Nacional
Crónica de Francisco Guerreiro

A mordaça em torno de Hong Kong

Qua, 17/03/2021 - 14:40

Hong Kong é um regime totalitário comunista e Portugal tem cerca de 17 acordos bilaterais com a China. Vários setores estão no controle de capitais chinesas.

O mundo globalizado faz com que tenhamos de estar atentos ao que se passa em inúmeros territórios e países, mas actualmente há uma região que merece especial atenção, não só pelo que simboliza, em termos de estrangulamento das liberdades democráticas, de imprensa e de livre organização política, como pelos seus impactos geopolíticos em Portugal e na União Europeia (UE).

Falo de Hong Kong. Este território consagra-se como uma Região Administrativa Especial Chinesa, depois de deixar de ser uma colónia britânica a 1 de julho de 1997, e é gerida sob a fórmula “um país, dois sistemas”.

Porém, como é característico de um regime totalitário comunista, vários passos legislativos e políticos têm sido dados para destruir a liberdade política e cívica em Hong Kong, depois de o Partido Comunista ter passado, em junho de 2020, uma “lei de segurança nacional” que reforçava os poderes centrais sobre a região e garantia que qualquer dissidência fosse esmagada pelo poder judicial (e policial). Esta semana, sem espanto, é aprovada outra lei, pelo Comité Central, com apenas uma abstenção (o dissidente já deve ir a caminho de um campo de trabalhos forçados), que veta candidatos em Hong Kong não leais ao regime. Esta acção enfraquece ainda mais as liberdades democráticas do território ao instituir uma comissão que vai analisar o “patriotismo” dos candidatos.

E porque é que isto é importante? Porque actualmente Portugal tem cerca de 17 acordos bilaterais com a China (dezembro de 2018) e vários sectores chave no controle, ou na influência directa, de capitais chineses e porque a nível europeu estamos perto de fechar um Acordo de Investimento com a China (CAI) desconsiderando direitos humanos e os nossos próprios valores democráticos.

Talvez agora se perceba porque é que o PS está tão preso ao Partido Comunista Português e porque é que durante esta presidência do Conselho da União Europeia uma das prioridades seja fechar o CAI.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

Siga a Nova Gente no Instagram