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Crónica de Francisco Guerreiro

Disrupção na cadeia mundial de distribuição?

Qua, 06/04/2022 - 17:38

Muito do trabalho parlamentar que tenho, nomeadamente nas comissões de Agricultura, de Pescas e do Mercado Interno, aborda a importância da cadeia de distribuição.

Muito do trabalho parlamentar que tenho, nomeadamente nas comissões de Agricultura, de Pescas e do Mercado Interno, aborda a importância da cadeia de distribuição. Esta engrenagem, que tem sido montada ao longo de milhares de anos, é, actualmente, extremamente global, tal como crescentemente digital.

Mas como temos visto pelo impacto económico e social da pandemia, sobretudo em países mais vulneráveis, e pelas ramificações devastadoras da guerra na Ucrânia, verificamos que este sistema de distribuição é frágil. Demasiado frágil.

A disrupção de rotas comerciais com o fecho de determinados espaços aéreos ou marítimos, a escassez de matérias-primas, a deslocalização de recursos económicos, materiais e humanos para colmatar migrações massivas de cidadãos, a desregulamentação dos sectores primário, secundário e terciário que empurra para a “mão do mercado” a ordem social vigente, tal como a maior dificuldade em aumentar a produtividade sem colocar em causa direitos humanos e a preservação da biodiversidade, por exemplo, toca num tema pouco debatido entre nós. Que tipo de globalização desejamos e quais os seus reais impactos.

O distanciamento a quem produz o que consumimos, a crescente automatização de toda esta cadeia, deixando sob stress, exaustão ou mesmo no desemprego milhares de pessoas, tal como os impactos ecológicos de consumir tudo a toda a hora, deve colocar em questão este paradigma de produção, distribuição e consumo.

Por isso é que nunca fez tanto sentido falar da transição para uma economia descarbonizada, com a incorporação de todos os custos sociais e ecológicos, onde as pessoas, empresas e comunidades são mais resilientes, produzindo mais localmente a sua comida e a sua energia, de modo regenerativo, onde o consumo não é a única métrica de desenvolvimento e, por fim, onde a educação para a cidadania e cooperação se torna o centro do relacionamento entre todos, deixando de parte a falsa ideologia da competição e do crescimento infinito.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

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