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Crónica de Francisco Guerreiro

A ecologia em segundo plano?

Qua, 11/05/2022 - 12:56

Os eventos decorrentes da pandemia da COVID-19, tal como da invasão da Ucrânia, fizeram mudar o tom em torno das prioridades ambientais em muitos países e, nalguma medida, nas instituições europeias.

 

Os eventos decorrentes da pandemia da COVID-19, tal como da invasão da Ucrânia, fizeram mudar o tom em torno das prioridades ambientais em muitos países e, nalguma medida, nas instituições europeias.

Isto porque ainda impera a ideia de que a economia tradicional, concebida e baseada no crescimento quantitativo, é a melhor métrica para aferir o desenvolvimento de nações e das suas comunidades. Mas aqui reside um dos maiores erros, diria mesmo tragédias, da dita ciência económica. Que esta obsessão pelo crescimento e produção de bens e serviços é um dos grandes contribuidores para a instabilidade geopolítica internacional e, claramente, o maior contribuidor para o aquecimento do nosso planeta.

Por isso é que em momentos que se contrai a produção, distribuição e consumo de bens e serviços, como durante a pandemia, tenhamos visto um decréscimo dos PIB e das estimativas de crescimento, mas, contrariamente, houve uma melhoria nos valores da qualidade do ar, da preservação e regeneração da biodiversidade (havendo inclusive um decréscimo acentuado das emissões de gases com efeito de estufa). Agora, com a invasão da Ucrânia por parte da Federação Russa, e com a instabilidade nos sectores energéticos, de matérias-primas e mesmo alimentares, vemos a economia tradicional voltar à ordem do dia. Mais uma vez, desconsiderando que todos os períodos e crises estão interligados, com a nossa total incompreensão em como construir uma economia que seja o mais independente e resiliente possível, considerando os limites ecológicos nacionais e internacionais.

Enquanto o movimento ecológico político não compreender que tem de apresentar e comunicar melhor as suas soluções para temas como a habitação, a mobilidade, o emprego, o poder de compra, a segurança, a resiliência e a soberania alimentar e energética, sem comprometer o real desenvolvimento da espécie humana, dificilmente será levado a sério e os economistas do costume, cegos pelo crescimento, irão ditar as prioridades políticas de todos.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

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