da Comissão Europeia, sobre os impactos da COVID-19 no mercado de trabalho, indica que o desemprego aumentou, em particular entre os jovens, entre março e setembro, e cerca de 5,4 milhões estão desempregados, procuram emprego ou estão simplesmente fora do mercado de trabalho. De acordo com o Instituto de Emprego e Formação Profissional, só em outubro o número de desempregados inscritos no centro de emprego subiu 34,5% e nos jovens 46,2%, relativamente ao ano transacto. Entre a precariedade e o desemprego são muitas as pessoas que se encontram em risco de pobreza.

Karoshi, que pode ser traduzido do japonês como “a morte por excesso de trabalho”, é um conceito que vigora cada vez mais nos nossos dias. Cada vez mais pessoas têm esgotamentos e depressões decorrentes do trabalho excessivo. 

A possibilidade de fazer terapia devido a chefias tóxicas, o respeito pelo horário de trabalho e o cumprimento do direito à desconexão laboral não estão ao alcance de todos. Entre o tempo das deslocações, o horário, as horas extras do “tem que ser” e os fins de semana de trabalho, onde fica a vida? Com as crianças a passarem 10 ou 12 horas nas creches e nas escolas que tempo sobra para estar em família?

Numa época em que tanta gente está sem trabalho, outros tantos morrem por excesso de trabalho. Paradoxal, não? Se os horários fossem menores, mais pessoas teriam emprego e vida. Os dados disponíveis mostram que a produtividade aumenta com menos horas de trabalho. E, sendo que a maioria dos empregos vai ser substituída por robotização e inteligência artificial até 2050, porque insistimos nesta demência?

O tempo é agora: pela redução dos horários de trabalho e pela implementação de um Rendimento Básico Incondicional!

Texto: Francisco Guerreiro, Eurodeputado

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