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Crónica de Francisco Guerreiro

A economia Donut

Ter, 18/05/2021 - 15:13

Os telejornais e os especialistas económicos debitam análises baseadas meramente no PIB (Produto Interno Bruto) e têm uma visão meramente quantitativa (e redutora) da sociedade.

Admito que estou cansado de ver os telejornais e os especialistas económicos a debitarem análises baseadas meramente no PIB (Produto Interno Bruto) e alicerçados numa visão meramente quantitativa (e redutora) da sociedade.

Na cidade de Amesterdão, na Holanda, e derivado do impacto da crise pandémica, os responsáveis autárquicos anunciaram que iriam começar a implementar na sua dinâmica autárquica a teoria da Economia Donut. Esta teoria, vertida em livro em 2017, pela economista Kate Raworth, denuncia, e bem, que o modelo e o pensamento económico vigente não está adaptado às exigências do século XXI. Aliás, tem sido um forte precursor das crises que actualmente assistimos, sejam elas de cariz económico, social ou mesmo ecológico.

Assim, esta teoria afirma que devemos ter mecanismos mais complexos de análise da sociedade, nomeadamente com mais dados qualitativos, e que as políticas públicas devem almejar um intermédio entre a total satisfação das necessidades básicas humanas e os limites ecológicos. Essa zona é a zona do Donut que devemos almejar.

Como modo de perceber este pensamento vejamos as sociedades ditas mais desenvolvidas, que têm grande parte das necessidades básicas asseguradas, mas continuam a operar num modelo linear de economia indo contra os limites ecológicos. E, por outro, as economias em desenvolvimento, que têm uma pegada ecológica reduzida, mas que continuam suplantadas pela falta de garantias básicas de existência. Este pensamento não infere que devamos ter menor qualidade nas sociedades ocidentais, mas que devemos gerir melhor os recursos para garantir que não colocamos nenhum destes dois objectivos em risco. Vivermos condignamente, mas não ultrapassarmos a capacidade regenerativa ecológica.

Nestas autárquicas vejamos se existirão candidaturas a promover esta teoria de desenvolvimento, pois precisamos de actualizar o modo como vivemos nas nossas comunidades.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

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