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Crónica de Francisco Guerreiro

Emissões impossíveis: o peso do metano na pecuária

Qua, 23/11/2022 - 11:05

Recentemente foi lançado o relatório “Emissões Impossíveis: Edição sobre o Metano”

Recentemente foi lançado o relatório “Emissões Impossíveis: Edição sobre o Metano” que reportou que 5 das maiores corporações de carne (e.g. JBS, Marfrig, Tyson) e as 10 de leite (e.g. Danone, Nestlé) são responsáveis pela emissão de 12.8 milhões de toneladas de metano por ano o que equivale, em comparação, a 83% das emissões deste gás (sector agrícola, de resíduos e dos combustíveis fósseis) de toda a União Europeia (UE).

Este valor é tão grande que suplanta as emissões de metano da Federação Russa, Austrália, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido, Espanha e Japão. Para perceber a dimensão os EUA e a UE são actualmente os maiores emissores de metano do mundo, mas este, no cálculo global, não é composto apenas por emissões da pecuária sendo também do sector de resíduos e dos combustíveis fósseis. Este estudo veio categorizar o impacto gigantesco, e muito pouco debatido, da emissão de gás apenas sob o foco das indústrias pecuárias.

Mas porque é que devemos estar alarmados? Porque apesar de ter uma permanência mais reduzida na atmosfera o metano é 80 vezes mais poluente que o dióxido de carbono (CO2) e já se encontra duas vezes e meia acima dos valores pré-industriais (1850). E se continuarmos neste ritmo produtivo em 2030 a percentagem será de mais 30% na atmosfera. Para mantermos a temperatura abaixo dos 1.5º precisamos de cortar com as emissões de metano em 45% nos próximos 8 anos.

Em paralelo, na COP27, este tema está a ser debatido, mas já sabemos que as soluções apresentadas pelos sectores de interesse são sempre de carácter voluntário e nunca considerando a diminuição da produção da quantidade de animais. Muito menos cortando com os elevados subsídios a esta indústria, nem mesmo promovendo consumos de proteínas alternativas como as vegetais.

É preciso coragem para transformar este sistema agroalimentar. É possível, mas passa por cada um de nós, no acto de compra e do voto, garantir que faz a escolha em prol do futuro das restantes gerações.

Texto: Francisco Guerreiro 

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